STF: Legalização de aborto de fetos anencéfalos causa polêmica no Piauí

Era ainda mais complicado quando não se podia detectar a deficiência antes do parto e os traumas eram maiores depois.

GRAVIDEZ | No cotidiano, muitas mulheres decidem não continuar a gravidez quando descobrem a deficiência do feto | Moisés Saba
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O assunto sobre aborto é responsável por causar debates acalorados, além de ser pauta de reivindicação do movimento de mulheres. Nesta última quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal autorizou o aborto de bebês anencéfalos (sem cérebro), atendendo a ação movida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS).

Segundo o obstetra Acilino Ferreira Ramos, não existem na literatura relatos de que esses bebês tenham vida prolongada, vivendo, assim, de horas a dias, pois têm a vida incompatível com a vida extrauterina. Para o obstetra a decisão do Supremo foi acertada, pois na sua opinião quem deve decidir quanto ao destino da gravidez é o casal. ?Acho salutar a decisão, assim o casal poderá decidir quanto a gravidez, que é o espírito da Lei em questão. Assim, as mulheres não serão mais consideradas criminosas. Penso que é uma lei que agrada a gregos e troianos, já que aqueles mais religiosos podem decidir por manter a gravidez?, diz Acilino Ferreira referindo-se ao debate travado por religiosos que são contrários ao aborto.

Quanto aos riscos à saúde da mulher há uma corrente que diz que os perigos com relação a este tipo de gravidez são os mesmos como relação a qualquer outro. No entanto, há uma segunda tendência que considera que esta gravidez pode haver um aumento com relação a determinados tipos de patologias,

questionando, assim, se valeria a pena submeter à mãe a riscos desnecessários.

É como questiona o casal Gisela de Sousa Reis (19) e Vitor Augusto D?Oliveira (20), que espera seu primeiro bebê. ?Pelo que entendo não há expectativa de que a criança viva, então não tem por que a mãe passar por isso. Eu mesmo optaria por interromper a gravidez?, conta

Gisela. Vitor corrobora da ideia de Gisela. ?Se fosse possível o bebê sobreviver através de aparelhos, eu

concordaria, mas já que não tem condições, não tem por que submeter a mulher a essa espera e depois a uma frustração, já que ela já começa a amar o bebê desde a barriga?, indaga.

Já para Leila Maria Ferreira (26), grávida de seu segundo bebê, a decisão deveria partir da mulher, no entanto, no seu caso, não interromperia a gestação. ?Eu continuaria com o bebê nem que fosse para ter ele nas minhas mãos por alguns segundos?, relata.

Chaiane dos Santos Pereira (23), que terá o segundo bebê, é partidária do argumento religioso que diz defender a vida. ?Eu mesmo não deixaria de ter o bebê, mesmo sabendo que ele não sobreviveria, pois trata-se de uma vida?, argumenta.

A Igreja Católica lamenta a decisão do Supremo, pois segundo o padre Toni Batista, a religião é a favor

da vida e não leva em consideração qualquer tipo de padrão de beleza ou saúde. ?A decisão do Supremo não vai mudar em nada o evangelho deixado por Jesus Cristo. Temos certeza de que o bebê não viverá, mas se a natureza se encarrega, não cabe ao homem apressar?, diz.

O movimento de mulheres comemora a decisão do Supremo Tribunal Federal, pois lembra que esta é uma pauta histórica que versa sobre o poder das mulheres decidir sobre o seu próprio corpo e não serem condenadas por isso. A legislação diz que as mulheres que fazem aborto podem Levar de 1 a 4 anos de cadeia. As mulheres questionam por que o Estado pode condenar pessoas por uma decisão que diz respeito ao seu corpo.

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