Kamala Harris fez o primeiro discurso como vice-presidente eleita dos Estados Unidos neste sábado (7), Wilmington, no estado de Delaware. Ela começou o citando uma frase do congressista John Lewis, que faleceu em julho: "A democracia não é um estado, é um ato".
"O que ele quis dizer com isso é que a democracia americana não está garantida. A democracia é forte o suficiente quanto a nossa vontade de lutar por ela, guardá-la e nunca achar que ela vem de graça. Proteger a nossa democracia requer luta, sacrifício, mas há alegria e progresso nisso, porque nós, o povo, temos o poder para construir um mundo melhor", afirmou a vice-presidente eleita.
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"Vocês asseguraram um novo dia para América", disse.
Kamala agradeceu à equipe que trabalhou na sua campanha com Biden e aos voluntários que trabalharam nos colégios eleitorais pelo país. Depois, ela se direcionou aos eleitores de maneira geral:
"Essa época tem sido desafiadora, principalmente nos últimos meses, a tristeza, a dor, as lutas. Mas também testemunhamos sua coragem, sua resiliência e a generosidade do seu espírito".
"Por quatro anos, vocês marcharam, se organizaram por igualdade, justiça, pelas nossas vidas, pelo nosso planeta. Depois, vocês votaram e enviaram uma mensagem clara. Vocês escolheram esperança, decência, ciência e, sim, verdade", afirmou.
Kamala falou sobre Joe Biden como "uma pessoa que cura, que une, uma mão firme". "Um homem com coração grande, que ama com desvelo, o amor dele pela Jill, que será uma excelente primeira dama", completou.
Discurso direcionado às mulheres
Kamala lembrou da chegada da mãe aos Estados Unidos para introduzir a conversa diretamente para às mulheres.
"Ela chegou da Índia aos 19 anos, não poderia acreditar nesse momento. Mas acreditava em um país em que um momento assim fosse possível. Estou pensando nela e nas gerações de mulheres negras, asiáticas, brancas, latinas e indígenas que, ao longo da História de nossa nação, pavimentaram o caminho para o nosso país nessa noite", afirmou.
"Mulheres que lutaram e que se sacrificaram por igualdade, por liberdade e por justiça para todos. Inclusive as mulheres negras que muitas vezes são esquecidas, mas que são a base de nossa democracia. Todas as mulheres que trabalharam para poder votar e mudar a lei do voto. E agora, com essa geração de mulheres que depositou seu voto e continuou a lutar pelo direito de votar e serem ouvidas", continuou.
"Hoje penso na sua luta, na sua determinação, na força da sua visão de ver o que não pode ser superado. Estou na esteira delas. Joe tem a personalidade que consegue superar barreiras, e uma foi escolher uma mulher como vice-presidente", afirmou.
"Embora eu seja a primeira mulher nesse posto, não serei a última, porque cada garotinha que me vê hoje, vê que esse é um país de possibilidades", destaca.
"Para as crianças do nosso país, não importa seu gênero, nosso país deu a vocês uma mensagem clara sonhem com ambição, liderem com convicção. E vejam vocês como outros não conseguem ver. Vamos aplaudir vocês em cada momento dessa trajetória", afirmou a vice-presidente.
"E para o povo americano, não importa em quem vocês votaram, tentarei ser uma vice-presidente para todos, como Joe vai ser. Faremos um bom trabalho essencial para não perder vidas nessa pandemia. Para recuperar a economia, para superar a crise do clima e para curar a alma de nossa nação.
"O caminho a frente de nós não será fácil, mas a América está pronta. E Joe e eu também estamos prontos. Nós elegemos um presidente que representa o melhor de nós, um líder que o mundo respeitará, os crianças vão admirar, um presidente para todos os americanos", falou antes de anunciar Joe Biden.
A eleição foi confirmada após projeções indicarem a vitória da chapa de Joe Biden e Kamala Harris na Pensilvânia neste sábado. A contagem dos votos não acabou no país e o adversário Donald Trump ainda não reconheceu a derrota.
Harris nasceu numa família de imigrantes: a mãe dela é indiana, e o pai, jamaicano. Ela é a primeira mulher a ocupar o cargo na história dos Estados Unidos.
Entenda papel de Harris na vitória
O anúncio de Harris foi a confirmação de uma promessa feita por Biden em março deste ano, quando disputava com Bernie Sanders a candidatura pelo Partido Democrata. Em um debate, Biden disse que escolheria uma mulher como candidata ao cargo de vice-presidente — Sanders afirmou que também escolheria "com toda probabilidade" uma mulher para sua chapa.
A pressão para que a mulher escolhida na chapa democrata fosse negra, como a senadora da Califórnia, aumentou após a eclosão de protestos contra o racismo no país.
Desde maio, os EUA vivem uma onda de protestos antirracistas e contra a violência policial, liderados pelo movimento "Black Lives Matter" ("vidas negras importam", em tradução livre do inglês). O estopim foi o caso de George Floyd, um ex-segurança negro que foi morto durante uma abordagem policial.
A escolha de Kamala Harris para integrar a chapa democrata foi vista como um aceno do partido às minorias, sendo ela mulher, negra e filha de imigrantes.
A opção por Harris foi fundamental para a eleição de Biden porque funcionou como um chamariz para convencer eleitores negros a votar no pleito de 2020.
Perfil da vice-presidente
Senadora pelo estado da Califórnia desde 2017, Harris chegou a se apresentar como pré-candidata à Casa Branca e liderou algumas das pesquisas internas do Partido Democrata. No entanto, foi perdendo apoio até deixar de vez a corrida presidencial.
Harris nasceu numa família de imigrantes: a mãe dela é indiana, e o pai, jamaicano. A mãe de Kamala, inclusive, se notabilizou pela pesquisa na área de câncer e como ativista de direitos civis.
Formada em direito e ex-procuradora do distrito de San Francisco e do estado da Califórnia, a agora vice-presidente eleita ganhou projeção nacional ao questionar duramente, em sabatinas no Senado, indicados por Trump para cargos de juiz da Suprema Corte e de Secretário de Justiça.