Procissão do Fogaréu leva mais de 10 mil homens as ruas de Oeiras

Procissão do Fogaréu leva mais de 10 mil homens as ruas de Oeiras

Procissão do Fogaréu em Oeiras | Emanuel Vital

Mais de dez mil homens, segundo cálculos de policiais militares, participaram da procissão do Fogaréu na noite desta quinta-feira (21), na cidade de Oeiras, a cerca de 300 quilômetros de Teresina, na região do Vale do Canindé. A procissão reúne fiéis de diversos municípios piauienses e até de outros estados e faz parte do calendário da Semana Santa mais tradicional do Estado.

A procissão do Fogaréu, realizada em poucas cidades do Brasil, é formada apenas por homens, devido a uma tradição secular que representa o momento em que os soldados romanos saíram às ruas em busca de Jesus. Os homens saem em procissão levando tochas acessas, após a iluminação pública da cidade ser desligada. As mulheres, que não podem participar, acompanham tudo das calçadas e janelas. As mais idosas ficam rezando dentro de casa.

O Fogaréu sai da catedral de Nossa Senhora da Vitória com os homens cantando hinos de louvor ao som da matraca e percorre as ruas do centro histórico de Oeiras, retornando ao ponto de partida. Na volta, no adro da catedral, os romeiros assistem ao sermão, este ano feito pelo padre Wellinstone Carvalho Viana, reitor do Seminário Maior Sagrado Coração de Jesus, de Teresina.

A Semana Santa em Oeiras começou na quinta-feira passada, com a Procissão da Fugida, quando fiéis levaram a imagem de Jesus da catedral de Nossa Senhora da Vitória para a igreja de Nossa Senhora do Rosário, de onde retornou no dia seguinte, na Procissão de Bom Jesus dos Passos. Além da Procissão do Fogaréu, o calendário destaca ainda as procissões do Senhor Morto, na Sexta-Feira da Paixão, e a do senhor Ressuscitado, no Domingo da Ressurreição.

A religiosidade de Oeiras se mantém graças a pessoas como o lavrador Manoel Rodrigues Sepúlveda, que acompanha a Procissão do Fogaréu há 50 anos. Aos 79 anos de idade, ele conta que, mesmo morando na zona rural, não perde nenhuma manifestação religiosa na cidade. ?Nem todos os domingos venho para a missa, mas na Semana Santa me mudo para a cidade e não perco nenhuma missa ou procissão. Aprendi com meus avós e com meus pais?.

Sem filho homem, Manoel Sepúlveda entregou ao genro João Luis a missão de manter viva a tradição. ?Há bastante tempo acompanho a Procissão do Fogaréu. Aqui ninguém se cansa, faz parte da vida da gente?, diz João Luís.

A grande concentração de pessoas também alimenta o comércio, próprio ou não para a época. Um dos mais conhecidos na cidade é o de venda de pequenas lamparinas, que servem para iluminar o caminho da procissão quando a luz elétrica é desligada.

Joaquim Rodrigues da Silva, 71 anos, é um dos muitos vendedores de tochas que invadem o centro de Oeiras na noite do Fogaréu. Ele jura, como fiel devoto de Nossa Senhora da Vitória, que chega a vender duas mil lamparinas nos momentos que antecedem a procissão, ao preço de até R$ 5 cada uma. O lucro é tanto, que ele emprega seis pessoas na venda do produto, pagando a cada um R$ 30. ?Passo seis meses do ano só fazendo essas lamparinas, que na verdade são feitas a partir de uma lâmpada elétrica queimada, onde coloco um pavio de algodão e querosene?, explica.

Mas a venda de bijuterias também tem vez. Celso Rocha, 43 anos, dono de box no Shopping da Cidade, em Teresina, chegou a Oeiras na semana passada, mais por curiosidade, por ouvir dizer. ?Estou gostando, estou vendendo bem e no próximo ano estarei de volta?. Rita Gomes de Oliveira, vendedora com banca na Praça do Fripisa, também na capital, já chega a Oeiras pela terceira vez. ?O Fogaréu é lindo, lindo! Vou voltar sempre!

Outro vendedor de bijuterias , o cearense Inácio Sousa, 51 anos, também chegou a Oeiras por ouvir falar. Rodou de ônibus mais de 400 quilômetros, a partir de Juazeiro do Norte, mas acha que valeu a pena. ?Se Deus quiser, no próximo ano estarei aqui, no mesmo lugar?.



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