Poetas alagoinhenses são premiados em concurso da ALERP

JOSELY ECOLOGISTA

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Aconteceu na tarde deste sábado, 26 de outubro de 2019, o anuncio dos vencedores do Concurso de Poesia da ALERP – Academia de Letras da Região de Picos, em comemoração aos 30 anos da referida Instituição de Cultura. 

A premiação fez parte da programação do XVI Seminário de Literatura Piauiense e XIII Seminário de Literatura Picoense, na cidade de Picos. 

O concurso contou com aproximadamente 80 poetas  inscritos. Dentre eles, cinco poetas alagoinhenses: Samuel Nascimento, Otaviano Arcênio de Brito, Eva Graça Brito, Regivalda Sousa e Fidélia Rocha.  Todos os poetas alagoinhenses inscritos foram premiados.

Premiações aos escritores alagoinhenses: 

3° Lugar na categoria adulto: 

“Sou Negro”, poema de autoria do Poeta Samuel Nascimento;

Menção Honrosa:

“Esse Mundo Ficou Bom, Quando eu não prestava mais”, poema de autoria do Poeta Otaviano Arcênio de Brito;

Menção Honrosa: 

“Rebelião no Cárcere”, poema de autoria da Escritora Eva Graça Brito;

Menção Honrosa:

“A Bailarina”, poema de autoria da Escritora Fidélia Rocha;

Menção Honrosa:

“A rosa  Vermelha”, poema de autoria da Escritora Regivalda Sousa.  

Segue os poemas dos escritores alagoinhenses agraciados no concurso: 

SOU NEGRO Poeta Samuel Nascimento

 Sou negro,

Filho de Oxalá,

“Benção” de Ossaim,

E guerreiro de Xangô.

Sou negro,

Sangue africano,

Homem forte

- E valente,

Braços para a luta

- Sofrida – De viver.

Sou negro,

Sou a terra ferida,

Gemidos inclementes,

Lágrimas caídas,

Virgens pervertidas,

Vitimas demais

- Dos animais

- Brancos.

Sou negro,

Sou o corpo e a corrente,

Sou o menino em silêncio

- Jogado no inferno

- Para os diabos do navio. 

Sou negro,

Sou a vida - Vendida.

Malditas moedas de prata.

Sou a fome, a sede,

A senzala e o tronco

- Nas terras de Santa Cruz

- Negro 

- Jesus.

Sou negro,

Sou o filho de Eva,

Refém do carrasco feitor.

Rapariga do “dono”

- Desumano

- Sem AMOR.

Sou negro,

Sou o corte da cana,

A ama de leite,

Arrobas de café

- Dos coronéis

- Cruéis

- Covardes.

Sou negro,

De mãos calejadas,

Pedaços de terra – A terra,

Suor da riqueza da nação

- Morrendo de fome

- Sem nome.

Brasil “Que país é este?”.

Sou negro,

Zumbi, Palmares,

Alves, Rebouças,

Gama, Nabuco e Patrocínio...

- Lei Áurea

- Liberdade?

Sou negro,

Exu, candomblé,

Sertões – Favelas,

Cultura – Axé, Conceição, 

Firmina, Mel Adún,

Carolina, Maranhão...

- Brasil.

Sou negro,

Direitos feridos até quando?

Quem fere?

- A elite racista

- De bíblia na mão

- Piores animais

- Humanos?

Sou a luta,

A vida,

As mãos,

As feridas.

- Um sorriso negro.

ESSE MUNDO FICOU BOM, QUANDO EU NÃO PRESTAVA MAIS Otaviano Arcênio

 

Recordo aquelas delícias

Do meu tempo de criança,

Hoje só resta lembrança

Do tempo da meninice,

Porque caí na velhice

Só dou um passo pra trás,

O que fiz não faço mais

Porque me faltou o dom,

O mundo vei ficar bom

Quando eu não prestava mais.

Lá na minha mocidade

Era tudo diferente,

Quando eu era adolescente

Não havia vaidade,

Nem tinha civilidade

Como hoje o povo faz,

No meu tempo de rapaz

Não existia loçom,

O mundo vei ficar bom

Quando eu não prestava mais.

Hoje vou um poerão

Vejo o povo chegar,

Vejo as meninas pular

Me chega recordação,

Não entro na diversão

Porque me falta cartaz,

Encosto nas laterais

Fico distante do som,

O mundo vei ficar bom

Quando eu não prestava mais.

Mas não odeio a pobreza

Que vim de família pobre,

Mas quando a pessoa é nobre

Pra mim tem toda riqueza,

Agora, amo a beleza

Que a mulher bonita traz,

Uma pele natural

Sem precisar de batom,

O mundo vei ficar bom

Quando eu não prestava mais!

REBELIÃO NO CÁRCERE  Eva Graça Brito

Adentrou sorrateiramente em meu caminho

com promessas de  amor, aconchego  e carinho,

tal qual ópio em demasia,

mimos que  entorpeciam!

E na  imersão das chamas da paixão,

o cupido flechou meu insensato  coração,

conduzindo-me  a  um   enlace  precipitado,

tortura à vista,rumo a um  cárcere privado!

Oh! “Estúpido cupido”,

antes   sonhos,  risos,  promessas de paraíso,

agora  só me  restou, desilusão, pranto e dor!

Oh! Cárcere descomunhal,

a violência  psicológica tornou-se   habitual.

Oh!Quanto  pavor, quão   inclemente é  o  ritual!

Oh! Cárcere maldito,

sem  vez ,sem voz, sem motivos para  risos,

que desatino!

Rebelo-me, pois   não aceito este destino!

Desafio  o  medo,o  conformismo, o previsível,

rompo  o silêncio e faço  ecoar   meu  grito,

mas  neste cárcere eu não fico!

Promovo aqui uma rebelião,

quebro  as  algemas da submissão,

viro tudo  pelo avesso

e  vou à luta, pra  conquistar a vida que  mereço!

 

A BAILARINA Fidélia Rocha

Dançando o balé da vida

Lá se vai a bailarina,

Se no pé sangra a ferida

Na face o riso domina.

Dançando literalmente

A dança dos seus desejos,

Às vezes em sua mente

Vão ocorrendo os lampejos:

A falta que faz alguém

A conta que já chegou,

A saudade que já vem

Pro vazio que ficou.

O sonho que foi gestado

Numa esperança tenaz,

Viu enfim ser abortado

Pelas mãos do quero mais.

O jardim não floresceu

O beija-flor não chegou,

Pra trazer o beijo seu

Carregado de amor.

O bem pago com o mal

Na puxada do tapete,

Máscara de carnaval

Mais um breve cacoete.

Mas o som está tocando

O salão está aberto,

Firme no palco bailando

Pois o futuro é incerto.

O som como um copo d’água

Suavizando a secura

Do peito, feito uma frágua

De tormentosa quentura.

Marcando os passos na lida

Numa aventura dramática,

Com sua postura erguida

Nesta festa enigmática.

Segue assim a bailarina

Na pantomima da vida,

Até fechar a cortina

Aceno de despedida.

A ROSA VERMELHA Regivalda Sousa

Ela é feita de sonhos...

A traduzir quem puder.

Para apreciar a vida

Não lhe basta uma colher...

Luta por garfo e por faca

Sem deixar de ser mulher.

Porque sabe ser guerreira

Como toda brasileira...

Que sabe bem o que quer.

Ela tem os seus espinhos

Porque não somos perfeitos.

Conhece suas qualidades

Reconhece seus defeitos.

E sabe que tem deveres

E que também tem direitos.

E por isso vai vivendo

E aos pouco vai vencendo

A guerra dos preconceitos.

Ela sabe que encanta

E bota medo na gente.

Porque saiu da cozinha

E aprendeu a ser valente.

Ela aprendeu a ler

Se tornou inteligente...

Pois aprendeu a pensar

E agora pode voar

E ela voa livremente.

Já nào sonha em ser princesa

Porque sabe ser rainha.

Ela não espera o principe

Porque se salvou sozinha...

Para alguns virou a bruxa

E deixou de ser mocinha.

Porém ela ainda é ela

É a mesma cinderela

Que sonhava na cozinha.

Só que agora ela sonha

E a si mesma aconselha...

Ela sabe que tem asas

E voa como uma abelha.

Sabe que pode fazer

Tudo o que lhe dê na telha.

Mas é doce e amorosa...

Continua sendo a rosa...

Mas é a Rosa Vermelha!

FONTE: ATOR E ESCRITOR SAMUEL NASCIMENTO.

FOTOS: DIVULGAÇÃO 



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