Não são apenas as doenças detectadas recentemente, como a Aids, que preocupam as autoridades em saúde, no mundo. Enfermidades registradas em séculos passados e que passaram várias décadas sem assustar a humanidade, voltam a ser registradas e em números significativos, em várias partes do planeta.
Exemplo disso, é a leishmaniose, ou calazar, que, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), chegam a 2 milhões os casos registrados no mundo a cada ano. Em Teresina, no ano passado ela foi responsável pela morte de três pessoas, residentes na capital. Nesse ano, o número de óbitos causados pela doença já chega a três.
Em 2012 foram registrados 75 casos da enfermidade. Neste ano, já chega a 25. Essa foi uma doença considerada um mal rural, mas, com o passar dos anos, tornou-se problema nos grandes centros urbanos. No Brasil, o Ministério da Saúde alerta que são 25 mil novos registros anuais. Causada pelo protozoário Leishmania chagasi, ela é transmitida por vetores da espécie Lutzomia longigalpis e L. cruzi, mosquitos que vivem em ambientes escuros, úmidos e entre os acúmulos de lixo orgânico.
A hanseníase, apesar de ter sofrido uma diminuição significativa no número de casos, nos últimos cinco anos, em Teresina, ainda preocupa e obriga equipes da Fundação Municipal de Saúde a realizarem campanhas anuais para buscar seu controle, além do uso de outros mecanismos. Em 2007 eram mais de 800 casos da doença na capital piauiense. Já em 2012 esse número foi reduzido para pouco mais de 400. ?Apesar da diminuição ainda temos mais de 400 casos. Nossa equipe do Programa de Saúde da Família estão sempre atentas aos casos dessa doença. Nós temos feito, inclusive, campanhas nas escolas?, disse a enfermeira do Programa de Enfrentamento da hanseníase, Alaide Amorim.
Para Lucimar Batista, da coordenação do Morhan, entidade sem fins lucrativos com atividades voltadas para a eliminação da Hanseníase, o diagnóstico em Teresina ainda deixa a desejar, principalmente, porque segundo ela, as equipes do PSF ainda não fazem isso com a frequência desejada. ?As equipes encaminham muitos casos para os hospitais de referência e com isso o paciente perde tempo e atrasa o diagnóstico e o tratamento. O ideal é que todos os profissionais do PSF fizessem esse diagnóstico prontamente?, disse.
A dengue é uma dessas doenças que apresenta aumento no número de casos mais significativos. Em 2008, foram notificados 1.887 casos da doença na capital. Só no primeiro semestre desse ano esse número quase dobrou, chegando a 2.145 casos, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde. ?A melhor forma de evitar a dengue ainda é combater seus focos. Não se pode deixar água parada, nem dentro de casa, nem no quintal. As pessoas precisam ficar atentar a isso?, alertou a Diretora de Vigilância em Saúde da FMS, Amariles Borba.
Segundo o Ministério da Saúde, houve um aumento de 109,43% no número de casos de dengue em relação ao ano passado, com o registro de 108,4 mil pessoas que contraíram a doença no país. Em 2009, o número de infectados foi de 51.873. Doenças como malária e doença de Chagas não são registradas em Teresina, mas existem casos delas no Brasil e em outros municípios piauienses. A doença de chagas é registrada no sul do Estado, com um número de oito pessoas com a doença, para cada 100 mil habitantes. Já malária, um dos problemas para o qual desde muito tempo não se apresentam soluções, continua se alastrando pela Amazônia, com 500 mil casos novos por ano.
Tuberculose ainda é problema de saúde pública em Teresina
O avanço da tuberculose em Teresina, nos últimos anos, talvez seja o que mais preocupa as autoridades em saúde da capital. Segundo a gerente de epidemiologia da FMS, Amparo Salmito, esse ainda é um problema de saúde pública de Teresina e se agravou nos últimos 20 anos e muitos desses casos novos se relacionam com o Vírus HIV. Em 2011 foram registrados 362 casos da doença em Teresina. Já em 2012 foram 289.
?As pessoas com Aids tem a imunidade baixa e, dependendo do estágio da doença, até inexistente. Quando o bacilo entra em contato com a pessoa, que está com essa baixa imunidade causada pela Aids, a tuberculose aflora. Mas isso não é só em Teresina e não é só no Piauí. Estamos vendo que o mundo volta a sofrer com essa doença. A Europa agora está passando por problemas por causa do avanço da enfermidade no continente?, disse Amparo Salmito.
Pobreza está relacionada a doenças
Essas doenças estão relacionadas intimamente com as condições precárias de moradia e ainda com a falta de saneamento básico. No caso do calazar, o mosquito se reproduz em fezes tanto humanas como animais e a falta de fossas sépticas e de saneamento contribuem para que isso aconteça. ?Muitas dessas doenças são mais comuns em regiões periféricas, onde as pessoas tem renda mais baixa?, afirmou Alaide Amorim.
Em residências menores e mais humildes, muitas pessoas costumam dividir pequenos espaços, o que contribui para a transmissão mais fácil de algumas dessas enfermidades. ?Além disso, a falta de informação das pessoas também ajuda a proliferação dessas doenças?, disse Amariles Borba.
No caso da dengue, as regiões periféricas são as mais prejudicadas justamente por não terem um bom serviço de abastecimento de água. A interrupção constante no fornecimento obriga os moradores a acumularem água em baldes, o que facilita a proliferação do mosquito. Em Teresina, bairros como Itararé, Santa Maria da Codipi, Mocambinho e outros são os que registram maior número de casos.