Teresina: Viver na vizinhança da Casa de Custódia é desgastante

O receio das fugas que atormentam os moradores foi ampliado na semana passada.

VIZINHO DA FRENTE | Moradores que vivem próximos à Casa de Custódia afirmam estar em constante tensão | Reprodução Jornal MN
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Quando uma operação conjunta da Polícia Civil e da Polícia Militar abortou, na manhã da última segunda- feira, dia 12, uma fuga na Casa de Custódia, que estava sendo planejada através de um túnel que seria cavado ligando o presídio até uma casa na Rua dos Cocais, os moradores do Bairro Santo Antônio, Zona Sul de Teresina, estremeceram com um misto de medo e surpresa.

Segundo entrevista concedida pelo comandante geral da Polícia Militar na ocasião da descoberta dos planos da quadrilha, coronel Rubens Pereira, esta ?seria uma fuga cinematográfica comparável ao assalto ao Banco Central? e que só não foi para frente por conta dos serviços de inteligência da Polícia Militar e da Polícia Civil.

Quatro homens foram presos e identificados como Rogério Alves Oliveira, Marciano José da Conceição, Francisco das Chagas Sousa e Antônio Nascimento da Silva. O plano ousado foi executado em absoluto sigilo, mesmo entre os criminosos, e o túnel já possuía cerca de 15 metros de extensão.

Todos os detidos responderão pelo crime de formação de quadrilha. Vizinhos de um dos presídios mais superlotados do Estado - tem capacidade para 336 vagas, mas trabalha hoje com uma superlotação de 750 detentos - os moradores do Bairro Santo Antônio vivem apreensivos com as constantes tentativas de fuga do presídio, que muitas vezes acabam em perseguição e tiroteio como afirma a estudante, Fernanda Érica, 18 anos.

?Moro aqui desde quando nasci e não me lembro de ter sentido tanto medo quanto agora. Quando os detentos daí fogem saem correndo aqui na rua e, às vezes, logo vêm os policiais, tem tiroteio. Minha apreensão é de que alguém inocente seja ferido?, confessa meio receosa. A estudante afirma ainda que por conta disso, não fica em casa sozinha e vive com as portas de casa trancadas.

Plano foi surpresa para vizinhos

?Quando vi na televisão que tinha uma casa perto da minha que estava sendo usada para cavar um túnel eu imaginei estar lá naquelas histórias do Rio de Janeiro, da Rocinha. Nunca imaginaria isso e foi uma surpresa muito grande. Por conta das fugas e rebeliões eu já pensei até em me mudar para outro bairro?, conta a dona de casa Marisa Rodrigues da Silva, 40 anos, mãe de duas adolescentes que teme pela segurança das filhas.

O secretário estadual de Segurança, Raimundo Leite, afirma que entre tentativas, levantes e fugas da Casa de Custódia em 2011 informalmente houve um número de mais de 15 registros. Contudo, ele enfatiza que a segurança dentro da Casa de Custódia é de responsabilidade da Secretaria de Justiça.

?O que cabe a nós da Secretaria de Segurança é garantir a proteção da comunidade que vive do lado de fora dos muros do presídio. Estamos fazendo nossa parte apoiados até mesmo pelos moradores que tem solicitado e ajudado nas investigações, nas nossas operações do Rone, com a vigilância através dos helicópteros em busca de atitudes suspeitas?, explica o secretário Raimundo Leite.

Ele ainda revela que existe em andamento um trabalho investigativo para identificar, caso haja, outras casas próximas ao presídio que possam estar sendo usadas por bandidos com a intenção de servir de fuga para presos da Casa de Custódia.

Transferência da Casa de Custódia para outro local seria solução

Os moradores vizinhos à Casa de Custódia são unânimes ao afirmar que desejariam mesmo era que o presídio fosse retirado de lá e construído em um novo local mais distante. Esta é a opinião de uma moradora aposentada de 69 anos, vizinha da Casa de Cústódia, e que já mora no Bairro Santo Antônio há 29 anos.

?Para mim este presídio nem deveria ter sido construído aqui, porque quando ele foi feito já existia muita gente morando aqui e ele deveria ser relocado para um lugar distante. Esse prédio deveria abrigar um centro social, um colégio, pois traria muito mais benefício para a comunidade e não medo e insegurança.

A aposentada pediu que seu nome não fosse revelado, com medo de sofrer represálias por emitir sua opinião. Refém do medo, é como se denomina a vendedora Maria de Jesus Ferreira dos Santos, 50 anos, que trabalha oferecendo produtos para seus clientes de porta em porta. Ela é uma das pessoas que defendem a mudança da Casa de Custódia para outro local.

?Eu ficaria muito mais tranquila se mudasse essa cadeia de lugar, aqui tem muitos presos, é superlotado e a cada nova tentativa de fuga eu tenho mais medo. Quando tem rebelião eu me tranco e não saio de casa pra nada e isso prejudica meu trabalho de vendedora?, conta.

Apesar da transferência da Casa de Custódia ser apontada como solução para dar fim à insegurança dos moradores, de acordo com o Capitão Anselmo Portela, Superintendente do Sistema Prisional do Estado do Piauí, a mudança é completamente improvável.

?Uma unidade prisional desta custa muito caro para ser totalmente construída em um outro local, mas uma das nossas ações para diminuir essa insegurança é ter o governo do estado empenhado em investir na construção de novos presídios?, defende o capitão, mas ele destaca que para isso também é necessária a liberação de recursos do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

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