O recente caso de seis transplantados que receberam órgãos contaminados pelo HIV no Rio de Janeiro marca um triste capítulo na medicina brasileira, conforme destaca a infectologista Lígia Câmera Pierrotti, coordenadora da Comissão de Infecção em Transplante da ABTO. Este é o primeiro caso documentado no país e levanta questões importantes sobre os processos de triagem e segurança no transplante de órgãos.
Graças aos avanços nos testes de triagem do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), a detecção precoce de infecções em doadores, incluindo o HIV, é cada vez mais eficaz. Todos os órgãos destinados ao transplante passam por rigorosos testes de sorologia, que incluem HIV, hepatites B e C, HTLV, entre outras infecções. A Anvisa estabelece critérios rigorosos que devem ser seguidos.
PROCESSO DE TRIAGEM
A triagem laboratorial envolve a análise de amostras de sangue de potenciais doadores para identificar infecções. Além dos testes laboratoriais, entrevistas e exames físicos são realizados para garantir que não existam condições que impeçam a doação.
Desde a década de 60, o Brasil tem se destacado no cenário global como o quarto país que mais realiza transplantes de fígado e rim, sem casos registrados de transmissão de HIV até o momento. O Ministério da Saúde regulamenta essa triagem através da Portaria nº 2.600, de 21 de outubro de 2009.
VIGILÂNCIA
A vigilância retroativa é uma prática necessária quando há eventos adversos, como infecções nos receptores. Após a confirmação da contaminação pelo HIV em um doador, as autoridades de saúde iniciaram uma investigação rigorosa e a interdição cautelar do laboratório responsável.
Por isso, o Ministério da Saúde solicitou a interdição cautelar do laboratório ordenou a retestagem do material de todos os doadores.
"O Ministério da Saúde e os demais agentes sanitários reforçaram as normas e orientações técnicas, que já são robustas, com o intuito de aprimorar os procedimentos de identificação de doenças transmissíveis antes da doação. Esse esforço visa reduzir ainda mais as chances de transmissão de infecções como o HIV ou a Hepatite C, garantindo que o sistema de transplantes no Brasil continue a operar dentro dos mais altos padrões de segurança", afirmou a pasta, em nota.
TESTES PARA A SEGURANÇA DO PACIENTE
O risco de transmissão do HIV durante um transplante é considerado baixo devido aos criteriosos processos de rastreamento. Os testes para HIV no Brasil são altamente sensíveis. O teste ELISA de 4ª geração, padrão utilizado, identifica o vírus com precisão de até 95% após 4 semanas e quase 100% após 6 semanas. Caso um teste inicial apresente resultado positivo, um segundo teste é realizado para confirmação.
"O teste de HIV é muito sensível e o risco de um teste falso negativo é muito pequeno. A transmissão do HIV, em transplante de órgao, é completamente inesperada e evitável", diz Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
SUSPEITA DE QUE TESTES NÃO FORAM REALIZADOS
O governo do estado atribuiu o erro ao laboratório privado PCS Lab Saleme, que não cumpriu os requisitos adequados para a realização dos exames. A Anvisa descobriu que o PCS não tinha kits para realização dos exames de sangue nem apresentou documentos comprovando a compra dos itens, o que levantou a suspeita de que os testes podem não ter sido feitos e que os resultados tenham sido forjados.
"Os novos testes contra HIV têm uma janela de apenas quatro semanas, o que torna o risco de contaminação muito baixo, pois são altamente sensíveis para diagnosticar o vírus", explica Álvaro Costa, infectologista do Hospital das Clínicas da USP.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO HIV
Pessoas vivendo com HIV que mantêm uma carga viral indetectável têm risco zero de transmitir o vírus sexualmente. É essencial que haja uma avaliação completa do doador e que os testes sejam realizados corretamente para garantir a segurança no processo de transplante.
Com informações do g1