Qual o futuro do Ilê Axê Opô Afonjá com a morte de Mãe Stella de Oxóssi, que aconteceu na última quinta-feira (27)? Quem será a encarregada de receber a herança religiosa de uma das mais importantes ialorixás do Brasil? Sim, “encarregada” no feminino, e não “encarregado”. Isso porque o Afonjá é um terreiro matriarcal e só pode ser liderado por ialorixás.
O fato é que quem vai tomar essa decisão, ao menos na cresça do povo de santo, não é deste mundo. No caso, por ser patrono da casa, essa tarefa caberá a Xangô. E isso só vai ocorrer daqui a, no mínimo, um ano, após um jogo de búzios. Em alguns casos, o jogo não aponta prontamente um nome. Mas, também em um universo sobrenatural, é possível especular.
Muitos apontam quatro das mais antigas sacerdotisas da casa como possíveis sucessoras. Todas fazem parte do conselho religioso do terreiro. São elas: Edit Santos Andrade, a iaquequerê (mãe-pequena) Ditinha, 83 anos; Raimunda Antônia de Paula, Mãe Mundinha, iá-dagan do Afonjá, 64; Valdomira Alcântara, a ogalá Tutuca ou Mãe Tutuca, 64; e Maria Pimentel, a mãe Maria ou iá efun, 70.
Mãe Ditinha, aliás, por ser a mãe-pequena da casa, é a atual substituta desde que Mãe Stella se afastou, quando foi morar na cidade de Nazaré, no Recôncavo baiano. Acontece que ela, e as outras, são muito discretas e sequer falam sobre o assunto. A otum-dagan do terreiro, Maria Aparecida Santos, a Cida de Nanã, explica que, no final das contas, qualquer filha de santo (iniciada) pode ser escolhida.
A tradição do terreiro, no entanto, é pela escolha de iaquererês ou iá-dagans, como aconteceu com Mãe Senhora (iá-dagan) e Mãe Ondina (iaquererê).
“A maioria tinha esses dois cargos, mas Xangô que vai escolher. Se ele quiser, até uma iaô pode virar ialorixá”, disse Cida, que é bisneta de Mãe Senhora. Ela própria, aliás, mesmo sem fazer parte do conselho religioso, pode ser escolhida. “O homem é quem sabe”, riu Cida, referindo-se novamente a Xangô.
Sobrinha Neta de Mãe Stella, Reina de Azevedo Santos, 19 anos, é uma das filhas de santo da nova geração do Afonjá. Se o sangue familiar for levado em conta na escolha de Xangô, ela também está no páreo.
“Sinceramente não fazemos a menor ideia de quem pode substituir minha avó. Pode ser eu ou qualquer outra pessoa iniciada da casa. É Xangô quem vai dizer”, afirma Reina, que se iniciou aos 13 anos, mesma idade de sua tia avó, Stella.