Dúvidas e preocupações. São estes os dois principais fatores que podem povoar a mente de pessoas que, diante de problemas de saúde como hipertensão e diabetes, tomam a resolução de praticar uma atividade física, para contra-atacar essas doenças.
?Posso ir a uma academia? Que tipo de atividades posso praticar? Estarei correndo riscos??. Essas são apenas algumas das perguntas que atingem grande parte dos hipertensos ? que são 22,7% da população brasileira (segundo dados do Ministério da Saúde), e dos mais de 12 milhões (IBGE) de diabéticos do país.
Há quem acredite, por exemplo, que hipertensos não podem praticar nenhum exercício ? o que não passa de lenda.
Para começar a debulhar esses mitos, o educador físico Márcio Lacerda explica alguns pontos fundamentais para começar a entender o papel da atividade física no contexto de quem sofre com hipertensão arterial e também dos que convivem com o diabetes.
?No caso dos diabéticos, o primeiro passo é consultar um médico, de preferência um endocrinologista, que vai indicar os exames necessários para identificar o tipo de diabetes ? se do Tipo 1 ou do Tipo 2.
Depois do diagnóstico, o médico vai orientar o paciente para que faça uma dieta, com o auxílio de um nutricionista. Somente após isso, é que a pessoa chega ao educador físico?, orienta Lacerda.
Se a pessoa tiver diabetes insulinodependente, o nível da atividade física deve ser adaptado para essa condição.
Uma pessoa diabética e que toma medicamentos não pode exagerar nos esforços durante os exercícios, pois durante a atividade, os níveis de glicose sanguínea são degradados rapidamente. O professor tem que levar isso em consideração na hora de orientar os exercícios para um diabético.
Por exemplo: não é recomendado passar 30 minutos só de esteira para uma pessoa com diabetes, pois ela não produz glicose suficiente para suportar a atividade física por um período mais prolongado?.
?É comprovado cientificamente que, tanto pessoas com diabetes do Tipo 1 quanto do Tipo 2 podem praticar atividades físicas normalmente por 45 minutos diários. No entanto, vale lembrar que os exercícios devem ser feitos de forma moderada, com atividades de baixa duração e baixo impacto. O importante é praticá-las?.
Cardiologista orienta hipertensos
Atenção hipertensos: o Jornal Meio Norte conversou com o doutor em cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Júlio César A.
Ferreira Filho, e questionou, de forma rápida, sobre os passos que um hipertenso disposto a praticar atividade física precisa seguir, desde o consultório médico até a hora de suar a camisa.
PERGUNTA: Qual o tipo de orientação que costuma ser feita para pacientes hipertensos na hora de recomendar uma atividade física? Quais os exames que precisam ser pedidos de forma preliminar?
RESPOSTA: Inicialmente, fazemos uma anamnese com o intuito de sabermos um pouco mais do histórico do paciente; se o mesmo tem fatores de risco adicionais para doenças cardiovasculares como obesidade, sedentarismo prévio e histórico familiar.
P - Após a anamnese pedimos, inicialmente, como exames complementares: o eletrocardiograma, o teste ergométrico e os exames laboratoriais (colesterol, hemograma e função renal).
R - Depois de verificar que todos os exames mostraram-se normais, liberamos o paciente para atividade física. Essa atividade deve ser feita idealmente sob os cuidados e orientações de um educador físico, numa frequência mínima de 3x/semana com duração aproximada de 30 minutos. A atividade física idealmente deve ser de muita resistência e pouco impacto, pelo menos no início para que o organismo comece a se habituar à nova situação.
P - Pacientes hipertensos e diabéticos estão procurando fazer mais atividades que beneficiem o corpo ou ainda estão um tanto quanto descuidados quanto a isso?
R - Atualmente, o número de pacientes que nos procuram com o intuito de realizar um ?check-up? para a atividade física é cada vez maior; e isso está ocorrendo em todas as idades.
P - Existem mitos e informações errôneas que acabam afastando hipertensos e diabéticos de uma vida mais saudável através do esporte e do movimento?
R - Existem, sim; um deles é o que diz que hipertensos não podem fazer determinados exercícios - fato totalmente errado. O hipertenso bem orientado pode fazer qualquer atividade física, semelhante a uma pessoa sem hipertensão.
P - Caso haja, cite algum caso que você conheça em que houve uma melhora significativa do quadro de hipertensão mediante a prática sistemática de exercícios físicos.
R - Não tenho só um, mas vários casos de pacientes hipertensos que após iniciarem atividades físicas regulares, regularizaram sua pressão a ponto de não haver mais a necessidade de usar medicações anti-hipertensivas; acarretando na suspensão da mesma.
Exercícios podem ajudar a diminuir dosagem de remédios
O caso dos hipertensos é análogo ao dos diabéticos. ?Em relação a esses pacientes, há diversas pesquisas que mostram que, em sua grande maioria, eles são sedentários. Ou seja, a falta de atividade física é um dos principais fatores que causam o problema de pressão alta?, salienta o educador.
Ele complementa: ?No caso de pessoas com hipertensão, o mais indicado é praticar exercícios físicos de baixo impacto e de longa duração: 45 minutos de uma caminhada, ou de uma bicicleta ergométrica, ou ainda de uma natação, por exemplo, são suficientes para controlar a hipertensão sem tomar remédios, desde que sejam feitas de forma regular, e associadas com outros hábitos saudáveis?.
Além disso, recomenda-se adotar intervalos um pouco maiores entre um exercício e outro, evitando elevações acentuadas da pressão arterial.
Ainda de acordo com o educador, os exercícios fazem com que seja possível até mesmo diminuir a dosagem do remédio contra hipertensão.
?Há pessoas que, além de praticar a atividade física em si, também precisam tomar os medicamentos para controlar a pressão arterial. Com o tempo, os exercícios podem fazer com que as dosagens de medicamentos sejam diminuídas.
Tudo isso porque a atividade física faz com que a pessoa tenha um lastro fisiológico que possibilita a obtenção de resultados significativos?, finalizou Lacerda.
E há os que procuram se mexer antes mesmo de as doenças aparecerem, como forma de prevenção. É o caso de Vanessa Gracielle Rodrigues, de 19 anos.
Ela, que sofre de amiotrofia espinhal e é cadeirante. Ela procurou cuidados médicos na semana passada, buscando prevenir problemas como diabetes e hipertensão. ?Tenho histórico familiar.
Várias pessoas da minha família já sofrem com esses problemas, então estou buscando fazer algo logo. Espero iniciar uma atividade física como natação, por exemplo.
E desta vez com regularidade, pois já pratiquei antes, mas sem seguir muito bem uma rotina?, disse ela, que também precisa controlar o peso.(D.L.)