O medo de Valéria Abdala, de 19 anos, não é maior que o constrangimento por precisar disfarçar a parte do cabelo que perdeu ao ser agredida por três jovens em Charqueadas, na Região Carbonífera do Rio Grande do Sul. Enquanto aguarda o resultado de um exame que apontará se as batidas que levou na cabeça provocaram algum dano grave, ela diz ainda ser ameaçada lida com a sequela psicológica.
"Estou assustada, tomando remédios para o nervosismo", disse a jovem em conversa por telefone. "Eu tenho vergonha de tudo o que aconteceu. Não sei o que ela pretende, eu sei que ela cortou meus cabelos. Não foi muito, em cima deixou falhas, fiquei careca, e eu prendo. É difícil", acrescentou, com a voz embargada.
Ela conta que a agressão aconteceu no dia 31 de março. Uma menina começou a brigar com ela e contou com a ajuda de outras duas jovens para agredir Valéria. Com a tesoura, a agressora cortou parte do cabelo de Valéria. O espancamento foi gravado em vídeo, e as imagens foram encaminhadas a uma irmã da jovem após o fato por uma rede social através de telefone celular. Nas imagens, as agressoras fogem depois que um homem aparece dizendo que a polícia havia sido acionada.
Valéria diz que vinha sendo ameaçada pela jovem que iniciou a briga várias vezes antes de ser agredida. Mesmo depois, ela conta que segue sendo ameaçada, e só tem saído de casa na companhia dos irmãos. Ela diz ter prestado queixa à Polícia Civil. Na delegacia, ouviu que só seria tomada uma providência pela sua segurança após sair o resultado dos exames de corpo de delito.
"Eu não sei mais o que faço. Daqui a pouco pode acontecer alguma coisa e não adianta mais polícia", alerta.
Segundo Mari Abdala, mãe de Valéria, diz que a jovem chegou a ameaçar a filha de morte. ?Não duvido de mais nada?, diz a jovem. "Ela disse que era só cortar meu cabelo, mas e se não tivesse aparecido uma pessoa para me ajudar? Um homem foi atrás de mim e me cuidou até eu ir embora. E se isso não tivesse acontecido?", questiona.
Uma versão para o início da briga foi apresentada pela jovem agredida, mas ela pediu à polícia sigilo a fim de preservar a privacidade. Porém, o titular da Delegacia de Charqueadas, Rodrigo Reis, adiantou que questões passionais estariam por trás do conflito. "Precisamos ouvir as outras parte para saber o que ocorreu, se as outras agrediram ou se foi um caso de legítima defesa", explicou o delegado.
As imagens, já acessadas pela polícia, mostram que a briga começou quando a jovem agredida conversava com uma das amigas. Em seguida, ela é derrubada. Outra jovem, que filmava a discussão, ajuda a primeira. As duas usam uma tesoura, aparentemente, para tentar cortar o cabelo dela.
Ao se esquivar para impedir o corte, outras duas jovens também passam a participar das agressões. Aos gritos de "me ajuda", ela seguiu tentando se desvencilhar. No áudio do vídeo, a voz de um homem avisa que a polícia estava chegando, o que fez a briga terminar.
"Se as agressões forem comprovadas, elas serão, no mínimo, indiciadas por lesão corporal", ressaltou o delegado. Segundo a polícia, não foram registradas novas ocorrências de ameaça desde então.