Há muito tempo que a física se debruça sobre a possibilidade da existência de universos paralelos e ocultos em outras dimensões. Para alguns pesquisadores, mundos assim já são realidade graças a jogos virtuais que convidam os usuários a assumirem novas personalidades por meio de avatares. Mas até que ponto a imersão nesses universos alternativos influencia a forma de se comportar e sentir no mundo real?
Ulrich Weger, pesquisador da Universidade Witten-Herdecke, na Alemanha, e Stephen Loughnan, da Universidade de Melbourne, na Austrália, buscaram a resposta para essa pergunta com uma série de experimentos cujos resultados foram publicados no periódico Psychonomic Bulletin & Review. Segundo eles, os jogos imersivos podem fazer com que as pessoas se tornem menos sensíveis à dor e também sintam menos empatia ao ver alguém passando por uma experiência de sofrimento.
Para chegar a essa conclusão, a dupla convocou 100 estudantes que dedicavam, em média, 9,59 horas semanais a videogames. Separados em grupos, eles brincaram, no laboratório, com jogos de imersão ou de outro tipo, como os de montar quebra-cabeças. Depois da brincadeira, todos passaram pelos mesmos testes, que podiam ser, por exemplo, remover a maior quantidade possível de clipes de papel de uma bacia com água quase congelada ou assistir a imagens de pessoas em situações penosas e dizer o quanto as cenas os incomodavam.
Aqueles que haviam se divertido com jogos de avatares se mostraram tanto mais resistentes à dor (conseguiram ficar mais tempo retirando os clipes da água gelada) como menos sensíveis a imagens de sofrimento alheio. Para Weger e Loughnan isso mostra que jogos imersivos ativam scripts mentais, como os de aprendizagem, que permitem que as habilidades e comportamentos praticados se tornem parte do comportamento do usuário. Ao ?entrar? em um universo paralelo, o jogador deve aceitar regras e normas determinadas naquela realidade, o que exige o uso de capacidades intelectuais e até performances físicas. Nesse contexto, ele pode se desgastar física e intelectualmente, pois representa mais do que um papel dentro da narrativa. Ele é parte dela.
?Se a imersão, do ponto de vista de jogos de avatar, atenua a experiência humana, então devemos refletir sobre como integramos essas práticas em nosso cotidiano. Em especial porque os games estão cada vez mais integrados à cultura, principalmente entre os homens?, questiona Weger. Para ele, a fronteira homem-máquina é cada vez mais turva, porque as máquinas e personagens virtuais são antropomorfizados, isto é, personificados com qualidades tipicamente humanas. Em tal ambiente, torna-se cada vez mais fácil e normal considerar seres artificiais como semelhantes aos humanos. ?Devemos trabalhar o que significa ser humano e pensar em como podemos fazer melhor uso das aplicações benéficas da inteligência artificial e da robótica para que não sejamos escravizados por esses avanços?, alerta o autor.