O Rosário perde a sua ?Baronesa"
Balbina Apolinário dos Santos Rufino. Mulher, mãe, avó, bisavó, tia, madrinha, amiga e conselheira. Entre outras atribuições foram essas que ela desempenhou como uma líder, que talvez, nem ela sabia que era.
Nasceu em uma família humilde e numerosa, porém, isto, nunca significou um obstáculo para que a mesma trilhasse os caminhos que percorreu. Claro, nada de glamour, no entanto, sua fé, serenidade, firmeza, perseverança e amor ao próximo serão sempre lembrados como sendo suas grandes virtudes, e um bom exemplo a ser seguido.
Ainda jovem saída do seio familiar, ela foi morar entre as famílias de posse da cidade. Segundo ela, ?Oeiras ainda vivia em um tempo quase colonial, era muito bom?. ?Comia-se de tudo que não podemos comer hoje, lavava-se roupa na forquilha do rio, a energia pública tinha hora para apagar, as pessoas eram mais companheiras, era uma vida difícil mais muito boa de viver?.
Mãe de sete, e assim mesmo, ela encontrou muito tempo para se doar a caridade. Muitas foram, por exemplo, às casas que em regime de mutirão ela liderou vários aguerridos moradores a construir residências para os mais necessitados do bairro Rosário.
Mesmo com pouco estudo, Balbina era uma sábia. Muitos a tinham como uma fonte inesgotável de sabedoria. Várias foram às contribuições em trabalhos científicos ou não que teve em Balbina o seu embasamento. Tanta sapiência foi o resultado de sua vivencia nos seus 83 anos de momentos importantíssimos da história do Brasil, do mundo e de Oeiras em particular.
Uma entrevista com a mesma, poderia deixar o entrevistador maravilhado com tanta riqueza de informação, a menos que o mesmo não se atravesse a perguntar: Dona Balbina, para concluir o nosso trabalho vamos fazer uma foto? Fechava a expressão facial e disparava um não. Era avessa a fotografias. Poucos foram os registros fotográficos feitos com o seu consentimento.
E em se falando de religiosidade, Balbina escreveu um capitulo seu na religiosidade católica oeirense. Sempre presente aos vários ritos sacros, era devota de Nossa Senhora e do Bom Jesus do Passos, (uma das poucas que fazia a singular flor de passos), foi guardiã das chaves da igreja de Nossa Senhora do Rosário, pertenceu aos grupos Sagrado Coração de Jesus e de Casais Encontristas. E, claro, quem não se lembra daquela senhora na sacristia da Igreja do Rosário na missa do domingo ás dezessete horas. Balbina era de uma devoção tamanha, que não raro podia associar a sua figura a religião católica de Oeiras.
Negra sim, de peso e medida como se diz, nunca negou as suas origens, era uma das mais requisitadas quando o assunto era afrodescendência. Era moradora do bairro de maioria negra de Oeiras,o Rosário. Nunca freqüentou o movimento negro organizado, porém, muito se recorreu a ela quando era feita alguma referencia sobre o assunto. A sua luta por esta causa foi reconhecida pelo Grupo Congos de Oeiras, que a homenageou com a Insígnia Esperança Garcia. A honraria é concedida àqueles negros que desempenharam importante trabalho á sociedade oeirense.
Com um timbre de voz que lhe era peculiar, Balbina deixou muitas lições àqueles que a rodeavam e até mesmo a pessoas que nenhum grau de parentesco possuía. Gostava de ensinar sobre a vida, muitos foram os ensinamentos que com certeza, apesar do seu desaparecimento, estes não se perderam, mais ainda ecoam aos ouvidos daqueles que a escutaram.
Por isso, era admirada pelo seu jeito sempre arrojado de ser. Certa feita, em texto reverenciando a figura de Balbina, Gema Galgany Barroso, filha de D.na Ana Barroso, uma de suas amigas mais queridas, chamou-a de ?Baronesa do Rosário?. O título lhe foi dado em razão de tanta firmeza com que conduzia a numerosa família e em parte a comunidade do Rosário.
Esse seu exemplo foi o fator que manteve sua casa sempre cheia de filhos, netos, bisnetos, irmãos, sobrinhos e amigos. Tanta estima tinha-se por essa mulher, que no seu leito de despedida na igreja de Nossa Senhora do Rosário, Oeiras assistiu a algo inédito; o choro copioso de dois padres que celebravam a sua missa de corpo presente.
Em fim, um simples texto mais uma vez, tenta a difícil tarefa de descrever a importância de uma das moradoras mais ilustres deste torrão sertanejo. A ?Baronesa? se foi, e com sua ida muitos são os órfãos, que se confortam na quase certeza de que ela cumpriu a sua missão aqui na Terra e está em um bom lugar com o pai maior, Jesus Cristo.
O vazio neste momento é enorme também para a cidade de Oeiras que perdeu não só uma de suas moradoras mais ilustres, e sim, uma página importante de sua gloriosa história.
*Emanuel Vital de Sousa (Sobrinho de Balbina)
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.