A esposa de Marcos Martins, piloto morto em acidente que também vitimou o candidato à presidência Eduardo Campos há quase um ano, elaborou e enviou uma carta para o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Com a ajuda de consultores, Flávia Martins alega que as aeronaves da família Cessna 560 Citation EXCEL (XL, XLS, XLS +) apresentam uma falha de previsão no projeto - mais precisamente nos estabilizadores horizontais.
O estabilizador horizontal é responsável por apontar o sentido que o nariz da aeronave deve estar durante o vôo. Neste modelo, se a velocidade está acima de 200 nós (cerca de 400 km/h) e os flaps são recolhidos — superfícies de sustentação nas asas — o estabilizador horizontal provoca uma tendência do nariz para baixo.
No momento do acidente, o avião estava em aceleração e com um ângulo de 38º em relação ao solo, segundo o Cenipa.O documento de 16 páginas, datado no dia 6 de julho deste ano, foi remetido ao Brigadeiro Dilton José Schuck, chefe do Cenipa.
Por telefone, a assessoria de Schuck disse que os apontamentos das famílias dos pilotos serão levados em consideração, mas que uma nota oficial sobre a atual situação da investigação deverá ser divulgada nesta semana.
A queda da aeronave prefixo PR-AFA em Santos, São Paulo, matou sete pessoas há quase um ano: foi na manhã do dia 13 de agosto de 2014. Além do candidato à presidência Eduardo Campos, os pilotos Marcos Martins e o copiloto Geraldo Magela, os fotógrafos Alexandre Severo e Macelo Lyra, jornalista Carlos Percol e o assessor Pedro Valadares também morreram.
Na última coletiva de imprensa concedida pelo Cenipa, em 26 de janeiro deste ano, o órgão sinalizou que os pilotos estariam acelerando o avião e indo em direção ao solo.
Segundo o tenente-coronel Raul de Souza, o piloto fez trajeto "diferente" do previsto na carta. "A gente não pode concluir que ele tenha feito um atalho. Ele fez um procedimento diferente do que estava previsto", afirmou, na época.
Os responsáveis pela análise, porém, disseram que ainda não era possível concluir se esse fator contribuiu para o acidente nem se houve erro dos pilotos. Também disseram que não foi identificada falha técnica da aeronave.
Carlos Camacho, especialista em acidentes aéreos e piloto por 38 anos, foi quem levantou para as famílias dos pilotos a tese de uma falha de previsão no projeto do avião.
Dois outros casos foram detalhados no documento encaminhado por Flávia: um incidente aéreo que ocorreu em 2 de dezembro de 2002, na Suíça (prefixo HB-VAA); e outro mais recente, em aeronave que voava de Manaus para Orlando (prefixo PP-MDB).
De acordo com a tese das famílias, esses dois incidentes e o acidente de Eduardo Campos têm a mesma causa. “Eventos que, de uma ou doutra forma, se correlacionam e apontam o estabilizador horizontal como o verdadeiro ‘vilão’”, como está escrito na carta encaminhada às autoridades investigadoras.
Sem qualquer relação com a família dos pilotos, o professor de Aerodinâmica da Escola Politécnica, Julio Romano Meneghini, foi um dos profissionais que analisaram os vídeos do acidente há um ano. Hoje, ele diz que “não descarta a hipótese recentemente apresentada” e confirma tal fenômeno apontado pelos parentes dos pilotos como característica dessa família da aeronave Cessna.