O empresário Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da Boate Kiss, recebeu alta do Hospital Santa Lúcia, em Cruz Alta, a 130 quilômetros de Santa Maria, no fim da tarde desta terça-feira. De acordo com a Brigada Militar, ele deixou a instituição de saúde por volta das 19h20 e foi encaminhado para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), onde prestou depoimento.
Em seguida, Kiko foi levado a uma penitenciária da região. Ele estava internado no hospital desde o dia 27 de janeiro, quando um incêndio na casa noturna, localizada em Santa Maria, matou mais de 230 pessoas. O empresário estava no local no momento da tragédia e foi hospitalizado após inalar a fumaça tóxica.
O advogado de Kiko, Jader Marques, entrou com um pedido na Justiça para que seu cliente não fosse levado para a Penitenciária de Santa Maria, alegando que o empresário poderia sofrer represálias. Durante a tarde, o Ministério Público se manifestou contra a solicitação.
"Sua remoção para outra comarca demandaria tempo para seu transporte e realização das diligências necessárias (acareações, etc), o que é totalmente desnecessário", justificaram os promotores Joel Dutra e André Fernando Rigo. Segundo o MP, outros três acusados estão detidos no presídio do município "sem qualquer notícia de que estejam de alguma forma sob risco".
Incêndio na Boate Kiss
Um incêndio de grandes proporções deixou mais de 230 mortos na madrugada do dia 27 de janeiro, em Santa Maria (RS). O incidente, que começou por volta das 2h30, ocorreu na Boate Kiss, na rua dos Andradas, no centro da cidade. O Corpo de Bombeiros acredita que o fogo tenha iniciado com um artefato pirotécnico lançado por um integrante da banda que fazia show na festa universitária.
Segundo um segurança que trabalhava no local, muitas pessoas foram pisoteadas. "Na hora que o fogo começou, foi um desespero para tentar sair pela única porta de entrada e saída da boate, e muita gente foi pisoteada. Todos quiseram sair ao mesmo tempo e muita gente morreu tentando sair", contou. O local foi interditado e os corpos foram levados ao Centro Desportivo Municipal, onde centenas de pessoas se reuniam em busca de informações.
A prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias e anunciou a contratação imediata de psicólogos e psiquiatras para acompanhar as famílias das vítimas. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde se reuniu com o governador Tarso Genro e parentes dos mortos. A tragédia gerou uma onda de solidariedade tanto no Brasil quanto no exterior.
Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.
Na segunda-feira, quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Sphor, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffman, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investigava documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergiam sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.
A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.