O medo loteou as ruas da zona sul do Rio de Janeiro. Com ele, multiplicaram-se empresas de seguran?a de rua, com funcion?rios sem carteira assinada, mas com um colete preto e a palavra apoio nas costas.
A principal recomenda??o ? espantar mendigos das ruas, evitar flanelinhas e dar uma sensa??o de seguran?a ao morador que entra ou sai de seu pr?dio. Ningu?m - nem a pol?cia - tem hoje a estimativa de quantos vigias trabalham durante as 24 horas do dia em ruas pacatas e residenciais da regi?o. Mas n?o s?o poucos.
S? na rua Redentor, em Ipanema, uma das primeiras a recorrer a esse servi?o, s?o oito grupos de seguran?as que dividem o pequeno espa?o de quatro esquinas e perto de uma centena de pr?dios. A maior parte dos moradores aprova.
A Redentor ? um microcosmo da seguran?a privada de rua na zona sul e um exemplo de como a classe m?dia procurou pagar pela seguran?a que, na opini?o dela, o Estado n?o garante. Com a cumplicidade dos moradores e a complac?ncia da pol?cia, cada pr?dio paga, em m?dia, um sal?rio m?nimo pela sensa??o de seguran?a. S?o R$ 380 divididos entre os apartamentos. A cada fam?lia, a vigil?ncia adicional custa aproximadamente R$ 60. Uma casa chega a pagar R$ 230.
A Redentor come?a na esquina da rua Joana Ang?lica. At? o cruzamento com a rua Maria Quit?ria, s?o tr?s empresas diferentes de seguran?a de rua, sem contar os vigilantes contratados por uma loja de m?veis, um sal?o de cabeleireiros de luxo e uma outra loja de cortinas e persianas. Um primeiro grupo fica respons?vel pelo come?o da rua at? o pr?dio de n?mero 26. Recebe pagamento de 12 pr?dios, seis deles residenciais.
Do edif?cio 29 ao 55, h? outra equipe de seguran?as particulares. Do 56 ? esquina da Maria Quit?ria, um terceiro grupo. O mesmo se repete em cada trecho da rua residencial. A vigil?ncia ? refor?ada pelos profissionais contratados por comerciantes, como um restaurante de luxo, na esquina com a An?bal de Mendon?a, e uma loja no cruzamento com a Garcia D"?vila. At? a Rua Henrique Dumont, j? perto do Leblon, n?o h? flanelinhas, n?o h? picha?es nos muros. Mas basta sair da Redentor para constatar onde os guardadores de carro agem impunemente.
"Parece ser um mal necess?rio", avalia um dos seguran?as particulares, que ensaia um sorriso no rosto de poucos amigos. Ali?s, a apar?ncia de mau ? um dos pr?-requisitos para um bom vigia de rua, segundo quem ? do ramo. Qualquer ladr?o pensaria duas vezes antes de agir, explicam.
"? um trabalho clandestino, n?o temos carteira assinada, mas ? seguro. O pagamento nunca atrasou", acrescenta outro seguran?a, de outra parte da mesma Redentor e que ganha R$ 600 - l?quido, como ele frisa. Na pr?tica, o sistema funciona como nas mil?cias dentro das favelas, s? que no asfalto.
A? est? um dos problemas, segundo Ignez Barretto, coordenadora do Projeto de Seguran?a de Ipanema e moradora do bairro. "Como tudo clandestino, pode-se perder o controle e estourar no nosso colo", lembra. "N?o sei se necessariamente me sinto mais segura. O papel de pol?cia e de controle p?blico tem que ser da pol?cia e n?o de empresas privadas. Ou corremos o risco de a pessoa que paga acabar se tornando ref?m desse servi?o".
A classe m?dia resolveu apelar para a seguran?a particular h? anos, principalmente para coibir furtos de r?dios nos carros e roubo de bicicletas. Mas o recurso nunca foi t?o difundido. Em Ipanema, por exemplo, ? comum nas ruas mais pr?ximas da Lagoa.
"Antigamente, t?nhamos diversos roubos de toca-fitas de carros. Depois parou", conta a produtora Isabel Cabral, 36 anos. "A gente se sente mais segura com eles aqui. S?o pessoas educadas, que procuram ajudar".
Cada seguran?a sabe exatamente quais pr?dios colaboram com o servi?o e quais n?o. Mesmo assim, tratam de olhar todo o trecho sob sua responsabilidade. "Depois que colocaram a seguran?a aqui, ficou bem melhor", diz Sandro Rodrigues, 34 anos, que costuma levar o afilhado Lucas, de pouco mais de 1 ano, para passear na Redentor. T