Artigo escrito por: Bruno Fonseca Guerra*
Faz uma tarde ensolarada nas planícies do vale Gurguéia. As alcateias alvoroçam-se na vigília constante dos filhotes, os machos jovens disputam em brigas amenas, mas constantes, a liderança do grupo. Muito embora aja um casal alfa há sempre a expectativa da revolta, ou mesmo da traição, por parte um dos lobos jovens.
Um macho adulto, mas ainda de pelagem meio escura, pois que nas alcateias o lobo alfa costuma ser cinzento, ameaça aqui e ali um rompimento com os demais. Procura insistentemente outros de sua igualia para numa madrugada sombria desferir o golpe certeiro no coração daqueles que o criaram, apoiaram, cuidaram e que, sobretudo, acreditaram nas suas promessas de ajudar a alcateia a manter todos unidos e saudáveis.
Chega o grande dia! Todos os lobos, jovens, velhos e até filhotinhos mais espevitados tumultuam-se numa festa comemorativa dos grandes feitos de um lobo ancestral. Um lobo sábio que levou sua alcateia ao patamar de comunidade, pois todas as demais alcateias de alguma forma descendiam do velho lobo. Era considerado por todos uma espécie de Santo dos Lobos, bom, generoso e até casamenteiro.
Na festa, comia-se as presas abatidas no dia anterior, especialmente preparada para a data benfazeja. Eis que surge o lobo traiçoeiro e sua trupe, conhecidos como o partido dos lobos vai-e-volta, pois acreditavam ser o momento ideal para a tramoia. Aqui há um pouco de realismo e até semelhança com os homens, já que é nos dias festivos e na calada da noite que os rastejadores cometem seus crimes.
No baile luponino o casal alfa é chamado de lado por um dos lobos vai-e-volta para uma conversa reservada. Sem esperar pelo pior, eis que é desferido o golpe mortal, não uma mordida ou uma patada! Não, não, não amigos! O pior golpe entre os lobos é a falta de apoio na liderança, apoio prometido desde tenra idade à fêmea alfa, progenitora das ideias mais avançadas do grupo.
Ela que sem muitos recursos, mas com muita valentia pôs seu nome a serviço dos demais lobos, agora vê um lobo desgarrado juntar-se a outra alcateia. E para piorar, ele ainda propõe que ela o siga nessa empreitada suicida e deixe os lobinhos, os lobos velhos e suas velhas companheiras de magistério da escola dos lobos, à própria sorte.
Muito embora se possa antever o final dessa história, é preciso cautela nas decisões que podem modificar o futuro da comunidade de lobos, pois como dizia um dos filósofos mais aclamados entre os próprios canídeos ?O LOBO É O HOMEM DO LOBO?. Assim reza a lenda entre todos os lobos, que o primeiro a observar as características dos indivíduos desse grupo foi o lobo Thomas Hobbes.
Uma história CONOTATIVA da natureza, mas que bem poderia servir para ilustrar o comportamento humano. Repito é apenas uma fábula, ?nunca aconteceu isso entre os homens?, pois todos são de bem e preocupados com seus iguais. Mas seria bom para todos aprendermos com essas ESTORINHAS imaginativas, já que é de imaginação que o homem vive.
Imaginando, pensando e quem sabe fazendo acontecer, talvez nunca tenhamos que depender da boa vontade de certos lobos. Digo de certo lobo!
*Bruno Fonseca Guerra é bel. em Direito e acadêmico de Administração.
As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.