Uma garota está causando furor nos corredores do Fórum Internacional do Software Livre (Fisl14), que acontece entre os dias 3 e 6 de junho, em Porto Alegre. A francesa Camille Francois circulou durante todo o segundo dia do evento, nesta quinta-feira (4) com um Google Glass no rosto. ?É um ótimo jeito de fazer amigos?, disse Camille, sorridente, se divertindo com as diversas pessoas que pedem para tirar uma foto com os óculos.
A surpresa de todos é justificada: o Google Glass, anunciado por muitos como a nova revolução da tecnologia, só existe em versão protótipo. O namorado de Camille, americano, é um dos poucos sortudos escolhidos pela empresa para testar os óculos de realidade estendida, que permitem gravar vídeos, tirar fotos e acessar aplicativos, utilizando uma mistura de comandos de voz, botões, armação sensível ao toque e movimentos de cabeça.
"Estou com os óculos apenas desde o início do dia, ainda não me acostumei", disse Camille, enquanto inclinava a cabeça para trás repetidas vezes. Esse é o jeito de ativar o menu do Google Glass, mas para um leigo parece que Camille foi acometida de um torcicolo.
E o que Camille, uma das poucas pessoas no mundo a usar a próxima revolução do Google, está achando dos óculos? Ela fica séria. "Eu acho perturbador, é como se eu apontasse uma câmera para você o tempo todo. É invasivo. E não tem nada de livre. Eu me sinto meio mal por usar o Google Glass num evento de software livre.", admitiu Camille.
"Conversei com o meu namorado, que está usando o Google Glass há uma semana, sobre as situações onde usá-lo seria apropriado. A conclusão foi: nenhuma. Na rua, bares, restaurantes, não importa. Hoje eu entrei no banheiro do evento e quem estava lá me olhou assustada. É lógico, eu estou com uma câmera no rosto. É muito agressivo.", declarou.
Violação de privacidade?
Para Camille, uma das coisas mais assustadoras sobre o Google Glass é que ele pode, no futuro, ser considerado algo natural, quando na verdade é uma violação constante de privacidade. "E tudo o que você vê, o Google também vê.", disse Camille.
O comportamento de Camille é estranho, pois ela alterna entre um discurso preocupado e outro bem relaxado, quase desdenhando do produto. "Não dá pra fazer muita coisa com ele ainda, além de fotos e vídeos. Eu estou mais interessada nos usos que as pessoas podem fazer dele. Eu tenho um amigo que é VJ e ele teve as melhores ideias, de misturar suas performances visuais com gravações feitas pelos usuários do Google Glass no meio de uma festa. Isso é legal, mas agora, nesse momento, o Google Glass não tem muita utilidade. É um brinquedo para geeks.", disse.
Função Hangout
Ela ressaltou, por outro lado, que a função ?Hangout? é bem divertida. Trata-se de transmitir tudo o que se vê para um outro computador, como se os óculos virassem uma webcam numa conversa online. Camille passeou pelo evento com a função Hangout ligada e transmitiu tudo para o seu irmão em Paris. Mas o Google não se importa que Camille passeie por aí com um protótipo, correndo o risco de ser assaltada? Camille dá de ombros. "Eles não se importam", alertou.
E se ele for roubado?
Ela aproveitou para dizer que, mesmo que fosse roubada, os óculos estão sincronizados com o seu celular, ou seja, muitas das funções do Google Glass, como avisar quando há novas mensagens no smartphone, vão ser inúteis para os ladrões. "Se você tirar essa coisa do celular, não tem muita coisa para fazer. Eles iam se cansar e vender por um punhado de dólares para algum nerd", disse Camille, totalmente despreocupada.
De um modo estranho, os óculos que chamam tanta atenção no Fisl não surpreendem em nada a Camille. Ela resume suas impressões numa simples frase: "Ele nem é o meu tipo de óculos preferido", concluiu.