A imagem de um “sacolé”, nome dado a uma espécie de picolé artesanal, viralizou nas redes no último dia 14 de janeiro. Um ambulante oferece o refresco em um esquenta de carnaval, prometendo uma experiência psicodélica. O saquinho de plástico vem com uma “bala”, nome dado ao MDMA, substância psicotrópica usada frequentemente como droga recreativa.
O MDMA é uma substância psicoestimulante que exerce seu efeito no sistema nervoso. A Delegacia de Repressão aos Entorpecentes iniciou uma investigação para apurar a alegada comercialização desse produto, conhecido como "sacolé com bala", durante os ensaios dos blocos de carnaval no Rio de Janeiro.
Especialistas alertam para os perigos associados ao uso dessa droga, especialmente quando combinada com as condições específicas do carnaval, tais como o calor intenso, o risco de desidratação e o consumo de bebidas alcoólicas. Essa combinação pode resultar em uma experiência potencialmente letal, aumentando o risco de AVC e infarto.
O uso desta droga com o álcool, desidratação, alimentação insuficiente e elevadas temperaturas podem intensificar seus efeitos. A aceleração cardíaca induzida pela droga, nessas circunstâncias, pode desencadear um infarto, transformando uma suposta aventura em uma situação que pode culminar em óbito.
Em entrevista ao G1, o médico Felix Bauab explicou o que acontece com o cerebro após o uso da droga.
O MDMA é uma droga psicoestimulante que age sobre o sistema nervoso autônomo – que é como se fosse o nosso “controle central”, regulando a pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura corporal.
Durante a ação da droga, o corpo aumenta a produção de adrenalina e noradrenalina, dois hormônios estimulantes. É a união dos dois que causa efeitos como aumento da energia, da autoconfiança e da capacidade de respostas.
Segundo o neurologista Felix Bauab, especialista em neurociência do hospital Sírio Libanês, a pessoa sob o efeito da droga sente como se tivesse “superpoderes”, o que pode ser arriscado.
“A pessoa fica destemida, com coragem de enfrentar riscos, e pode se colocar em situações perigosas. Só isso, em meio ao carnaval, já é um risco. Mas, como o corpo fica quando essa reação química acontece, é um risco aumentado em meio ao calor, aglomeração e desidratação", explica.
Os efeitos tornam-se intensificados, e as consequências podem ser potencialmente fatais. É crucial que as pessoas estejam cientes desses riscos antes de se exporem a essa situação.
Outra ramificação preocupante é a hiponatremia. Conforme indicado no Guia de Doenças e Sintomas do Hospital Albert Einstein, a hiponatremia é uma disfunção metabólica caracterizada pela reduzida concentração de sódio no sangue em relação ao volume de água no organismo.
Esse desequilíbrio ocorre devido à liberação não apenas de adrenalina e noradrenalina, mas também de ocitocina, o hormônio do amor. A ocitocina possui propriedades antidiuréticas, influenciando o equilíbrio entre água e sódio no corpo.
Quando a quantidade desses hormônios ultrapassa os níveis naturais, o corpo retém água, resultando em uma redução do nível de sódio no sangue e, consequentemente, provocando intoxicação por água.
Se uma pessoa estiver sob o sol, sob o efeito de drogas, em uma aglomeração e, ao sentir desconforto, ingerir água, o processo de intoxicação pode ser acelerado. Vale ressaltar que, devido à ilegalidade da droga, não há controle sobre a quantidade de substância, impossibilitando a avaliação do risco proporcional. Portanto, a recomendação é evitar o consumo, pois pode ser verdadeiramente letal.