O Piauí tem hoje quase 200 crianças e adolescentes abrigados, e cerca de 6% desses menores foram retirados de suas casas porque sofreram algum tipo de violência sexual, de acordo com pesquisa realizada pelo Centro de Reintegração Familiar e Incentivo à Adoção - Cria, no ano passado.
Mas, um problema ainda maior vem acontecendo com estas crianças: algumas estão praticando a violência e outras estão sendo vítimas delas dentro dos abrigos.
Para propor soluções para as duas situações, o Centro de Reintegração Familiar e Incentivo à Adoção - Cria, reuniu na última sexta-feira (05), em sua sede, diversas entidades e autoridades que tratam dos direitos de crianças e adolescentes para discutir esta recorrente problemática em instituições de acolhimento em Teresina, o abuso sexual.
O abuso sexual dentro dos abrigos é um problema real onde protagonizam tanto como agressores e como vítimas as próprias crianças que vivem acolhidas.
Assim, a ideia do evento foi elaborar um plano de ação para barrar estes tipos de abuso e, quando aconteça, saber como proteger a vítima e o agressor, quando este é outra criança.
"Temos que saber como agir nestes casos. Descobrir saídas para tratar o agressor, para que ele não atinja outras crianças. Se precisarmos mudar ele de abrigo, para onde vamos levá-lo? Para outro?", indaga a presidente do Cria, Francimélia Nogueira, ao frisar que existem situações recentes que serviram de alerta para a necessidade de chamar os órgãos para a reunião.
"Tivemos uma situação que foi denunciada ao Ministério Público e a Defensoria, do abuso de um funcionário a um adolescente, isso foi matéria de investigação", comenta a presidente frisando que o Cria trabalha há 5 anos com crianças nos abrigos e já recebeu relatos de violência das crianças atendidas.
Além disso, o Cria tem conhecimento de casos concretos de abuso, como por exemplo, o de uma família de cinco irmãos, onde dois deles sofreram abuso. A carência e a forma como as crianças e adolescentes são organizados são alguns dos fatores que podem contribuir para o abuso.
"Os abrigos superlotados, a reunião de meninos e meninas no mesmo espaço, propicia a ocorrência desses casos", afirma a psicóloga da 1ª Vara da Infância e da Juventude, Larissa de Andrade ao comentar que não existe nenhum processo que envolva esta questão na 1ª Vara.
A reunião contou com a presença do psicanalista Francisco Passos que ministrou a apresentação sobre o tema para representantes do Juizado da Infância e da Juventude de Teresina, do Ministério Público Estadual, da Defensoria Pública, da Sasc, dos abrigos da capital, entre outros, que participarão do debate durante o evento.