As alterações climáticas resultantes do aumento da temperatura média global estão se manifestando de maneira cada vez mais evidente. O início de 2023 testemunhou intensas precipitações na Região Norte e uma seca extrema no Sul. Agora, esse cenário está passando por uma transformação completa. Conforme especialistas consultados pelo Metrópoles, a previsão para o verão é de temperaturas mais elevadas e eventos climáticos intensos.
O período de verão terá início em 22 de dezembro e encerramento em 20 de março de 2024. Francisco Aquino, líder do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), adverte sobre a característica marcante desse verão, que será marcado por temperaturas crescentemente altas.
“A gente espera temperaturas acima da média na maior parte do Brasil [durante o verão]. Em alguns momentos, a gente terá picos de temperatura e, provavelmente, algumas ondas de calor. Também são previstas chuvas, precipitações acima da média [para o período]”, pontua Francisco.
O pesquisador da UFRGS acrescenta que fevereiro trará chuvas intensas no Sudoeste do Brasil e eventos climáticos extremos em outras regiões do país. Essa ocorrência é atribuída à iminência do fenômeno climático El Niño, que se intensificará no início de 2024. No Brasil, o El Niño resulta em seca extrema no Norte e Nordeste, enquanto o Sul e Sudeste experimentam fortes chuvas.
A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Andrea Ramos, esclarece que, atualmente, enfrentamos um El Niño intenso, mas há a possibilidade de sua intensificação ao longo do próximo ano.
“Há um indicativo de que, em novembro, dezembro e janeiro, as temperaturas vão estar acima da média e, as chuvas, abaixo da média. Tem aquele perfil de chuvas ali na Região Sul, até por causa do sinal do El Niño”, destaca Andrea.
Extremos Climáticos
O Rio Grande do Sul enfrentou uma seca severa no início do ano, com terras secas, açudes e rios sem água devido à influência do fenômeno climático La Niña, que causa o resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico. No mesmo período, o Amazonas registrou um volume intenso de chuvas, resultando em alagamentos e deslizamentos de terra.
No final do ano, a situação se inverteu. Em setembro, a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, registrou o maior acumulado de chuva em um único mês desde 1916, quando os registros meteorológicos começaram na cidade. No início de novembro, entretanto, todos os 62 municípios do Amazonas entraram em estado de emergência devido à seca histórica, afetando mais de 600 mil pessoas, segundo a Defesa Civil.
Onda de Calor
Um levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indica que o número de dias com ondas de calor aumentou de sete para 52 a cada ano nas últimas décadas. Os pesquisadores utilizaram o período de 1961 a 1990 como referência e analisaram as mudanças climáticas em três períodos: 1991-2000, 2001-2010 e 2011-2020.
Recentemente, o Inmet emitiu um alerta de "grande perigo" devido às altas temperaturas para oito estados e o Distrito Federal. No entanto, essa não foi a primeira onda de calor registrada neste ano. Em julho, por exemplo, a temperatura média do país ficou 1ºC acima do esperado.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos prevê que 2023 será o ano mais quente registrado desde a Revolução Industrial, impulsionado pelo El Niño e pelas mudanças climáticas. Anteriormente, o recorde de ano mais quente era de 2016.
“A gente está vendo 2023, ele vai encerrar como um ano quente. Novembro não foi nada fácil e ainda está para terminar. Isso significa que a gente vai embalar o primeiro semestre de 2024 quente; por isso, todas as previsões no Brasil e no mundo estão apontando para anomalias positivas de temperatura”, complementa Francisco Aquino, da UFRGS.
Com informações do Metrópoles