Bomba! Esse salgado de nome explosivo que é sucesso nos intervalos das escolas e universidades de Teresina tem uma história bastante peculiar. É que nem todo mundo sabe que a merenda foi criada aqui mesmo, e nem faz tanto tempo assim.
A receita original leva presunto e queijo no recheio, mas a massa é uma mistura de trigo, fermento, açúcar, sal, leite e gema de ovo. Saber a fórmula até que não é tão difícil, a grande diferença para fazer uma bomba de qualidade é a quantidade dos ingredientes e o tempo de fritura do salgado.
A bomba surgiu ainda na década de 80, precisamente em 1982, pelas mãos habilidosas de dona Marlene Ferreira, que hoje tem 81 anos: “Nós estávamos fazendo salgados... Aí sobrou uma bolinha de massa.
Como tinha presunto e queijo, abri aquela massa desinteressadamente, enchi, passei farinha de rosca, virei para meu irmão e disse: ‘Meu irmão, quando você terminar de fritar os pastéis, frita aí essa bomba’. Aí ele fritou, ficou bonito, nós partimos e cada um comeu um pedaço...”, relata dona Marlene.
“Quando foi no outro dia fiz oito bombas, coloquei no balcão pra vender e os alunos do Colégio Diocesano, muito barulhentos, perguntavam: ‘Ei Dona Marlene, que bola é essa?’ E eu respondia: ‘Não é bola não, é bomba!’”, brinca a simpática senhora.
O sucesso da bomba de dona Marlene logo se espalhou pela cidade, e o salgado passou a ser comercializado por muitas pessoas. Assim como a coxinha, o pastel e outros salgados convencionais, a receita caiu no domínio público.
Alguns brincam que dona Marlene deveria ter patenteado a receita: “Eu nunca tive essa ideia. Eu lá sabia o que era patentear, criatura?”, diz entre risos.
Mas que bom que não patenteou, pois assim a receita abriu horizontes e adotou diversos formatos. Formatos gigantescos, diga-se de passagem. As bombas gigantes do bairro Cabral, zona Norte de Teresina, são famosas em toda a cidade.
Quem faz essas bombas é a dona Célia Maria, de 47 anos, mais conhecida como Dodoia. Muitos a chamam de Tia da Bomba, mas ela prefere Dodoia mesmo.
A mulher por trás deste mito do Cabral faz suas bombas em uma casa simples, mas é tudo feito com muito amor e carinho. Célia diz ter começado o negócio há seis anos, após um curso de salgados que fez. Mas as bombas gigantes são exclusividade dela: “Já vendi de 20 a 60 bombas por dia.
Ultimamente faço menos para não sobrar. Mas é a noite todinha o pessoal procurando bomba”, relata Célia. A bomba da dona Dodoia serve 4 pessoas, e pesa aproximadamente 1 kg.
"Ninguém faz como eu"
Muito católica, a dona Dodoia parece ter tirado da Bíblia a multiplicação dos alimentos. Os preços dos salgados gigantescos desta senhora vão contra as leis de mercado. Para se ter ideia, a bomba gigante que possui um recheio generoso de mortadela com queijo mussarela custa apenas R$ 4,50.
Por outro lado, a dona Marlene não abre mão da bomba tradicional, de sua autoria. De acordo com ela, a bomba verdadeira é feita com queijo qualho e presunto: "A massa tem que ter essa textura [aponta para a massa], ninguém sabe fazer como eu!", diz sorrindo.
É claro que cada uma vai defender sua receita, mas o que a reportagem pode garantir é que os dois salgados são deliciosos, e retratam com maestria o que há de melhor e mais peculiar na culinária mafrense.