Após anunciar o fim global da divisão de celulares e com isso o encerramento da produção no setor na fábrica em Taubaté (SP), a LG vai encerrar a produção de notebooks e monitores na cidade do interior paulista. A informação é do Sindicato dos Metalúrgicos e foi confirmada pela empresa.
De acordo com a entidade sindical, em uma reunião com a empresa sul-coreana na terça-feira (6) representantes da marca informaram que não têm intenção de seguir com as atividades na cidade. Isso pode ser o fim total da produção industrial da LG, que está na cidade desde 1997 e emprega 1 mil trabalhadores. Com o quadro, 700 trabalhadores diretos devem ser demitidos.
A empresa sinalizou ao sindicato que pretende manter na cidade 300 funcionários do call-center.
"A LG nos informou hoje que está mantido o plano de fechamento da unidade de celulares e vai finalizar a produção de monitores e notebooks. Ainda não definiu prazos, que serão definidos em reuniões. Até o final do primeiro semestre, todas as atividades devem estar encerradas", disse Claudio Batista, presidente do sindicato.
De acordo com a entidade, rodadas de negociações nos próximos dias devem tratar de questões como plano médico, PLR e capacitação profissional aos desempregados. O G1 apurou que a medida foi anunciada a funcionários na manhã desta terça-feira pelo presidente da planta.
"A LG posicionou que é por conta da questão do ICMS e não ter incentivos no Estado de São Paulo, coisa que encontra em Manaus. Isso teria sido debatido com o governador do estado de São Paulo, que foi intransigente", disse o presidente da entidade.
Além da fábrica em Taubaté, a LG mantém outra na Zona Franca de Manaus (AM), na qual produz aparelhos de ar-condicionado, geladeiras e outros eletrodomésticos da chamada linha branca.
No interior paulista a marca tem cerca de 1 mil funcionários. A estimativa com o fechamento da fábrica de celulares é que a medida afetaria 400 empregos diretos - o número global, com terceirizados de fábricas exclusivas supera 800 postos de trabalho, só ligados à cadeia de produção de smartphones.
Com o fim de todas as atividades industriais em andamento, o sindicato informou que a LG diz ter um plano de realocação de alguns trabalharem para Manaus ou São Paulo, mas não disse quantos.
De acordo com a entidade, a empresa sinalizou que pretende ficar na cidade somente com o setor de call center e serviços, que emprega 300 dos 1 mil funcionários.
O que diz a LG
Em nota, a empresa sul-coreana confirmou que, após o fim da atuação no setor de celulares, vai encerrar as divisões de monitores e notebooks em Taubaté e a transferir essas atividades para Manaus.
"Em virtude dessa decisão [fim da divisão de celulares], a empresa também fará a transferência da produção de notebooks, monitores e all in one para sua unidade de Manaus, de modo que fortaleceremos nossa competitividade comercial em TV / PCs / monitores, com foco na fábrica existente de Manaus e, continuaremos a expandir com profissionais de vendas e serviços relacionados", diz trecho de comunicado da LG.
"Apesar da decisão de encerramento desta produção na Unidade mencionada, informa que manterá a comercialização e a produção de outras linhas de negócios no Brasil, gerando empregos e investimentos, além de novas oportunidades ao mercado brasileiro", diz a nota, que ainda reforça que há negociações com o sindicato da categoria em andamento para implementar compensação adicional aos direitos vigentes.
O que diz o Estado
Em nota, a secretaria de desenvolvimento econômico do Governo de SP disse que "desconhece qualquer decisão da LG de encerrar produção de notebooks e monitores em suas unidades no Estado. A LG não procurou o Governo do Estado para tratar de qualquer questão tributária". A informação contraria o que foi divulgado pelo sindicato e pela Prefeitura de Taubaté após conversas com a LG.
Ainda segundo o Estado, a gestão "acompanha a situação dos trabalhadores da LG e trabalha intensamente na atração de investimentos para a região. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico esclarece que recebeu hoje um ofício do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e que irá agendar uma reunião com seus representantes".
Insegurança
Após meses de rumores, a confirmação, nesta segunda-feira (5), de que a LG vai encerrar globalmente a divisão de celulares da marca fez com que trabalhadores da fábrica em Taubaté passassem a viver em momento de apreensão, de acordo com o relato de um trabalhador.
"É uma vida que se constrói lá dentro. Tem gente com 20 anos de casa. A gente queria um pouquinho mais de consideração e transparência por parte da empresa. Faltou consideração na forma de conduzir", disse o funcionário, que prefere não ser identificado na reportagem por medo de represálias.
O funcionário relata que a tensão pelo futuro incerto tomou conta de generalizada entre os demais setores.
"A ansiedade está bem alta. Tem pessoas ficando afetadas na parte psicológica e emocional, várias delas indo em médicos e com medo de perder plano de saúde, ainda mais neste momento. Muita gente adquiriu financiamento recentemente e fica preocupada", relata.
Impacto nas terceirizadas
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, além dos empregos diretos há ainda outros 430 funcionários de três fábricas terceirizadas exclusivas da LG que estão com os postos em xeque com o anúncio do fim da divisão de smartphones.
Com o fim das atividades em Taubaté, as fábricas da Blue Tech e a 3C, em Caçapava, e a Sun Tech, em São José dos Campos, também devem ser afetadas. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, 90% desse montante é composto por mulheres chefes de família.
Dos 430 terceirizados, são 40 da 3C, que faz a produção dos carregadores da LG, outros 170 são da BlueTech e outros 220, da SunTech - ambas fábricas que recebem matéria-prima da empresa sul-coreana e produzem os aparelhos, que depois são enviados para a matriz de Taubaté, onde recebem a certificação e são enviados para centros de distribuição.
O que diz a LG
A LG anunciou apenas que vai encerrar a produção de celulares, mas com a decisão, funcionários em Taubaté passaram a temer que o reflexo nas demissões fosse maior. Por nota na segunda-feira, a empresa informou que vai negociar ações com o Sindicato dos Metalúrgicos para minimizar os efeitos de sua decisão.
"As negociações até o momento podem impactar os empregados dedicados à essa divisão, porém estão sendo avaliadas todas as possibilidades, tais como realocação, transferência ou rescisão", informou por nota.
A empresa informou ainda que vai seguir operando por mais alguns meses, até o encerramento total dos insumos para produção.
Greve
De acordo com o sindicato, os trabalhadores das três terceirizadas da LG na região entraram em greve nesta terça-feira (6). A paralisação ocorre na Blue Tech e 3C, em Caçapava, e Sun Tech, em São José dos Campos.
O sindicato também informou que, ainda nesta terça-feira, tem uma reunião marcada com representantes das empresas terceirizadas para discutir sobre a manutenção dos postos de trabalho.
Panorama da LG
Com o anúncio desta segunda-feira, a LG se torna a primeira grande empresa que produz celulares a se retirar deste mercado.
A sul-coreana afirma que o fim das operações foi definida após sucessivos prejuízos na área. Antes, a companhia havia tentado vender todo o setor, mas, sem sucesso, optou pelo encerramento das atividades.
"Desde o segundo semestre de 2015, o nosso negócio global de celulares tem sofrido uma perda operacional por 23 trimestres consecutivos, resultando em um acumulado de aproximadamente 4,1 bilhões de dólares (US) [em perdas] até o final de 2020", informou a LG em nota.
O futuro da LG já era especulado pela imprensa internacional desde o início do ano. Em fevereiro, uma notícia veiculada pelo jornal "The Korea Times" informava que a LG havia iniciado as negociações para a venda da produção global de celulares da marca.
No entanto, no fim de março a Bloomberg publicou que após o fracasso das negociações com uma empresa alemã e outra vietnamita, a empresa sul-coreana iria fechar o setor em vez de vendê-lo.