Enquanto a Itália desenvolve painéis solares feitos de cascas de frutas, na África pesquisadores ingleses criam ?tijolos? de banana usados como combustível
Engana-se quem pensa que a energia derivada das frutas é apenas a calórica. Pesquisadores italianos da Universidade Tor Vergata, em Roma, desenvolveram painéis solares feitos a partir de cascas de fruta, verduras e legumes. Em parceria com o Pólo Solar Orgânico ? instituto da iniciativa privada voltado para pesquisa em energias renováveis ?, os cientistas descobriram que custa menos produzir células fotovoltaicas a partir de materiais orgânicos do que utilizando o silício, matéria-prima cara por conta do processo de transformação para a indústria, que é responsável por 60% do valor final das placas.
No caso das placas feitas a partir de orgânicos, o preço é mínimo, tanto para a produção, quanto da matéria-prima. Hoje, as placas a base de silício custam entre ? 6 a ? 12 por watt. Com a nova tecnologia, esse preço pode cair para apenas ? 2. As próprias máquinas utilizadas na produção dos painéis tradicionais variam de ? 15 a ? 100 milhões, enquanto os feitos de restos de comida custam apenas um milhão.
Eficiência e combate ao desperdício
Entender a discrepância do custo na produção de painéis solares a partir de materiais orgânicos ou de silício é simples. Mas a eficiência é igual? Os experimentos mostram que a eficiência orgânica é ainda maior. O princípio de funcionamento é o mesmo das células solares comuns, só que as orgânicas têm os semicondutores constituídos por corantes extraídos dos restos vegetais.
Os componentes químicos e eletrônicos do painel ficam entre duas placas de eletrodos e são sobrepostos uns aos outros, em camadas de extratos vegetais, reagindo quimicamente e para produzir energia limpa. ?As células ativadas pelos corantes absorvem a radiação solar, permitindo o fenômeno da separação das cargas para a produção da energia?, descreve Franco Giannini, diretor do Polo Solar Orgânico, à BBC Brasil.
De acordo com o professor, as células orgânicas são mais eficientes por serem tridimensionais e, por isso, podem captar a radiação da luz vinda de todas as direções. Além disso, as placas de frutas são muito mais finas e não têm diferença substancial na absorção de energia solar em relação às convencionais. Isso permite que os pigmentos possam ser aplicados em película, vidro ou plástico ? podendo ser utilizado em janelas, por exemplo.
Para aqueles que se preocupam não só com iniciativas energéticas limpas, mas com a justiça social envolvida na distribuição de alimentos, é importante lembrar que o processo utiliza apenas sobras orgânicas, evitando, assim, que falte comida para a população. ?Usamos aquilo que é jogado fora ? as cascas da laranja, por exemplo ? e transformamos em matéria básica para a geração de energia elétrica. O Brasil tem uma agricultura forte e pode se interessar por essa tecnologia", afirmou Giannini, que já trabalhou no País.
Alternativa energética para a África
A experiência italiana com os painéis solares alternativos não é a única inovação energética feita a partir de material orgânico. Apesar de ser uma tecnologia bem mais simples que as placas fotovoltaicas, cientistas da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, descobriram uma maneira muito simples e eficiente de utilizar restos da produção de banana. Além da possibilidade de fazer vinhos e cerveja, os pesquisadores passaram a utilizar as cascas da fruta pra produzir combustível. Elas são trituradas juntamente com as folhas e caules, que, processados, são transformados em tijolos. Quando queimados, assumem a mesma função de, por exemplo, uma tora de madeira, servindo para cozinhar ou iluminar.
O processo é muito simples. As cascas, os caules e as folhas da bananeira, que normalmente seriam descartados ? estima-se que para cada tonelada de banana produzida no mundo, 10 toneladas de resíduos sobram ?, são processados, prensados (para eliminar os líquidos) e, por último, ficam expostos ao sol por cerca de duas semanas para secar.
Países africanos como a Tanzânia, Burundi e Ruanda, grandes produtores de banana, podem ter sua contribuição para as mudanças climáticas bastante reduzidas, já que mais de 80% de sua produção energética vem da queima de madeira.