Bebês de ultrassom viram bonecos

Ressonância e tomografia também ajudam a criar modelos de feto em 3D

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Um brasileiro criou uma técnica que permite que mães e pais possam não só ver, como também tocar e sentir modelos de tamanho real de seus bebês que ainda nem nasceram.

O designer carioca Jorge Roberto Lopes dos Santos desenvolveu o projeto, que alia exames de ressonância magnética, ultrassonografia e tomografia computadorizada. Depois, as imagens captadas são transformadas em modelos matemáticos e, no último passo, viram modelos 3D com a chamada prototipagem rápida, que é a tecnologia para impressão tridimensional.

Utilizando programas específicos como o 4D View e o Mimics, Lopes dá forma aos modelos 3D de fetos, que são impressos, camada por camada, em resina fotossensível e um composto a base de gesso.

Até o momento, já foram estudados no Brasil e no Reino Unido cerca de 50 casos clínicos que geraram modelos específicos em tamanho natural. E muitos deles foram mostrados por Lopes durante a apresentação de seu projeto na Royal College of Art (RCA), em Londres, na última sexta-feira (26).

"São culturas diferentes também em relação à gravidez. Enquanto no Brasil o foco principal é tentar fazer com que mães e pais compreendam alguma malformação de seus bebês, no Reino Unido os modelos são usados para incentivar o apego da mãe em relação ao filho", explica Lopes.

Pesquisador do Ministério da Ciência e Tecnologia e professor do Departamento de Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Jorge Lopes tem como orientadores em Londres Hilary French, diretora da Escola de Arquitetura e Design de Produtos da RCA, Ron Arad, um dos mais famosos designers do mundo e chefe de Design de Produtos na RCA, e Stuart Campbell, chefe de obstetrícia da King"s College e pioneiro na utilização do ultrassom na década de 1980.

Antes do Reino Unido, a técnica já vinha sendo testada no consultório do especialista em medicina fetal Heron Werner, no Rio, surpreendendo as futuras mamães. "A reação das pacientes é de grande surpresa, pois estes modelos são muito mais nítidos e reais do que uma simples imagem de ultrassonografia 3D ou imagem da ressonância magnética", compara o médico.

"Imagine o impacto de um protótipo de um feto de uma gestante com deficiência visual. Ela tendo a chance de tocar e sentir as feições de seu filho. Realmente, isto tudo não deixa de ser um grande avanço", comemora Werner.

De múmias a fetos

Trabalhando juntos no Brasil há alguns anos, Lopes, Werner e o pesquisador Ricardo Fontes, do Instituto de Nacional de Tecnologia (INT), colaboraram anteriormente em estudos para o Museu Nacional.

Na ocasião, blocos de pedras e sarcófagos foram digitalizados a partir de exames de tomografia computadorizada, possibilitando a visualização da forma virtual de fósseis e múmias. "Se conseguíamos isto com fósseis e múmias, por que não fetos?", diz Werner, contando como surgiu a mudança de rumo nas pesquisas.

O grande diferencial da técnica criada no Brasil foi conseguir digitalizar as imagens geradas pelos exames de ressonância magnética e ultrassom, uma vez que a tomografia em muitos casos não é recomendada para gestantes, por conter níveis de radiação.

"Hoje conseguimos ter o corpo de um feto a partir da ressonância magnética e as suas outras partes como mãos, pés e face a partir da ultrassonografia, reconstruindo tudo num só modelo. Desta forma, conseguimos imagens superiores às dos exames em separado", explica Werner, coordenador do setor de medicina fetal da Clínica de Diagnóstico por Imagem (CDPI), no Rio.

Como a técnica brasileira já está patenteada e os testes estão em curso, Werner acredita que em breve a prática poderá ser usada em larga escala, ajudando mães, pais e profissionais de saúde. "Acredito que até o final do ano poderemos ampliar o alcance dessa tecnologia", avalia.

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