Um dos suspeitos de participar do assassinato de uma família em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, se entregou na manhã desta segunda-feira (10), em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Jonathan Fagundes Ramos, de 23 anos, é irmão de Juliano de Oliveira Ramos Júnior, que também está preso. Os dois são primos de Carina Ramos, namorada de Anaflávia Gonçalves, filha e irmã dos três mortos.
As duas confessaram ter ajudado a planejar o roubo à família de Anaflávia, no dia 27 de janeiro, em Santo André. No entanto, elas não teriam participado da morte do casal Romuyuki e Flaviana Gonçalves e do filho deles, o adolescente Juan Victor.
Os corpos do casal de empresários Romuyuki e Flaviana Gonçalves e do filho deles, o adolescente Juan Victor, foram encontrados carbonizados no porta-mala do carro da família, no dia 28, em São Bernardo do Campo. Segundo laudo pericial, as vítimas foram mortas com golpes na cabeça.
De acordo com a Polícia Civil, o homem se apresentou, por volta das 7h20, na Delegacia Sede de Praia Grande. "Quando ele chegou aqui na delegacia, disse que a mãe morava na cidade e que veio para a casa dela para se esconder. No entanto, Jonathan alegou que 'não aguentava mais viver fugindo da polícia' e decidiu se entregar", comenta o delegado Alexandre Comin, responsável por prender o suspeito.
O rapaz tinha um mandado de prisão temporária, expedido no dia 6 de fevereiro, e estava foragido. Após a apresentação, o delegado cumpriu o mandado e recolheu o rapaz para carceragem da delegacia. A equipe do Setor de Homicídio de São Bernardo foi acionada para encaminhá-lo para a região do ABC.
Depoimento
O Fantástico obteve com exclusividade neste domingo (9) alguns trechos dos depoimentos prestados nas últimas duas semanas pelos 4 presos suspeitos de participar do assassinato de uma família em São Bernardo do Campo.
Durante os 40 minutos em que foi interrogada, Anaflávia não se emocionou, não demonstrou arrependimento, nem chorou. Ela disse que houve um impasse sobre o local em que os corpos seriam carbonizados.
Anaflávia ainda demonstrou à polícia ter se preocupado com ferimentos de Jonathan durante o incêndio. "Deu a explosão, ele se queimou inteiro, ficou todo queimado mesmo, queimou cílios, queimou bigode, queimou bem o cabelo, o peito queimou. A gente voltou correndo para casa e a Carina o acalmou. No outro dia ele ficou dormindo e eu saí pra trabalhar normalmente", completou.
Plano previa roubo
Segundo a polícia, também participaram do crime Guilherme Ramos da Silva, Jonathan Fagundes Ramos e Juliano Oliveira Ramos Junior, os dois últimos, primos da Carina.
Todos os quatro suspeitos presos negam a autoria dos assassinatos para, de acordo com a polícia, responder por roubo, que tem pena menor. A polícia vai saber qual a participação real de cada um no crime depois da reconstituição e quando forem colocados frente a frente.
O que todos confirmam é a proposta inicial de roubo. "Ele [Juliano] falou de fazer uma fita, eu falei que não, mas todo mundo chegou ao consenso que sim", disse Anaflávia.
As namoradas moravam juntas, e a relação com a família, que não vinha bem, piorou quando Anaflávia ganhou um carro e Carina transferiu o documento do veículo para o próprio nome.
O combinado seria que os três homens fingiriam que estavam rendendo as mulheres e família. "Amarramos o moleque, amarramos o pai e subimos com o pai...", disse Juliano. "Eles estavam pedindo a senha do cofre e ele falava que não tinha, que isso quem tinha era a esposa dele", continuou.
Mudança de plano
Juliano e Guilherme disseram que os planos mudaram por decisão de Carina no momento em que Romuyuki afirmou não ter a senha do cofre.
"Mudou. A Carina mudou tudo quando falou que tinha que matar o pai ou o moleque para a mãe ver que não tava de brincadeira. Ela queria a senha de tudo", disse Juliano. "Nesse momento, reuniu todo mundo", continuou, acrescentando que as namoradas estavam tomando cerveja e fumando cigarro.
Segundo Juliano e Guilherme, Carina matou Romuyuki e Juan por asfixia, embora elas tenham dito que ficaram no andar debaixo e não viram os dois serem assassinados.
O grupo deixou o condomínio em dois carros. Levou os corpos do pai e do filho, e Flaviana, ainda viva, no carro da família. De acordo com Juliano, ela foi morta por Carina na estrada deserta antes do carro ser incendiado com a família dentro. Carina nega.
O que foi constatado por perícia
- Em 28 de janeiro, o carro da família foi encontrado em chamas na Estrada do Montanhão, em São Bernardo do Campo, próximo ao Rodoanel. O local fica a cerca de 6 km do condomínio de sobrados em Santo André onde a família morava.
- Havia dois corpos totalmente carbonizados no porta-malas do veículo.
- Os três corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) Central, onde foram feitos exames para identificação. Dois dias depois, um laudo apontou que a causa da morte dos 3 foi traumatismo craniano, possivelmente em decorrência de pauladas na cabeça. As vítimas, então, foram mortas antes de terem os corpos queimados na Estrada do Montanhão.
- A polícia encontrou a casa da família revirada. Os policiais também identificaram que foram levados objetos de valor, como joias, TV e videogame, e dinheiro em espécie que somam a quantia de R$ 8 mil em moeda nacional e estrangeira, além de uma arma antiga quebrada, que pertenceu ao avô de uma das suspeitas, Anaflávia.
- Em 1º de fevereiro, exames feitos pela polícia confirmaram a presença de sangue humano na casa da família, nas escadas, nas roupas e na máquina de lavar.
- A polícia teve acesso a imagens de câmeras de segurança da portaria do condomínio, que mostraram a visita de Anaflávia aos pais na noite que antecedeu a madrugada do crime, seguida da saída do carro dela e da família do local.