TEXTO: VIRGÍLIO QUEIROZ
De vez em quando, em nosso blog, iremos falar sobre as mulheres amarantinas que deixaram o seu nome gravado em nossa história. Iniciamos com a EVANGELINA ROSA que, diga-se de passagem, nos rendeu inúmeras homenagens de amigos espalhados por todo o território nacional. Hoje falaremos sobre um grande mito da cidade de Amarante, considerado por muitos como o símbolo de uma mulher de extremo amor ao próximo.
?Finada Auta? ou ?Auta Rosa?, também denominada como a ?Santa Amarantina?, tem uma história cercada de mistérios. Conta-se que ela era uma escrava e que a sua morte precoce deu-se três anos após a abolição da escravatura no Brasil. Seduzida por um filho do seu patrão (fato comum na época da escravidão), a jovem foi expulsa de casa ao conceber. Depois disso, Auta passou a fazer favores domésticos. E, com isso, arrancava o seu sustento.
O ?Mal do Século?, a tuberculose, apresentava um grande índice em Amarante. Cidade onde o comércio era próspero ? um dos principais do Estado do Piauí. Havia uma movimentação extraordinária na compra e venda de mercadorias, com produtos oriundos do exterior, notadamente Inglaterra e Portugal. O fluxo de pessoas, então, era enorme e a possibilidade de transmissão de doenças, também.
O maior foco da tuberculose se registrava nos prostíbulos. A penicilina, principal antídoto desse mal só seria descoberta, casualmente, em 15-09-1928, através de Alexander Fleming e o seu auxiliar Dr. Pryce. E apenas em 1941 estaria disponível como fármaco, portanto, já no segundo quartel do século XX. A nossa história sucede-se no final do século XIX.
As vítimas da tuberculose eram marginalizadas, principalmente aquelas de menor poder aquisitivo. Auta mendigava e levava alguns medicamentos e alimentos para as mulheres e homens que residiam nos prostíbulos localizados na beira do Rio Parnaíba, em Amarante. A tuberculose era tida, na ignorância popular, como um castigo de Deus. Se vivos os doentes eram excluídos do convívio familiar, quando morriam eram sepultados imediatamente, sem direito sequer a um asseio rápido.
Finada Auta, em sua bondade, dava banho nos mortos vitimados pela tuberculose. Com essa prática, provavelmente, ela tenha adquirido a doença e sofrido até os momentos finais de sua existência. Ao morrer, conforme é contado, o frágil corpo de Auta teve que passar por momentos de aflição entre os membros do grupo que desejava sepultá-la no único cemitério da cidade e do grupo que não desejava o seu sepultamento no local. O seu corpo foi jogado para dentro e para fora do cemitério até que alguém, com mais sensatez, persuadiu os outros no sentido de sepultar a pobre criatura, próximo ao muro, embaixo de um ?pé de mulungu? (árvore de pequeno porte, encontrada na região).
Alguns discutem sobre o sepultamento de Auta e afirmam que o fato se deu por causa do cemitério que estava lotado, sem espaço para novos corpos. Tudo bem, apenas uma pergunta: por que só Auta foi sepultada fora? Será que só ela, em 1891, e em alguns anos após, tenha vindo ao óbito em Amarante? Dizem que o intendente Demóstenes Ribeiro de Carvalho, estranhando o fato, autorizou a remoção do corpo para dentro do sepulcrário. A maior surpresa. Ao iniciar a escavação, de forma inadvertida, uma enxada tocou no rosto de Auta e dele jorrou sangue. Imediatamente o corpo foi coberto (considerado santo), permanecendo até hoje no mesmo local.
A partir desse episódio, milhares de pessoas procuram obter graças por intermédio da Santa Auta. E são muitos que dizem ter conseguido. Fato relatado no livro do escritor amarantino, Homero Castelo Branco (Auta Rosa), com o prefácio do também escritor Bruno dos Santos ? que enumera vários casos de pessoas que se dizem agraciadas. Na terra natal de Auta existe apenas uma homenagem a essa grande mulher. Uma homenagem prestada pelo atual Secretário de Saúde, Ítalo Queiroz, ao denominar uma Unidade Básica de Saúde de "Auta Rosa". Ao visitar Amarante, passe no cemitério São Gonçalo e, na frente, próximo ao muro, acenda velas e eleve uma preces à nossa querida ?Auta Rosa? - a ?Santa Amarantina?.
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