O Duolingo, site que oferece cursos de línguas gratuitos na internet em troca de mão de obra para traduções coletivas, acaba de fincar o pé no Brasil.
Após atingir a marca de 550 mil usuários, o site lançou a versão beta de um curso de inglês para lusófonos que já conquistou 14 mil alunos. Nos próximos dias, será lançado o curso na mão oposta --português para falantes de inglês--, esperando uma demanda alta para a Copa do Mundo e para a Olimpíada.
O site, que começou em 2011 com uma verba de US$ 482 mil da Fundação Nacional de Ciências dos EUA, ganhou no mês passado uma injeção de US$ 15 milhões de três investidores do setor privado. Entre eles estão a Union Square Ventures, mesma empresa de capital de risco que despejou milhões no Twitter, e o ator Ashton Kutcher.
Segundo Luis Von Ahn, cientista que lidera o projeto, o dinheiro deve ser usado para turbinar o desenvolvimento do site, que até o mês passado vinha sendo produzido por uma equipe de 16 pessoas, em Pittsburgh (EUA). Ele projeta reunir 1 milhão de usuários até o fim do ano.
Nos primeiros meses, o Duolingo funcionou como um portal de cursos, oferecendo atividades para o usuário realizar sozinho. Aos poucos, vem ganhando recursos de rede social.
Alguém que já fala um idioma pode ajudar outra pessoa que está aprendendo, e estudantes que realizam traduções podem palpitar nos trabalhos uns dos outros.
A maioria dos cursos disponível, porém, chega só até o nível intermediário. Estender o programa está nos planos, mas não há previsão. "O que precisamos aprimorar são os recursos para o usuário dialogar com outros falantes", diz Von Ahn. "Assim que tivermos isso, acho que os usuários serão capazes de chegar a um nível avançado."
Neste mês, o serviço de tradução será aberto ao público. Qualquer pessoa que tenha publicado textos com licença Creative Commons poderá tê-los traduzidos gratuitamente. Para conteúdo protegido por direitos autorais será cobrada uma taxa --mas o Duolingo se propõe a oferecer o preço mais baixo.
A ideia é, no longo prazo, fazer com que a empresa se torne um negócio rentável.
Apesar de a gratuidade do curso se basear na troca das aulas por traduções, traduzir não é obrigatório. É possível terminar o curso fazendo apenas as lições e testes.
"Nos pusemos a meta de fazer com que os textos a traduzir sejam bons o suficientes para que as pessoas queiram traduzi-los", diz Von Ahn. Um dos recursos em implantação permite aos usuários escolher textos pelos quais se interessam.
Para convencer usuários a pagarem pelo serviço de tradução, o site terá de cumprir a promessa de conseguir fazer conversões melhores do que ferramentas gratuitas como o Google Translate são capazes de fazer hoje usando apenas inteligência artificial. As traduções de inglês-espanhol e espanhol-inglês feitas por 300 mil usuários no Duolingo são visivelmente melhores.
As traduções do inglês para o português (que está em fase de teste) ainda costumam ter erros tipicamente "humanos", sobretudo escorregões de digitação, mas em geral têm gramática e semântica mais corretas que as do Google. À medida que o site ganha adeptos, diz Von Ahn, esses problemas tendem a desaparecer, pois os usuários "votam" nas traduções uns dos outros e vetam aquelas que estão erradas.