Quem tem carro precisa cuidar da manutenção para evitar problemas. Entre os itens mais importantes que devem ser verificados periodicamente estão níveis do óleo e do líquido de arrefecimento, além do estado das velas de ignição e dos freios. Mas quando o assunto é calibragem dos pneus, na maioria das vezes, a atenção dos motoristas passa longe, isso quando a tarefa não é completamente esquecida.
Você sabe qual é a pressão ideal dos pneus de seu veículo? Tem ideia se neste momento eles estão precisando ser calibrados? A maioria das pessoas não sabe responder a estas perguntas. Mas é bom começar a prestar atenção neste quesito, pois já é comprovado que andar com pneus abaixo da pressão especificada pelo manual do proprietário pode elevar o consumo do carro em até 10%.
Essa constatação faz parte de um Trabalho de Conclusão de Curso realizado pelos alunos Hiussen Favari, Rafael Aulicino e Tiago Diaz do curso de Engenharia do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), localizado na cidade de São Caetano do Sul, no ABC paulista.Nos testes com um Ford Fiesta e jogos pneus Cinturato P4 da Pirelli, ficou evidente que, quanto mais murchos estiverem os pneus, maior será o aumento no consumo de combustível. Além disso, o trabalho também comprovou que a vida útil pode ser afetada com a alteração da pressão interna.
Teste na pista
As avaliações foram feitas em pistas de testes que simulavam um trajeto rodoviário e outro urbano. Durante as medições, os pneus estavam pressões que variavam de 30 psi, calibragem recomendada pela Ford, até 15 psi, pressão que deixa o pneu mais murcho. Na simulação, a maior variação do aumento no consumo foi verificada no ciclo rodoviário.
Quando calibrado com a metade do valor especificado pela fabricante e trafegando em velocidade constante de 100 km/h o aumento do consumo no trajeto rodoviário subiu 10,1%. Já na pista que simulava o percurso urbano o carro apresentou alta de 6,7% no consumo.
Para Hiussen Favari, graduado pela Mauá e piloto de testes do IMT, durante os testes também foi possível perceber o reflexo da diminuição da pressão interna dos pneus no desempenho do veículo. ?Conforme diminuíamos os valores de pressão o carro ficava menos previsível, mais pesado e aumentava o nível de dificuldade para esterçar?, comenta.
Segundo os resultados, com a utilização de 15 psi de pressão nos pneus, apesar de aumentar o ângulo de esterço para manter o carro no mesmo trajeto, o veículo realizava as manobras com uma velocidade inferior do que a registrada com pressões acima deste valor. Além disso, o piloto reprovou desempenho do veículo quando calibrado com pressões abaixo de 23 psi. Outro dado interessante revelado pelo trabalho é que com pressões inferiores às recomendadas pelo fabricante aumenta a geração interna de calor do pneu, o que contribui para a borracha se degradar mais rapidamente e, por conseqüência, diminuir a vida útil dos componentes.
Frenagem
Para verificar o comportamento do veículo durante as frenagens utilizando pneus calibrados com pressões de 25 psi, 20 psi e 15 psi, foram realizados testes em duas velocidades: 60 km/h e 100 km/h.Tanto em pista seca como molhada, o piloto simulou frenagens de emergência nos trajetos urbano e rodoviário.
Após várias simulações, os pneus indicaram que o maior desgaste ocorreu com a pressão de 15 psi. Já com 30 psi, nível recomendado pela fabricante do veículo, o desgaste foi menor.Fotos tiradas dos pneus com calibragem abaixo do indicado mostram que ao invés de desgastar por inteiro, quando os pneus estão mais murchos ocorre uma lesão mais concentrada nas laterais, área conhecida como ombros dos pneus. Neste caso, a vida útil dos pneus é encurtada.
Prejuízos x cuidados
Já dizia a máxima popular que ?os pequenos detalhes fazem a diferença?. Quando observamos o que pneus descalibrados podem pesar no bolso, fica ainda mais evidente que é preciso ficar atento à recomendação do fabricante. Para Fábio Magliano, gerente de Car e Motorsports da Pirelli, as conseqüências de rodar com pneu com calibragem baixa vão desde aumento da emissão de gases gerada pela elevação do consumo, desgaste prematuro do pneu devido ao superaquecimento da carcaça, desgaste irregular, além de deixá-los mais suscetíveis a avarias.
O executivo comenta ainda que a situação inversa, ou seja, deixar os pneus com a calibragem acima do indicado, também deve ser evitada. ?Nestes casos também ocorrerá desgaste irregular e prematuro do pneu, porém mais acentuado na região central da banda de rodagem. Além disso, quando muito cheio o pneu causa certo desconforto para os passageiros, uma vez que deixa de absorver mais irregularidades do solo?, afirma.
Para evitar transtornos, o indicado é calibrar os pneus cerca de uma vez por semana, sempre levando em consideração a pressão indicada pela fabricante do veículo para o carro com ou sem carga. ?É importante lembrar que o procedimento de calibragem deve sempre ser realizado com os pneus frios, pois quando quentes há alteração da pressão interna e os valores são sempre estão altos?, orienta Fábio Magliano.