Transplante de órgãos com HIV: falha registrada no RJ é inédita, diz especialista

O recente caso de seis transplantados que receberam órgãos contaminados pelo HIV no Rio de Janeiro marca um triste capítulo na medicina brasileira.

Laboratório responsável por exames em doares no RJ está fechado | Rafael Nascimento/g1 Rio
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O recente caso de seis transplantados que receberam órgãos contaminados pelo HIV no Rio de Janeiro marca um triste capítulo na medicina brasileira, conforme destaca a infectologista Lígia Câmera Pierrotti, coordenadora da Comissão de Infecção em Transplante da ABTO. Este é o primeiro caso documentado no país e levanta questões importantes sobre os processos de triagem e segurança no transplante de órgãos.

Graças aos avanços nos testes de triagem do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), a detecção precoce de infecções em doadores, incluindo o HIV, é cada vez mais eficaz. Todos os órgãos destinados ao transplante passam por rigorosos testes de sorologia, que incluem HIV, hepatites B e C, HTLV, entre outras infecções. A Anvisa estabelece critérios rigorosos que devem ser seguidos.

PROCESSO DE TRIAGEM

A triagem laboratorial envolve a análise de amostras de sangue de potenciais doadores para identificar infecções. Além dos testes laboratoriais, entrevistas e exames físicos são realizados para garantir que não existam condições que impeçam a doação. 

Desde a década de 60, o Brasil tem se destacado no cenário global como o quarto país que mais realiza transplantes de fígado e rim, sem casos registrados de transmissão de HIV até o momento. O Ministério da Saúde regulamenta essa triagem através da Portaria nº 2.600, de 21 de outubro de 2009.

VIGILÂNCIA

A vigilância retroativa é uma prática necessária quando há eventos adversos, como infecções nos receptores. Após a confirmação da contaminação pelo HIV em um doador, as autoridades de saúde iniciaram uma investigação rigorosa e a interdição cautelar do laboratório responsável.

Por isso, o Ministério da Saúde solicitou a interdição cautelar do laboratório ordenou a retestagem do material de todos os doadores.

"O Ministério da Saúde e os demais agentes sanitários reforçaram as normas e orientações técnicas, que já são robustas, com o intuito de aprimorar os procedimentos de identificação de doenças transmissíveis antes da doação. Esse esforço visa reduzir ainda mais as chances de transmissão de infecções como o HIV ou a Hepatite C, garantindo que o sistema de transplantes no Brasil continue a operar dentro dos mais altos padrões de segurança", afirmou a pasta, em nota.

TESTES PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE

O risco de transmissão do HIV durante um transplante é considerado baixo devido aos criteriosos processos de rastreamento. Os testes para HIV no Brasil são altamente sensíveis. O teste ELISA de 4ª geração, padrão utilizado, identifica o vírus com precisão de até 95% após 4 semanas e quase 100% após 6 semanas. Caso um teste inicial apresente resultado positivo, um segundo teste é realizado para confirmação.

"O teste de HIV é muito sensível e o risco de um teste falso negativo é muito pequeno. A transmissão do HIV, em transplante de órgao, é completamente inesperada e evitável", diz Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

SUSPEITA DE QUE TESTES NÃO FORAM REALIZADOS

O governo do estado atribuiu o erro ao laboratório privado PCS Lab Saleme, que não cumpriu os requisitos adequados para a realização dos exames. A Anvisa descobriu que o PCS não tinha kits para realização dos exames de sangue nem apresentou documentos comprovando a compra dos itens, o que levantou a suspeita de que os testes podem não ter sido feitos e que os resultados tenham sido forjados.

"Os novos testes contra HIV têm uma janela de apenas quatro semanas, o que torna o risco de contaminação muito baixo, pois são altamente sensíveis para diagnosticar o vírus", explica Álvaro Costa, infectologista do Hospital das Clínicas da USP.

PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO HIV

Pessoas vivendo com HIV que mantêm uma carga viral indetectável têm risco zero de transmitir o vírus sexualmente. É essencial que haja uma avaliação completa do doador e que os testes sejam realizados corretamente para garantir a segurança no processo de transplante.

Com informações do g1

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