Conhecido como o Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, o Parque Nacional Serra da Capivara atraiu, nesse final de semana, um grupo de vice-embaixadores da União Europeia. Na perspectiva de captar informações sobre a origem da pré-historia da região da Serra da Capivara e a gestão do Parque a comitiva realizou agenda com a arqueóloga Niède Guidon e a vice-governadora Margarete Coelho.
Antes do passeio pelos sítios arqueológicos, o grupo conheceu o Museu do Homem Americano e os laboratórios de pesquisa com a professora, pesquisadora e diretora presidente da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), Niéde Guidon, e o arqueólogo francês Eric Boëda, que está em São Raimundo fazendo as escavações. Na oportunidade, foi realizada uma roda de conversas com representantes do ICMBio, IPHAN, Prefeitura Municipal de São Raimundo Nonato e Governo do Estado e a delegação.
Em sua fala, Niéde Guidon falou dos desafios de manter o Parque funcionando diante da atual crise. “O que estamos fazendo é procurar realmente fazer um esforço. O Brasil está numa situação muito difícil e para quem vamos recorrer. Então, temos agora a Petrobras que vai enviar R$ 400 mil reais que a OAB-PI conseguiu. O problema é que quando tivemos que tirar 270 funcionários que trabalhavam nas 28 guaritas, construídas no entorno do Parque para proteger contra caçadores e incêndios. Demitimos os funcionários dessas guaritas que trabalhavam dia e noite com serviço de rádio e energia solar.Com isso, as guaritas quando ficaram vazias muitas pessoas foram lá, roubaram tudo, arrancaram rádios, pilhas, levaram as placas solares, que dizer agora nós tivemos com esses recursos que refazer tudo. E, é isso que é muito difícil aqui”, disse.
Em seguida, o grupo visitou a fábrica de Cerâmica da Serra da Capivara, onde se utiliza argilas selecionadas da região e criam peças modeladas por artesãos locais. A missão liderada pela vice-embaixadora da União Europeia, Claudia Gintersdorfer, que estava acompanhada do chefe do Setor de Cooperação, do Embaixador da Irlanda,da Embaixatriz da República Tcheca e dos vice-embaixadores da Alemanha, da Bélgica, da França, de Portugal e do Reino Unido conheceram a produção artesanal politicamente correta, ecologicamente perfeita e socialmente justas.
“Não se sabe ao certo quando o primeiro designer chegou à Serra da Capivara: datam 10 mil a 15 mil anos os desenhos pré-históricos que inspiram as ecas de cerâmica produzidas por moradores do povoado do Barreirinho, zona rural do município de Coronel José Dias.”, explicou a vice-governadora.
Gintersdorfer agradeceu a acolhida e apoio do Governo do Estado, ICMBio, Iphan e da Fumdham. Segundo ela, a origem da viagem foi uma iniciativa da delegação da União Europeia no Brasil que contou com apoio do Governo do Estado. “Os vice-embaixadores escolheram como destino para primeira viagem do grupo a região semiárida do Sudoeste do Piauí com o objetivo de conhecer as potencialidades e dar visibilidade à Serra da Capivara”, informou.
Margarete acompanhou a visitação e destacou a existência do com o acordo de cooperação firmando entre o Estado Piauí, IPHAN, FUNDHAM e ICMBio. “Pela primeira vez, o Estado firmou este tipo de acordo, que impulsionará muitas ações em um dos maiores patrimônios da Humanidade”, disse. Atualmente, o governo contribui com o Parque Nacional Serra da Capivara através de convênios entre a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e a Fundação Museu do Homem Americano. Além disso, com a infraestutura entorno do parque por meio da construção e pavimentação de estradas para facilitar o acesso do visitante.
“A questão financeira do Parque realmente continua acentuada, mas retomamos convênios, que havia pelo governo anterior e não havia sido honrado. Nós reativamos esse convênio e abrimos uma roda de diálogos com todos os responsáveis por esse Patrimônio Mundial da Humanidade. Além disso, obtivemos uma exitosa parceria entre o Governo do Estado, a Associação ProBrasil, a Embaixada do Brasil em Berlim e a Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa (DFG) com o projeto de divulgação da Serra da Capivara pela Europa. Por este motivo, recebemos a equipe da ZDF para gravação de documentário na Serra da Capivara e exposição fotográfica que segue atualmente por toda Europa com imagens do Parque Nacional Serra da Capivara, enfatizou.
O Parque – Patrimônio Cultural da Humanidade
A delegação conheceu o museu a céu aberto com plantas, animais e paisagem impressionante. O Parque é formado por um conjunto de quatro Serras – Serra da Capivara, Serra Branca, Serra Talhada e Serra Vermelha – que apresentam diferentes ambientes e paisagens onde se pode contemplar os monumentos geológicos, a fauna e a flora da caatinga.
Do conjunto de 1.354 sítios arqueológicos cadastrados, 183 estão preparados para a visitação turística, sendo 17 deles acessíveis a pessoas com dificuldades de locomoção. Pela quantidade e variedade dos sítios. De acordo com Eliete de Sousa, há 23 guias no Parque, o grupo iniciou o roteiro de visitação pela região da Serra da Capivara, onde foram catalogados os primeiros sítios arqueológicos.
“O primeiro sítio visitado foi o a Toca da Entrada do Pajaú, bastante interessante com pinturas da tradição Nordeste. É uma tradição como se fosse o cotidiano desse grupo representado em narrativa. As cenas apresentadas nas pinturas são de caça, parto, rituais, animais da fauna corrente. Além dele, apresentamos a eles a Toca do Paraguaio , primeiro sitio a ser encontrado no Parque, primeiro visitado pela Dra Niéde. Ele possui pinturas de cor vermelha com óxido de ferro na tradição Nordeste em que tem figura preta com carvão vegetal. Nesse sítio, foram encontrados dois sepultamentos, datam de sete mil e poucos anos e outro de oito mil e poucos anos, ao redor desse sepultamento tinha varias ferramentas líticas”, explicou.
No sábado (23), o passeio foi encerrado na Serra Vermelha, no Baixão das Andorinhas, onde diariamente, por volta de 17h30, andorinhas descem em velozes mergulhos para as fendas de um cânion de 90 m de profundidade. Já no domingo (24), o grupo de vice-embaixadores começaram o circuito pela trilha Umbu, situado na região de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que pertence a Fumdham.
Na ocasião, eles andaram no meio da Caatinga e passaram em Caldeirões, nome regional dado para reservatórios de água. “Esse Caldeirão é o local onde as pessoas que moravam próximo utilizavam essa água para sobreviver. Depois de passarmos por isso, pegamos a parte de chapada, andamos pelos paredões, onde eles conheceram mais sobre a formação geológica, as duas estruturas encontradas na região”, comentou Eliete.
Além disso, eles passaram pelo desfiladeiro da Capivara: circuito com grau médio de dificuldade; Baixão da Pedra Furada: circuito com diferentes graus de dificuldade, pois apresenta tanto sítios acessíveis como caminhadas para uma vista panorâmica e a subida até o Alto da Pedra Furada.
Para o chefe da missão adjunto, ministro conselheiro Gael de Maisonneuve da embaixada da França a viagem com a delegação da União Europeia teve a finalidade de descobrir a Serra da Capivara.