Governo ignora as mulheres
Deusval Lacerda de Moraes
Pós-Graduado em Direito
Todos sabem que o mundo vem passando por profundas mudanças. Neste cipoal de transformações se destaca a evolução econômica das mulheres. Desde a revolução sexual dos anos 1960, a crescente independência feminina fez das mulheres força motriz do crescimento mundial. O Fórum Econômico Mundial concluiu que o lugar da mulher é na economia, pois quanto maior a sua participação maior é o desenvolvimento. E foi o que afirmou categoricamente a economista paquistanesa Saadia Zahidi, chefe do programa de Mulheres Líderes do Fórum Econômico Mundial: ?As corporações e os governantes precisam perceber que a maior participação feminina aumentará a competitividade da economia mundial?.
No Brasil, a participação feminina na economia nunca foi tão alta, com mais de 60% das mulheres no mercado de trabalho. Entre os 128 países livres, o Brasil está posicionado em 46º lugar no ranking de desenvolvimento das mulheres no mercado. E vemos que o governo federal e o setor privado estão tomando medidas para o Brasil aumentar ainda mais a participação feminina na competitividade do trabalho, como, por exemplo, o desenvolvimento de infraestrutura de creches, escolas e de cuidados com idosos; redução de impostos para casas sustentadas por mães solteiras; implantação de leis severas contra discriminação; e o desenvolvimento de qualificação vocacional para mulheres que trabalham na área rural.
No Nordeste, secularmente, a mulher foi asfixiada nos seus direitos e discriminada no mercado do trabalho em razão do machismo típico da cultura regional, mas que nas últimas décadas vem passando também por grandes transformações das desigualdades do gênero, raça, classe social e etnia, e que as mulheres estão se inserindo bravamente na economia das áreas urbana e rural, no trabalho de empoderamento econômico e político. E que, assim, buscam ampliar a representação política nos espaços do poder, apoiando ações propositivas e de políticas públicas de libertação e afirmação feminina.
No contexto da autonomia e poder da mulher no Nordeste, tivemos a satisfação de receber do amigo Braz Quintans Filho matéria publicada no Portal Vitrine do Cariri, onde Evaldo Gonçalves exalta as atividades profissionais desenvolvidas pelas mulheres do Cariri da Paraíba, mais precisamente dos municípios de Monteiro, Camalaú e Congo, que estarão recebendo comissão do Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada ? IPEA, a fim de examinar o projeto de inclusão social denominado ?Projeto Mulheres do Cariri, Autonomia e Empoderamento?, escolhido para concorrer a prêmio da Secretaria Geral da Presidência da República e da União Europeia.
Segundo Gonçalves, as mulheres do cariri paraibano vêm promovendo atividades econômicas através de projetos e ações associativas conseguindo superar as dificuldades do meio e se projetarem nacional e internacionalmente. É o caso das mulheres rendeiras que conseguiram competir no mercado dos EUA e da Europa exportando renda renascença, utilizada em confecções de luxo por famosos figurinistas do mundo inteiro. Em Monteiro, a comissão visitará o Projeto Mulheres do Cariri e a Feira Agroecológica; em Camalaú, conhecerá o Projeto de Beneficiamento de Peixes; e no Congo, verá a fabricação de vassouras ecológicas.
O coordenador do ?Projeto Mulheres do Cariri, Autonomia e Empoderamento? Ronildo Monteiro disse que os projetos do Cariri da Paraíba têm contribuído para o desenvolvimento da região e maior independência financeira das mulheres. Assim, há perspectivas do Projeto Mulheres do Cariri ganhar a 5ª Edição do Prêmio Objetivos do Desenvolvimento do Milênio-ODM, com financiamento do IPEA e da União Europeia, o que significará o reconhecimento internacional desse extraordinário esforço e trabalho construtivo das denodadas mulheres do cariri paraibano. A região vive hoje verdadeira redenção no progresso socioeconômico e elevação da autoestima dessas mulheres que se transformaram em indomáveis desenvolvimentistas.
No Piauí, paradoxalmente, o governo estadual não tem uma única ação de inclusão social da mulher na economia, fato que abandonou parcela significativa das mulheres piauienses que precisaria de políticas governamentais para estimular a sua participação na População Economicamente Ativa (PEA) do Estado, mergulhando na prostituição infantil, alcoolismo, drogas e algumas aderem à delinquência juvenil, por uma razão simples: falta de perspectiva de vida, possuir precário grau educacional e inexistência de medidas oficiais de valorização da mulher na geração do trabalho e profissionalização.
Assim, os governos piauienses devem se constituir para servir a sociedade em toda a sua amplitude, e não para satisfazer as necessidades políticas ocasionais de certos mandarins que ocupam o poder. As políticas públicas devem ser adotadas em todos os setores da atividade administrativa, por isso, alguns governos, ao concluírem-se, não avançam nos benefícios da sociedade em geral. Às vezes, ficam circunscritas às ações pontuais de caráter eminentemente eleitoreiro.
Mas o governador do Piauí até que se lembrou das mulheres. Em 2006, quando era candidato a vice-governador, elegeu a esposa Lílian Martins para deputada estadual. Em 2008, quando já era vice, tentou eleger a sobrinha Jandira Martins a prefeita de Santa Cruz do Piauí. Em 2010, quando era candidato a governador, reelegeu a esposa para o Poder Legislativo. Em 2011, como governador, nomeou-a Secretária de Saúde e, logo em seguida, elevou-a a conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Piauí (TCE-PI), caso que ainda se encontra sub judice. E em 2012, já como governador, reelegeu Jandira Martins a prefeita da sua terra natal com o afastamento do titular em 2010. Eis, pois, a sua ação efetiva em favor das mulheres do Piauí
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