Deusval Lacerda de Moraes
Pós-Graduado em Direito
Nos cálculos probabilísticos, possibilidade zero significa dizer que não existe a menor chance de algo acontecer. Mas, no Piauí, a sobrevivência política de alguns, ou melhor, a ambição pelo poder de certas pessoas, faz com que se deslogifique até a Matemática. Isto é, que possibilidade zero seja a factibilidade do improvável ocorrer. Em outras palavras, quando é para uma coisa não acontecer, assegura-se em público que nada daquilo será realizado para surpreendentemente o mesmo apresentar-se novamente realizando o que já foi por ele descontextualizado.
Se alguém contar uma estória dessas para um alemão, que é racional e pudorado ao extremo, que, no Brasil, possibilidade zero é o poder de realizar-se uma coisa, ele não vai acreditar. Achará que está sendo zombado. Vai afirmar que brasileiro é um tremendo gozador, piadista, por saber que tal vicissitude não acontece em lugar nenhum do mundo. Para os germânicos, tradicionais estudiosos da Matemática e Física (para ter ideia, a chanceler Angela Merkel é PhD em Física e trabalhou também como Química), não existem quaisquer meios de possibilidade zero ser a oportunidade de fazer-se o que não é previsto ser feito. Ele vai explicar através de fórmulas lógicas e matemáticas que possibilidade zero é a equação do irrealizável absoluto em determinado situação, circunstância ou acontecimento.
Volvendo-se para a política piauiense, tudo pode acontecer. Até na possibilidade zero ser feito o que se garante não fazer. Lamenta-se que tal fato ocorra com político que desfruta de crédito sobre toda uma vida, de atitude e palavra. Pois os piauienses, em horário de almoço, assistiram no dia 28 de outubro de 2013 a entrevista na TV Cidade Verde, em que o ex-prefeito Sílvio Mendes (PSDB) disse: ?(...) Queria dizer tanto ao Marcelo (Castro) quanto ao João Madison que eu não estou querendo ser grosseiro, mas nunca fui a partido nenhum se oferecendo a ser candidato, até porque quando se oferece o preço fica mais baixo. A possibilidade de ser candidato a vice (do PMDB, Zé Filho, Marcelo Castro etc.) também é zero. Igual a dele?.
Mas, eis, que, mal entra o Ano Novo, a imprensa divulga que a chapa situacionista para as eleições estaduais no Piauí em 2014 figuraria nada mais nada menos do que o próprio Sílvio Mendes como candidato a vice-governador do direto Marcelo Castro (PMDB), que seria o escolhido candidato a governador, exatamente os protagonistas do bate-boca. Inicialmente, ninguém acreditou na estória. Até porque o prefeito de Teresina Firmino Filho se encontrava no Chile e não se viu qualquer movimentação do PSDB para discutir e decidir sobre a aliança, fazendo crer, destarte, que era apenas a vontade pessoal do ex-prefeito.
Convém lembrar que a instância superior dos partidos políticos no Brasil não se encerra nos Estados-Membros da Federação, ou melhor, não fica estanque aos interesses políticos locais, alinham-se a eles os interesses políticos nacionais, por isso existir em toda agremiação partidária brasileira a Comissão Executiva Nacional. E da forma como ficou no Piauí, os candidatos majoritários estaduais de partidos diferentes (PMDB, PSB e PSDB), cada um apoiando os seus respectivos candidatos à Presidência da República, o caso da candidatura Sílvio Mendes foi parar no presidente nacional do PSDB e pré-candidato a presidente da República Aécio Neves, em Brasília, em 14/1/2014.
Tanto que o Jornal Diário do Povo de 16/1/2014 intitulou a matéria: ?Firmino diz que PSDB ainda vai tentar cabeça de chapa?. E ainda disse: ?O PSDB só vai anunciar a aliança quando obtiver do PMDB e PSB garantias que as condições do partido para a aliança serão aceitas. Sem ser cabeça de chapa, o partido fica limitado no Estado por conta do cenário nacional. Os tucanos querem dos partidos (PMDB e PSB) o comprometimento com itens programáticos e políticos para homologar a chapa. Do ponto de vista programático, o plano de governo deve observar problemas urgentes, como abastecimento d?água, saneamento básico, financiamento da saúde pública e mobilidade urbana, que afetam diretamente Teresina. No campo político, o PSDB ainda quer discutir como será a coligação, se total ou apenas proporcional?. Firmino disse ainda que o sentimento do PSDB é entrar numa coligação que tenha significado.
Pelo dito acima pelo prefeito de Teresina, na formação da chapa governista não foi observado quase nada sobre o Piauí, mas tão somente se cuidou dos interesses políticos do grupo oficial, isto é, foi de afogadilho. Pelo PMDB, conforme anunciado na imprensa pelos próceres do partido, esperava-se a candidatura do vice-governador Zé Filho, mas saiu a do deputado federal Marcelo Castro. O governador Wilson Martins não sabia se seria ou não candidato a senador, estava mais para ficar. O Sílvio Mendes dizia que a possibilidade de ser candidato à vice era zero, e, de repente, aceitou ser o vice logo do PMDB e, pelo visto, sem consultar o partido. Enfim, virou o samba do crioulo doido. E nada mais oportuno do que o nosso artigo sobre o fato: ?Pelo Piauí ou só pelo poder??. Claro, restou demonstrado que só pelo poder.
Mas por que tal açodamento? Pois parece o ressurgimento do Governo Vida Nova e, assim, as forças tradicionais, conservadoras e elitistas piauienses (que estavam juntas em 2002), embora até sem alguns se tolerarem, reúnem-se outra vez contra Wellington Dias, que vem do seio do povo. E interessante, com viés novo: agora estão no Palácio de Karnak com o poder advindo do Wellington Dias, mas por não cumprirem com a sua finalidade popular serão novamente apeadas em razão da estrepitosa vitória que se desenha a favor do líder carismático e legítimo representante da força do trabalho e das massas trabalhadoras do Piauí. O povo e o índio se completam. Dão-se bem. Um sabe a linguagem do outro. E em todos os rincões do Estado. Na zona rural, nas vilas, nos povoados e nas pequenas, médias e grandes cidades. No centro e na periferia. No norte e no sul. No litoral e no sertão. Na capital e no interior. Em todos os estratos sociais e faixas etárias. Enfim, na grande maioria da população piauiense. Neste caso, como não dá para inverter a possibilidade do que vai acontecer, o triunfo será total.
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.