Apesar da greve ser um importante instrumento democrático de negociação, a paralisação de uma atividade trabalhista sempre afetará o usuário ou cliente que depende de um serviço.
Os estudantes das universidades federais, que já estavam sendo afetados pela greve dos técnicos administrativos, agora sofrem com a interrupção das aulas pelos professores, que foi deflagrada no começo desta semana.
Com o calendário acadêmico suspenso, os estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) não retornaram às aulas do período 2015.2, diferente do que ocorreu na última greve da classe em 2012.
Na época os docentes paralisaram as atividades no meio do período, acarretando diversos prejuízos futuros, como a programação de aulas com férias de 20 dias e a demora na conclusão do curso.
Cursando o último bloco de Filosofia, o estudante Bruno Thompis vai demorar mais um pouco para conseguir se formar. Para concluir o curso, ele necessita se matricular em uma disciplina complementar, através do Diretório de Assuntos Acadêmicos (DAA), entretanto o órgão está fechado por conta da greve.
“Eu estou muito perto de terminar, sem essa disciplina não conseguirei me formar no tempo certo. Eu conversei com os técnicos que garantiram a minha vaga, mas agora com a greve dos professores não tem como. Essa greve não me pegou de surpresa, era iminente a sua deflagração, é uma triste situação, mas eu entendo o lado deles”, afirma.
Para quem está ingressando agora na instituição, só resta paciência para esperar, por tempo indeterminado, o final da greve, e finalmente poder realizar o sonho de frequentar um curso de ensino superior.
A estudante Francinaira Silva conta que passou seis meses em casa na espera do início do curso de Pedagogia, que só começaria em agosto.
“Mesmo o ato ser um direito da classe, infelizmente estamos sendo prejudicados, pois estamos entrando agora e já foi difícil conseguir passar no Enem e, quando conseguimos, temos nosso sonho adiado mais um pouco.
Apesar desses problemas, temos que reconhecer que essa greve também é para o nosso bem, para melhorar a qualidade do ensino e as condições de trabalho dos professores e técnicos”, relata.
Outro prejuízo para os discentes são os custos para se manter em Teresina. Como a UFPI possui muitos professores substitutos, e somente os efetivos podem aderir à greve, os estudantes que saem de cidades do interior terão que permanecer na cidade para frequentar apenas algumas disciplinas.
Dessa forma, o orçamento previsto para ficar somente os quatro meses do período letivo ficará comprometido.
“Na última greve em 2012, eu tive que permanecer em Teresina para assistir apenas duas aulas, quando a greve voltou alguns meses depois, tive que ficar para terminar as outras disciplinas.
Na época eu tive muitos gastos e agora provavelmente acontecerá o mesmo, já que tenho professores substitutos”, relata Gleide Barbosa, que é natural da cidade de Piripiri.
Grevistas recebem apoio dos estudantes
Com as duas classes trabalhistas paralisando as atividades na universidade, estão acarretando prejuízos, entretanto, os grevistas estão recebendo o apoio dos estudantes.
Para o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da UFPI (SINTUFPI), Welter Cantanhêde, o suporte dos discentes na luta é importante, pois se todos juntarem suas forças, os resultados serão obtidos mais rapidamente.
"Com as três classes participando desse movimento, temos tudo para sermos mais fortes. É muito importante que a sociedade entenda uma greve como a nossa, pois de fato há um prejuízo, isso é inerente a esse movimento.
Mas a luta também é por eles, já que muitos estudantes serão professores no futuro e a gente sabe que a classe que forma os outros profissionais é o professor, então, é muito importante esse apoio", declara.
Com mais de 70 dias de greve, o Sindicato dos Trabalhadores da UFPI (SINTUFPI) afirma estar em um dos momentos mais fortes da luta e que o suporte dos estudantes está ajudando a manter o ânimo para continuar.
"Os estudantes têm hipotecado apoio à nossa greve, isso é muito importante, nós temos até desenvolvido ações em conjunto. Isso nos faz sentir fortalecidos, evidente que todos temos pautas diferentes, mas lutamos por um bem comum", afirma o membro da SINTUFPI, Benedito Assunção.