Passado pouco mais de um ano da morte de Oscar Niemeyer, familiares do grande arquiteto não se entendem e ainda discutem o destino do acervo dele e, sobretudo, a partilha dos bens. Alguns desejam que a Fundação Oscar Niemeyer, com sede em Brasília, cuide de parte do acervo e que o restante fique na Casa das Canoas, no Rio de Janeiro, que poderia vir a se transformar em museu para abrigar alguns dos mais de 10 mil documentos, entre fotos, desenhos, projetos e textos.
"Procuro ficar distante das questões burocráticas da Fundação, assim como Oscar também ficava. Ele não gostava muito de como as coisas eram conduzidas por lá", afirma Vera Lúcia, de 67 anos, a viúva do arquiteto. Outra questão a ser resolvida é a continuação ou não do escritório de Niemeyer e os projetos que estavam em andamento na época da morte dele, entre eles a biblioteca pública de Argel, na Argélia; o centro cultural de Ponta Delgada, em Açores; e a vinícola Chatêau La Coste, na França.
No meio do ano, o advogado Wilson Mirza, amigo de longa data e inventariante escolhido por Niemeyer ainda em vida, deu início ao trabalho de intermediar a partilha dos bens e chegar a um acordo entre os familiares - cinco netos, além da viúva, que foi secretária do arquiteto por 15 anos antes de se casar com ele em novembro de 2006, às vésperas de Niemeyer completar 99 anos. "Quando ele começou a ter problemas de saúde, me pediu para fazer um testamento. Ele quis amparar a Vera e assegurar a ela a habitação vitalícia do apartamento onde eles moravam, em Ipanema. Isso, mesmo eles sendo casados por separação absoluta de bens. E assim foi feito", afirma Mirza.
O advogado diz que, ao contrário do que se especula, Vera tem direito ao imóvel e pode usá-lo enquanto viver. "Eu sou contra alguns membros da família quererem brigar com a Vera por causa do apartamento de Ipanema ou mesmo por parte dos direitos das obras. Ela foi a grande alegria do meu avô nos últimos anos da vida dele", diz Kadu Niemeyer, um dos netos do arquiteto. "Quando eles casaram, a família não queria que eles morassem lá no imóvel, mas acabaram cedendo", afirma Mirza.
Vale lembrar que a galerista Ana Maria Niemeyer, única filha do arquiteto (morta em junho do ano passado, aos 82 anos) era declaradamente resistente ao casamento do pai com Vera Lúcia. Há alguns meses, Mirza desistiu de ser o inventariante. "Fiz uma petição renunciando ao cargo. Não quis estimular a disputa entre eles e achei que seria prudente que os herdeiros se entendessem", diz o advogado. "Por lei, eu seria a atual inventariante. Estou esperando o juiz decidir. Se tiver paciência, vou ser", afirma Vera Lúcia.