"Há mais ou menos um ano, vieram me entrevistar sobre uma tal "geração nômade". O fenômeno acontecia assim: uma turma de jovens, sem conseguir escolher a melhor balada para ir, dividia-se em três ou quatro grupos. Pelo Twitter, um grupinho informava aos demais onde estava. No fim, a turma tinha ido a todas as festas --e não ficado em nenhuma."
De acordo com a psicóloga Rosely Sayão, colunista da Folha, a angústia "de perder alguma coisa imperdível", surgida nas redes sociais, é um reflexo da mesma dificuldade de escolher, expressa no comportamento da tal "geração nômade".
"Todo mundo quer "tudo ao mesmo tempo, agora", não é? O problema é que não dá", diz Sayão. "Uma das características do mundo contemporâneo é que você acorda e já tem de fazer escolhas. É café da manhã com ovo ou sem? Vou caminhar, nadar ou não vou fazer nada?"
"PIRANTE"
Segundo Sayão, na vida social, também se multiplicaram as opções.
"Como escolher ficar em casa, se há tantas coisas acontecendo lá fora? Qual será a melhor balada? Isso é pirante."
Para a psicóloga, uma forma de resolver a dúvida foi gerada pela ferramenta do Facebook que contabiliza amigos.
"Colecionam-se "amigos" como animadores de programas de auditório contabilizam seu ibope."
"Vou à balada de quem tem mais amigos. Vou ao local com mais "curti" [botão do Facebook]. E assim continuo me esquivando da responsabilidade de escolher. Não é por acaso que tanta gente sente que está perdendo alguma coisa realmente importante", afirma Rosely Sayão.