Venezuela está sob 'emergência humanitária complexa', diz ONG dos EUA

Relatório da Human Rights Watch aponta piora em indicadores de mortalidade infantil e doenças evitáveis por vacinas. ONG norte-americana também alerta para impactos em Roraima.

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A Venezuela está sob "emergência humanitária complexa", é o que aponta o relatório da ONG norte-americana Human Rights Watch, divulgado nesta quinta-feira (04). Observadores da organização e especialistas em saúde pública examinaram o colapso médico venezuelano, com aumento na transmissão de doenças infectocontagiosas no país. 

No relatório, a ONG menciona dados da Organização Pan-Americana de Saúde que indicam apenas um caso de sarampo registrado entre 2008 e 2015 na Venezuela. Desde junho de 2017, o número de casos confirmados da doença ultrapassou 6,2 mil.

Ainda em relação ao texto, a Human Rights Watch pede à Organização das Nações Unidas uma "resposta contundente" ao regime de Nicolás Maduro. Segundo o relatório, o governo chavista não só se provou ineficiente para conter a crise como a piorou e "se esforçou para suprimir informações sobre a dimensão e a urgência dos problemas".

Enfermeira atende paciente com HIV e tuberculose em hospital de Caracas, em foto de fevereiro — Foto: Reuters/Marcos Bello


Segundo a ONG norte-americana, os pesquisadores encontraram problemas como:

  1. Piora nos indicadores de mortalidade materna e infantil;
  2. Disseminação de doenças evitáveis por meio de vacinas, como sarampo e difteria;
  3. Aumento na transmissão de doenças infecciosas como malária e tuberculose;
  4. Segurança alimentar em situação crítica;
  5. Desnutrição infantil.

A Human Rights Watch também alerta que o colapso na saúde pública na Venezuela se agravou por causa do desabastecimento de comida sofrido pelo país. Um relatório da ONU divulgado na semana passada mostrou que 3,7 milhões de venezuelanos estão desnutridos.

Parte da ajuda humanitária enviada à Venezuela está retida na Colômbia — Foto: Luisa Gonzalez/Reuters


Por isso, a organização diz que vai pedir às Nações Unidas que priorizem ações humanitárias na Venezuela e que exijam das autoridades venezuelanas acessos detalhados e completos sobre saúde e abastecimento.

Além de alimentos, remédios e itens de higiene básica estão incluídos nos pacotes de ajuda humanitária retidos na fronteira entre a Venezuela e os vizinhos Brasil e Colômbia. Na semana passada, a Federação Internacional Cruz Vermelha afirmou que "tem caminho livre" para iniciar a distribuição dos carregamentos, incluindo aqueles bloqueados pelo regime de Maduro.

O governo chavista acusa os Estados Unidos e o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, de tentarem usar a ajuda humanitária como pretexto para um golpe no país. Por isso, houve confrontos nas fronteiras no chamado "Dia D" da entrega dos carregamentos, em fevereiro.

Desde então, Maduro aceitou a entrada de cargas de Rússia e China – países que ainda reconhecem o chavista como presidente da Venezuela. Os opositores ao regime, no entanto, dizem que os mantimentos são "mercadoria", e não ajuda propriamente dita.

Trabalhadores da Cruz Vermelha venezuelana em Caracas, na Venezuela — Foto: Ivan Alvarado/Reuters


 Brasil

O relatório da Human Rights Watch alertou para o impacto do colapso da saúde da Venezuela no Brasil, principalmente em Roraima. Dados coletados até fevereiro de 2019 mostram que 61% dos casos de sarampo confirmados no estado brasileiro ocorreram em venezuelanos.

A ONG norte-americana também apontou para aumento de diagnósticos de HIV entre venezuelanos em Roraima. Entre janeiro e dezembro de 2018, as autoridades estaduais de saúde registraram 56 novos casos – aumento de mais de três vezes em relação ao ano anterior.

Além disso, a ONG apontou que os pacientes venezuelanos, por chegarem debilitados ao Brasil, têm menor chance de sobreviver às doenças do que pacientes brasileiros nas unidades de saúde de Roraima.

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