Depois de passar a noite numa pequena sala improvisada como cela na Superintendência da Polícia Federal de São Paulo, o ex-presidente Michel Temer deve receber neste sábado autorização da Justiça para ser transferido a um batalhão da Polícia Militar. Preso na quinta-feira, o ex-presidente está isolado numa sala de cerca de 20 metros quadrados. Para usar o banheiro, na outra ponta de um corredor, precisa ser escoltado por um policial.
Se transferido, Temer ficará numa área administrativa, com sala e um dormitório. O ambiente foi adaptado às pressas ontem, logo depois do pedido feito pela defesa para que ele deixasse as dependências da PF. Na nova sala, Temer teria uma cama, uma espécie de escrivaninha, banheiro e acesso à TV.
A própria Polícia Federal foi quem pediu autorização à juíza federal Caroline Vieira Figueiredo, que substitui Marcelo Bretas, de férias, na 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, para que Temer fosse transferido para uma sala de Estado maior da PM paulista.
“Informamos que a Superintendência Regional em São Paulo conseguiu sala com as condições adequadas para receber o preso Michel Miguel Elias Temer Lulia. Desta forma, solicitamos autorização de Vossa Excelência para a transferência imediata do preso para a sala de Estado Maior localizada no Batalhão Romão Gomes, da Polícia Militar do Estado de São Paulo”, escreveu o delegado regional da PF, Luiz Roberto Ungaretti de Godoy.
Amigo de Temer há mais de 30 anos, também preso na quinat-feira, João Baptista Lima Filho, conhecido como coronel Lima, foi levado para o presídio militar Romão Gomes, também na capital paulistana.
Temer e Lima são acusados de envolvimento num esquema de propina em obras em Angra 3. A empresa do amigo do ex-presidente, a Argeplan, teria sido usada para movimentar propina no valor de R$ 1,091 milhão, que teria sido destinado ao ex-presidente.
Visita de aliado
Além de seus advogados, o ex-presidente recebeu ontem a visita do ex-deputado e ex-ministro Carlos Marun, tido como braço direito no governo do emedebista. Com a prerrogativa de advogado, Marun já havia visitado Temer na cadeia no Rio, onde ficou por quatro dias em março deste ano.
O ministro Antonio Saldanha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), informou na quinta-feira que a Sexta Turma da Corte vai julgar somente na terça-feira o pedido de habeas corpus do ex-presidente . Relator do HC, Saldanha Palheiro poderia ter concedido uma decisão liminar individualmente, mas, ao analisar a complexidade do caso e para respeitar uma tradição da Sexta Turma, decidiu levar o habeas corpus para julgamento em conjunto com seus colegas na próxima sessão do colegiado.
Na sexta-feira, à rádio Eldorado, o advogado de Temer, o criminalista Eduardo Carnelós, mostrou preocupação com o julgamento do recurso no STJ.
"Lamentavelmente, temos uma campanha forte contra magistrados que decidem para garantir os direitos de pessoas que são injustamente presas”, declarou o advogado.