A prática do ensino religioso suscita debates no Brasil desde a época do Império, de um lado estão aqueles que acreditam que a disciplina fere o princípio de laicidade do Estado, ou seja, que o Estado não seja regido ou influenciado por nenhuma religião. Do outro lado estão aqueles que acreditam que a formação humana necessita criar valores provenientes da formação religiosa, quaiquer que seja ela. O fato é que o Supremo Tribunal Federal deve decidir sobre a constitucionalidade desta pática em breve.
Aborino Teixeira da Silva é professor de Ensino Religioso desde a década de 1970 no Piauí e nos conta que há, de fato, gravidades nesta prática que favorecem as religiões de base cristã, principalmene a Igreja Católica. ?Na época do Império, o ensino era ministrado sob uma prática proselitista e confessionista que a Igreja Católica e o Estado impunham. No Piauí podemos falar de duas fases, uma catequética, quando a igreja católica formava os professores, e a segunda vem como anúncio e denúncia, onde há debates quanto a questões sociais?, diz o professor.
Os debates das questões sociais é a justificativa para os professores que defendem a disciplina. Como defende a professora do Centro de Formação de Professores da Semec, Arcângela Castro de Soares, quando diz que o Ensino Religioso deve permanecer, pois, na sua opinião, a religião permite a convivência entre as diferenças.
?Acredito que o homem não deve se basear apenas pela razão e deve, sim, levar em consideração questões trancendentais, espirituais?, diz Gismar.
Os partidários do Ensino Religioso dizem haver uma pluralidade de religiões no debate. Alborino Teixeira, inclusive, lembra que é ilegal privilegiar apenas uma religião, no entanto as escolas continuam levando como central a religião católica, com leituras bíblicas, formação catequética, como Crisma e Eucaristia.
É como nos conta Pedro Henrique Gomes, 22 anos, que no ensino básico cursou a disciplina. ?Ensino Religioso, o nome da matéria então, a professora vinha com o que acreditava e nos colocava goela abaixo e o ensino começava desde cedo, 4ª série, a gente nem tinha muito o que refletir, era ler e assimilar. Estudávamos passagens bíblicas e tinha até avaliação?, conta.
A professora Letícia Campos, da Escola Teresa Noronha, que participa de movimento em defesa da educação, diz que essa discussão é uma pauta histórica do movimento, quando se exige uma educação pública de qualidade e laica. Para Letícia, religião é uma decisão de foro íntimo, mesmo que se fale de inter-religiosidade, é preciso questionar que base filosófica está por trás. ?Será que a Igreja Católica faria uma reflexão crítica da sua história, quando, por exemplo, matou muitas mulheres e homens na fogueira para negar seus conhecimentos científicos??, questiona.
Para a professora, existe uma necessidade de humanização do saber e em se compreendendo a educação como troca de conhecimentos acumulados, há uma série de outras formas de contribuir com as dicussões de valores, de problemáticas sociais que não perpassam a religião.
Fonte: Sarah Fontenelle do Jornal Meio Norte
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