O corpo do cineasta Eduardo Coutinho, morto a facadas em seu apartamento no domingo, foi enterrado na tarde desta segunda-feira no cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio de Janeiro. O cortejo final foi acompanhado por cerca de 150 pessoas, entre elas vários artistas que trabalharam ou admiravam a obra do documentarista. Na hora do enterro, os aplausos duraram cerca de cinco minutos.
O ator Antônio Pitanga, em homenagem ao cineasta, gritava o nome "Eduardo Coutinho", enquanto os demais respondiam, prontamente: "presente". O também ator Wagner Moura disse que ficou sabendo da notícia da morte de Coutinho pela internet. ?Eu estou chocado, abalado. Nós perdemos um dos mais importantes cineastas de todos os tempos. Era uma pessoa muito amável, delicada, querida."
"Eu o encontrava sempre no Jardim Botânico, em um bar. Ele, com o cigarrinho dele, quem chegava sentava na mesa com ele. A última vez que o encontrei foi lá. Todo mundo esperava que ele fosse morrer por causa daquele cigarro, que ele nunca largava", disse Wagner.
O ator Lázaro Ramos também passou, rapidamente, pelo velório do cineasta para prestar sua homenagem. "Não conhecia os filhos, mas conhecia o Eduardo da convivência (no mundo do cinema). Foi uma tragédia, uma fatalidade. É a perda de um sábio", afirmou aos jornalistas no velório.
O ator João Miguel confessou ter ficado abalado com a notícia. "É uma pessoa que vai deixar saudades, mas também inspiração. Um homem como o Eduardo não foi só um documentarista. Ele era um dos melhores cineastas inventivos do Brasil", elogiou. Quem também passou pelo local para se despedir do cineasta foi a cantora Adriana Calcanhoto. "Conheci pouco, mas não tenho palavras, sou muito fã dele. Adorava tudo o que ele fazia. Ele fez cinema de um jeito só dele", afirmou.
Entenda o caso
O cineasta Eduardo Coutinho, 81 anos, considerado um dos principais documentaristas do Brasil, foi assassinado a facadas neste domingo, dentro de casa, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio Janeiro. A mulher do documentarista, Maria das Dores de Oliveira Coutinho, 62 anos, também foi ferida e encaminhada em estado grave para o hospital Miguel Couto.
O filho do documentarista, Daniel Coutinho, 41 anos, que tem esquizofrenia, confessou ser o autor do crime. Ele foi preso em flagrante pela polícia, e a Justiça decretou a prisão preventiva.
De acordo com o delegado e diretor da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, "o que aconteceu por volta das 11h é a expressão genuína da palavra tragédia. Filho atinge mortalmente seu pai a facadas o matando. Posteriormente a isso, se dirige à mãe e a atinge. Ela correu para um cômodo, provavelmente o banheiro, se trancou e acionou o outro filho pelo telefone", descreveu Barbosa.
O delegado ainda disse que Daniel, ensanguentado, bateu nas portas dos vizinhos e falou palavras desconexas: "libertei meu pai e tentei libertar minha mãe e eu. Tentando, me furei duas vezes e nada acontece". Depois, ele aguardou a chegada dos bombeiros no apartamento onde morava com os pais e abriu a porta voluntariamente.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, Maria foi esfaqueada duas vezes na região da mama, três no abdômen e sofreu também lesões no fígado. Ela foi operada e seu estado de saúde é grave. O filho do cineasta também foi encaminhado ao hospital Miguel Couto, com dois ferimentos provocados por faca na região abdominal. Ele foi operado e seu estado de saúde é considerado estável.
Coutinho era considerado um dos maiores documentaristas do Brasil. Entre outros filmes, ele é autor de Cabra Marcado para Morrer, Babilônia 2000, Jogo de Cena e Edifício Master. Entre as diversas premiações internacionais e nacionais que recebeu, o documentarista é vencedor do Kikito de Cristal, tido como a mais importante premiação do cinema nacional, pelo conjunto de sua obra.