Terminar um relacionamento amoroso nunca é fácil, mas parece ainda mais doloroso quando você é vítima de um "fora digital". A prática será cada vez mais comum (e aceitável) com as gerações mais novas se relacionando intensamente pelas redes sociais e aplicativos. Enquanto essa "nova era" não chega, há modos mais ou menos rudes de terminar. Segundo psicólogos, quanto maior a exposição na internet, maior é a dor causada a seu ex.
"A tecnologia não traz nada de novo, só potencializa o término do relacionamento. Vai doer sempre, porém digitalmente dói mais porque muitas vezes você não ouve nem a voz do outro", explica Luciana Ruffo, psicóloga do NPPI (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática) da PUC-SP.
Em comum, o autor do "fora digital" é aquele no relacionamento com maior dificuldade de lidar com conflitos. "Para quem dá o fora, fazer isso virtualmente é mais fácil. Pela internet, ele não vai precisar lidar com choro, cara feia nem discussão."
Ainda assim, segundo a psicóloga, quem está abaixo dos 25 anos já tende a achar "mais normal" terminar um relacionamento por meios como Facebook e WhatsApp. Isso porque elas já consideram a internet uma extensão das próprias vidas. "Os mais velhos veem a internet com uma conotação diferente. Para eles, ela é mais um "canal de comunicação", explica.
Estudos
Ilana Gershon, professora da Universidade Bloomington em Indiana (EUA), é autora de um estudo que ilustra essa diferença para gerações mais velhas. O levantamento foi feito entre 2007 e 2008, época em que Facebook e Twitter já eram populares entre jovens, mas ainda não desempenhavam um papel central na vida deles.
A pesquisadora entrevistou universitários com idade em torno de 20 anos naquela época (hoje na casa dos 30 anos), que afirmaram ter ficado com raiva ou ofendidos após levar o "fora digital". "A grande maioria das pessoas [daquela época] me disse que terminar de forma online era algo covarde e que a única maneira aceitável seria terminar pessoalmente", lembra Ilana.
O estudo deu origem ao livro "The Breakup 2.0: Disconnecting over New Media" ("O Término 2.0: desconectando-se pela nova mídia", em tradução livre), ainda não lançado em português.
Outras pesquisas mais atuais (porém mais "informais") já demonstram uma maior tolerância à prática, embora a dor de ser vítima dela ainda persista.
Uma delas foi feita pela Vouchercloud.net com 2.712 pessoas entre 18 e 30 anos. Ela mostrou que 56% dos entrevistados terminaram via redes sociais, mensagens de texto ou e-mail no último ano. Porém, três em cada quatro deles disseram que ficariam aborrecidos se alguém fizesse o mesmo com eles.
"Barraco digital"
Embora a aceitação da prática varie entre gerações diferentes, a maneira como ocorre o término digital ainda é decisiva para causar maior (ou menor) dor ao ex. Enquanto uns aproveitam a "facilidade" em dizer adeus por mensagens privadas em redes sociais e aplicativos, outros escancaram para o mundo o fim da relação.
"Terminar é terminar. No fim do dia, você não está mais em um relacionamento. Mesmo assim, as pessoas frequentemente se concentram em como o término ocorreu [em vez dos motivos]", afirma a professora Ilana.
São os "barracos digitais": a mudança surpresa do status para "solteiro" no Facebook, o post no Instagram com o ex "cortado" da foto ou o tuíte anunciando a separação devido à traição do parceiro.
"Isso não é um término, é uma exposição. É avisar ao mundo que "estou solteiro". Mostra que quem termina não está muito preocupado com o outro e quer atingi-lo de alguma forma", avalia Luciana, psicóloga do NPPI.