Uma pausa na Guerra

Uma pausa na Guerra

DEUVAL LACERDA É ARTICULISTA | DIVULGAÇÃO

O governador Wilson Martins (PSB) deve deixar a dubiedade de lado para que os piauienses tenham um mínimo de certeza do que ainda resta da sua governabilidade. O governante piauiense - apelidado de ?Tratorzão? nas eleições de 2010 pela força que dizia impingir para se eleger governador do Estado, através do apoio expressivo dos petistas como do ex-governador Wellington Dias, do presidente Lula e da candidata presidencial Dilma Rousseff - agora acena a bandeira banca em plena paz, ou seja, quer trégua sem que haja qualquer força beligerante em campanha. É meio paradoxal, face à inocuidade da iniciativa.

Na verdade, ele quer tempo para reagrupar as suas forças políticas destroçadas que estão desnorteadas para enfrentar a dureza do campo de batalha. O que aconteceu foi que o seu exército político-partidário ficou atordoado pelo fato de ter sido abandonado pelo general estrategista que nos momentos mais cruciais da refrega possui a liderança e confiança da multidão para elevar o moral da tropa e, como um Júlio César, triunfar no teatro da disputa. Mas ocorre que o atinado general-combatente assesta agora o seu arsenal político-partidário para empreender retumbante vitória em 2014 contra eventual recomposição ou até reforço do Palácio de Karnak.

Por já sentir o peso das legiões populares (pois o índio passa de 50% de aceitação nas pesquisas), o governante deseja armistício, mas emite mensagens contraditórias. Em primeiro lugar, faz apelo para manter a base de sustentação unida, quando é notória a sua desintegração para 2014, porque Wellington Dias, para o governo do Estado, e João Vicente Claudino (PTB), para o Senado, é irreversível. E repete o velho mantra de não tratar de eleição este ano. Mas com a saída do senador petista, resta o que sobrou dos aliados apenas cumprir o compasso de espera oficial, uma vez que ainda esperam reação do governante na reaglutinação das forças situacionistas.

Em segundo lugar, indeciso, confunde alhos com bugalhos. Ora diz que vai ficar no governo para concluir a sua administração que diz que o povo lhe confiou o governo até 31 de dezembro de 2014. Ora diz que amanhã a política pode ser diferente, e pode mudar de ideia, isto é, pode deixar o governo para disputar a eleição do Senado Federal. E diz também que a decisão de renunciar para concorrer às eleições ou permanecer no governo até o final do mandato vai depender das pesquisas de opinião pública e que as consultas serão realizadas antes do fim do ano. Diz ainda que vai ouvir o governador de Pernambuco Eduardo Campos e o seu partido sobre a decisão a tomar (Jornal Diário do Povo de 12 de outubro de 2013).

Depois diz na mesma matéria que a vontade é de ficar até o último dia do seu governo. E taxativamente arremata: ?eu vou reafirmar aqui que a minha vontade é de ficar até o último dia do meu mandato. A minha vontade será realizada? Eu não sei. Torço para que sim, mas isso depende, pois, acima do governador Wilson Martins está o partido, o presidente Eduardo Campos?. É triste saber que o governante em nenhum momento coloca os anseios do Piauí acima do seu projeto pessoal ou do projeto pessoal do presidente do seu partido, o governador Eduardo Campos. Pois se achava que o seu objetivo de pleitear o Senado da República seria em defensa dos valores da Nação e do Estado de origem, mas eis que o projeto do atual governador do Pernambuco prevalece sobre a primazia da própria piauiensidade.

Como numa orquestração, o deputado Osmar Júnior (PCdoB) disse no Congresso Estadual realizado nos dias 11 e 12 em Teresina que o seu partido vai atuar para que o governador Wilson Martins e o senador Wellington Dias continuem aliados nas eleições de 2014 (Jornal Diário do Povo de 13 de outubro de 2013). Tudo muito bom, tudo muito bem, mas será que tal inspiração salomônica não seja porque o DNOCS é ente do governo federal (PT) e a Secretaria do Meio Ambiente do governo estadual (PSB)? Pois quando o mandatário quis isolar Wellington Dias nas eleições de 2014, como ocorreu nas eleições de Teresina em 2012 (e contou com a prestimosa colaboração dos aliados), o parlamentar-comunista não tentou evitar os seus arroubos que desaguaram na ruptura, quando convidado pela deputada Rejane Dias afirmou convictamente nos festejos de São João do Piauí que o seu candidato à sucessão seria do coligado PMDB.

Por fim, lembraria que o governante piauiense lamentou no seu primeiro ano de mandato que não tinha a dedicação do partido para as causas do Piauí, era cada um por si. E defendia que o escoamento da produção de grãos do cerrado piauiense fosse pelo porto de Pecém, no Ceará, ou Suape, em Pernambuco, mas não recebeu apoio desses governantes para a construção do ramal ferroviário para viabilizar o transporte de cargas do Estado. E ainda vem com essa de que quem decide o seu futuro político é o seu partido ou o governador de Pernambuco? Dever obediência aos políticos nacionais é fraqueza dos líderes piauienses desde a República Velha (1889-1930), quando, na verdade, quem deveria pautar os caminhos percorridos pelos nossos políticos seriam os sublimes interesses do Piauí, como acontece com o Pernambuco (vide a sua História de Guerras, Batalhas, Revoluções, Insurreições, Movimentos e Revoltas). Já é tempo de acabar com o estigma de que o Piauí ainda é o patinho feio do Nordeste, manifestado pelo complexo de inferioridade imanente na maioria dos nossos próprios representantes.

DEUVAL LACERDA

PÓS-GRADUADO EM DIREITO



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