Brasil sobe em ranking de TI, mas sofre escassez de bons talentos

Alguns itens da categoria “capital humano” também ajudaram a impulsionar a posição brasileira

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O Brasil avançou no setor de Tecnologia da Informação (TI), mas poderia ter crescido mais não fossem entraves como burocracia e déficit de especialistas, segundo um ranking realizado pela Economist Intelligence Unit, o braço de pesquisa e análises da revista The Economist. Investimentos em pesquisas e em infraestrutura ajudaram o País a galgar uma posição em relação a 2009, ocupando agora a 39ª colocação do índice, para a organização Business Software Alliance (BSA).

Na lista, que mede principalmente a competitividade no setor, o Brasil está imediatamente atrás da China e muito à frente de outros vizinhos da América Latina, com exceção do Chile, que é o líder regional. "O crescimento da pontuação brasileira na categoria "pesquisa e desenvolvimento" foi o maior responsável tanto pela evolução na pontuação geral do País, como em sua posição no ranking", disse à BBC Brasil o diretor da BSA no Brasil, Frank Caramuru.

O País ocupa agora o primeiro lugar entre os latino-americanos neste quesito, que tem peso maior na pontuação e avalia investimentos públicos e privados, além do número de patentes e valor recebido por royalties em relação ao número de habitantes. Segundo Caramuru, a nota brasileira saltou de 1,6 na primeira edição do estudo, em 2007, para 21,2 na edição deste ano.

Crise de talentos

Alguns itens da categoria "capital humano" também ajudaram a impulsionar a posição brasileira. O número de formandos nas áreas de ciências e engenharia aumentou, levando o País a ocupar o 8º lugar nessa classificação. No entanto, o Brasil permaneceu estagnado no que diz respeito à qualidade de habilidades tecnológicas, gerando temores sobre a escassez de profissionais de TI qualificados para atender a demanda.

Para Caramuru, já se pode falar em uma crise de talento no mercado brasileiro de Tecnologia da Informação. "A avaliação aponta para a necessidade de um aprimoramento do currículo dos cursos de ciências da computação, bem como de um estímulo a essa opção de carreira entre estudantes", explica. "Hoje, estima-se que existam 90 mil vagas não preenchidas neste setor no Brasil, e uma projeção da FGV avalia que, em 2014, esse déficit pode chegar a 800 mil."

Morosidade

Progressos na "infraestrutura na Tecnologia da Informação" também trouxeram mais avanços que retrocessos para o cenário brasileiro. Entre os aspectos positivos está a ampliação da telefonia celular, cujo índice de penetração já ultrapassa os 100%. Por outro lado, a morosidade na expansão da banda larga no País é citada como aspecto negativo, já que dificulta a absorção de serviços de Tecnologias da Informação. Mas na hora de apontar culpados, o levantamento aponta o dedo principalmente para a burocracia brasileira, que freia a inovação e a implantação de TI no país.

Para Caramuru, a estrutura regulatória do país é um grande entrave. "Restrições para contratar e demitir são um empecilho especial para o setor de tecnologia e inovação, em que o mercado sofre mudanças constantes e no qual a agilidade de gestão é crucial para se manter a competitividade", pondera.

Brics

Barreiras como o déficit de profissionais e as barreiras burocráticas precisam ser vencidas rapidamente pelo Brasil, se o País quiser competir realmente com outros integrantes do Brics. Segundo o estudo, embora a Índia e a China estejam hoje no meio da lista de classificação (34ª e 38ª respectivamente), ambos ganharam terreno no ranking e tudo indica que devem subir mais posições nos próximos anos. "O Brics possui vantagens de mão-de-obra menos custosas em relação a países desenvolvidos", afirma Caramuru.

"China e Índia, em relação ao Brasil, deram saltos maiores no ranking devido à quantidade de alunos matriculados em cursos de ciência e engenharia, bem como uma formação mais sólida em TI", continua, lembrando que ambos os países asiáticos "estão no top 10 global no quesito capital humano".

Futuro

Entre muitos números e opiniões de especialistas da área, o ranking deixa pistas do que pode ser feito para avançar novas posições nos setores de Tecnologia da Informação. Para o diretor da BSA, estimular a opção de estudantes pela área é fundamental. "Na Índia, dois terços dos estudantes universitários estão matriculados em cursos de ciências exatas e engenharia, enquanto no Brasil são apenas 14%", exemplifica.

A análise também mostra que formar estudantes com habilidades ou aptidões em TI é importante, mas já não é suficiente. "Uma grade complementar voltada aos negócios é essencial para esses profissionais prosperarem e contribuírem de forma mais significativa com suas empresas", conclui Caramuru.

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