Brasileiro gosta mais de futebol de seleções ou de clubes?

Copa América e Euro x Champions e Libertadores: o público brasileiro gosta mais de futebol de seleções ou de clubes?

Na noite do último sábado, 6 de julho de 2024, a Seleção Brasileira perdeu para o Uruguai nos pênaltis e deu adeus à Copa América precocemente ainda nas quartas de final. O novo fracasso do time canarinho reacendeu mais a polêmica que já estava em alta graças à controversa campanha publicitária estrelada por Ronaldinho Gaúcho e deixou a pergunta: será que o brasileiro abandonou a Seleção?

A discussão pode ser mais ampla quando temos a Eurocopa acontecendo ao mesmo tempo, também transmitida nacionalmente pela principal emissora de televisão no Brasil. Ao longo dos últimos anos, os campeonatos nacionais e as copas como Libertadores da América e a Champions League anunciaram recordes de audiência, mostrando o fortalecimento constante do futebol de clubes.

A partir daí, o questionamento aprofundado é: será que o público brasileiro desgostou das seleções e prefere o futebol de clubes? Para tentar dar a resposta, propomos uma análise completa sobre audiência televisiva e repercussão midiática em diferentes frentes dos produtos esportivos; confira!

O brasileiro não gosta mais da Seleção Brasileira?

Pouco antes da Copa América de 2024, o ex-jogador e campeão do mundo, Ronaldinho Gaúcho, pronunciou-se em entrevista e pelas redes sociais afirmando não torcer mais para a Seleção no torneio por conta da ‘falta de vontade e de qualidade dos jogadores’. Algumas horas depois, foi revelado que se tratava de uma ação de marketing para expor o pensamento de torcedores.

A confusa campanha publicitária causou mal-estar no grupo da Seleção Brasileira. Navegando pelas redes sociais, é possível perceber que muita gente não visualizou a segunda parte da peça e focou mais na primeira, concordando com o ídolo nas afirmações de que a Seleção Brasileira perdeu o brilho para o seu torcedor. Porém, será que isso é totalmente verdade?

De acordo com pesquisa do Datafolha ainda em 2022 em relação à Copa do Mundo, 51% dos entrevistados afirmaram não se importar com o resultado do time nacional na maior competição do planeta. O resultado foi parecido com os números de 2018, quando 53% do público também ressaltou a indiferença pelo time.

Segundo as análises da Folha de São Paulo, em 1994, o índice era de cerca de 20%, caindo para 10% em 2006 e começando a disparar após a Copa de 2014. Nesse sentido, a derrota por 7x1 para a Alemanha em pleno Mineirão e as duas décadas sem títulos de Copa do Mundo estremeceram a relação dos brasileiros com a própria seleção.

O brasileiro gosta dos seus clubes?

Se o brasileiro se importa menos com a seleção na Copa do Mundo, será que passou a se importar mais com o próprio clube do coração? As pesquisas afirmam que ‘mais ou menos’. Em primeiro lugar, o Brasil ainda carece de análises mais profundas sobre o torcedor brasileiro, principalmente para a melhor categorização dos níveis de envolvimento com os clubes.

A maior parte dos levantamentos recentes dizem que a maior torcida de futebol no Brasil é não ter torcida. Segundo o O GLOBO/Ipec de 2022, quase 25% dos entrevistados afirmaram não torcer para nenhuma equipe brasileira. Isso representaria que uma a cada 4 pessoas não têm preferência por clube.

O Instituto Travessia também capitaneou uma pesquisa nacional em 2022, que trouxe os resultados de que 65% do público entrevistado afirmou não ter grandes envolvimentos com o futebol. Por mais que os números possam diferir de uma pesquisa para outra, traz insights interessantes sobre o futebol no Brasil.

O panorama sobre o futebol no Brasil

Por muito tempo, permanece uma frase de que ‘o Brasil é o país do futebol’ no imaginário coletivo da nação. Porém, essa máxima não se reflete na atual situação do país. Embora o futebol ainda tenha uma penetração significativa na sociedade brasileira, proporcionalmente, o Brasil está longe de ser um consumidor completamente ávido do esporte.

E isso acontece por diferentes motivos, inclusivos socioeconômicos, como indica a própria pesquisa do O GLOBO/Ipec, mostrando que quanto mais baixa a classe econômica, menor o interesse por futebol. De uma maneira ou de outra, consumir ativamente o futebol tornou-se caro.

Essa não é uma tendência apenas no Brasil. Em 2020, a Associação Europeia de Clubes de Futebol, a ECA, fez um levantamento completo sobre a maneira de acompanhar o esporte ao redor do planeta. Um dos países analisados foi o Brasil, e a definição de categorias de interesse foi a seguinte:

Foto: ECA 2020

Assim, antes de discutirmos se o público gosta mais da Champions ou da Copa América, é preciso saber que muito brasileiro não gosta de futebol. Nesse sentido, falar sobre o esporte no país é também falar de nichos de mercado, sobretudo quanto trazemos as competições internacionais. 

O crescimento do futebol internacional no Brasil

Ao longo das décadas de 1970, 80 e 90, a realidade para o público era assistir aos jogos dos estaduais e do Brasileirão, no máximo as finais da Libertadores, visto que o campeonato não era a prioridade da maior parte dos clubes. Os jogadores europeus apareciam de vez em quando em amistosos ou na própria Copa do Mundo.

De lá para cá, a reestruturação das grandes ligas da Europa com a chegada da TV a cabo transformou o consumo de futebol no país. Atualmente, ainda mais com o auxílio do streaming e do YouTube, o torcedor tem em mãos uma oferta muito maior de torneios internacionais.

Segundo o ‘O Maior Raio-X do torcedor’, pesquisa encaminhada por Quaest, CNN e Itatiaia, 65% dos brasileiros assistem frequentemente a Copa do Brasil, torneio com mais abrangência no país. O Brasileirão vem logo atrás, com 57%, seguido da Copa Libertadores da América, seguida frequentemente por 56% dos torcedores e às vezes por 26%.

A Liga dos Campeões apresenta números de 24% para ‘sempre/frequentemente’ e 19% para ‘às vezes’, índices altos por se tratar de um torneio europeu. A La Liga e a Premier League contam com uma audiência frequente de 12% e regular de 17%, o que mostra a força do futebol do Velho Continente por aqui.

Os números recentes de audiência

De acordo com pesquisa do UOL, a estreia do Brasil na Copa América teve um alcance esperado de 73 milhões de pessoas, um crescimento alto em comparação com a edição 2021 do torneio.

Segundo informações da própria emissora, o empate do Brasil com a Colômbia bateu recorde no ano, mas empatou com capítulos da novela ‘Renascer’. Por outro lado, o jogo da Seleção Argentina transmitido pela emissora apresentou índices baixos de audiência nas principais capitais do país.

Em relação à Euro, o torneio também vem registrando bons números. Pesa-se o fato de que a maior parte dos jogos é transmitida pelo SporTV, canal fechado da TV Globo e com abrangência consideravelmente menor em território nacional.

De acordo com dados da emissora, os primeiros dias do torneio alcançou um público de 9 milhões de pessoas. Transmitida ao vivo no YouTube pela CazéTV, a competição também vem apresentando números altos de audiência. O jogo Portugal x França, por exemplo, teve picos de audiência acima dos 4 milhões de aparelhos conectados.

Voltando-se para os clubes, a Liga dos Campeões teve uma queda nos números em 2023, muito motivada pela saída dos principais nomes como Messi, Cristiano e Neymar. Porém, retomou o fôlego em 2024 com as boas atuações de Vini Jr.

Para o SBT, a transmissão da final entre Real Madrid e Borussia Dortmund rendeu picos de 7,4 pontos na audiência, o melhor número durante o torneio que inclusive chegou a passar a Rede Globo nas principais capitais do país.

Porém, quem bate recordes mesmo com a Liga dos Campeões é a TNT Sports. Já em 2020, chegou ao maior número da história da rede paga e, ano após ano, vem crescendo o seu público, sobretudo com a parceria com o serviço de streaming HBO Max, ambos da mesma companhia.

A volta da final da Libertadores para a TV Globo representou a retomada da força de audiência da competição. Com bons números durante todo o torneio, a decisão entre Fluminense e Boca Juniors atingiu a média de 29 pontos na TV aberta, índice 45% maior do que a final de 2022 no SBT.

As métricas das apostas esportivas

Por conta da forte entrada no cenário brasileiro ao longo dos últimos anos, o mercado de apostas tornou-se um importante parâmetro para entender o comportamento do torcedor no país, sobretudo na internet.

Baseando-se na bet365 como uma casa confiável e segura, podemos começar a analisar o impacto midiático dos diferentes torneios, bem como a importância que os sites de apostas dão para cada um deles.

A bet365 traz a Copa América e a Euro em posição de destaque na plataforma, a exemplo do que fez em todos os jogos de Champions e de Liberta ao longo da temporada, mas será que o volume de apostas é igual?

Foto: ambas as competições em destaque na plataforma da bet365. Reprodução

Em primeiro lugar, é difícil apontar exatamente o volume de apostas de cada torneio, principalmente porque as casas não liberam os números dessa maneira. Porém, é possível ter um panorama geral das apostas esportivas no país.

De acordo com um levantamento do SimilarWeb, em 2022, o Brasil liderou o ranking mundial com mais de 3 bilhões de acessos a sites de apostas esportivas, o equivalente a 22,78% de todo o planeta. No mesmo ano, a própria bet365 foi a plataforma mais acessada no país, com mais de 39% dos 244 milhões de acessos vindo do Brasil.

Outro site de apostas, o Mr.Jack, trouxe uma pesquisa que indicou o futebol como o esporte preferido para este público, representando a escolha de 85,7% dos entrevistados. A análise do Datafolha ratifica esses números, apontando que os brasileiros apostam em média R$263 por mês em jogos de futebol.

O valor representa cerca de 20% do salário mínimo, totalizando uma projeção de 150 bilhões de reais movimentados todos os anos. O público que mais consome esse tipo de entretenimento são os jovens de 16 a 24 anos de idade.

A repercussão nas redes sociais

Por mais que seja difícil registrar números devido à pluralidade de plataformas, a presença digital também pode oferecer insights interessantes sobre o público brasileiro com o futebol. A final da Libertadores 2023 representou um aumento de 282% do engajamento nas redes da ESPN, uma das emissoras envolvidas com a transmissão para a TV fechada.

O ano de 2023 também registrou uma queda da Champions League. Com a saída dos principais nomes, de acordo com o monitoramento da CDI Comunicação, a presença online do assunto teve queda de 39% em relação ao ano de 2022. Porém, de acordo com a pesquisa, os números ainda tinham resquícios da Copa do Qatar.

De maneira empírica, ao navegar nas redes sociais após a eliminação do Brasil para o Uruguai, é possível encontrar as discussões sobre a Seleção Brasileira no topo do X e de outras redes sociais, como mostra o print abaixo poucas horas após o resultado ruim nos Estados Unidos.

Uma leitura sobre as preferências dos brasileiros

Os números sobre o futebol no Brasil indicam análises múltiplas. Em primeiro lugar, o esporte ainda é muito forte no país, mas pode representar bem menos do que se pensa no imaginário coletivo nacional. De toda maneira, por mais que não seja de maneira tão uniforme e gigantesca, muita gente ainda acompanha avidamente o país.

Foto: Divulgação CNN

Com uma oferta cada vez maior de campeonatos nacionais ao longo do ano, é notável que o futebol de seleções perdeu um pouco do brilho que já teve em outros tempos. Os grandes craques desfilam seu jogo em dezenas de partidas transmitidas por diferentes emissoras de televisão, reduzindo a expectativa para as reuniões em seleções.

Além disso, há discussões sobre nível técnico. O dito ‘futebol moderno’ representa um estilo de jogo cada vez mais fundamentado no coletivo, exigindo muito treinamento e entendimento do estilo de treinador. Nesse campo, parece haver cada vez menos espaço para a performance individual.

Quando falamos de clubes que treinam juntos todos os dias, é mais fácil fortalecer a coletividade. Na contramão, as seleções se reúnem de tempos em tempos, dificultando o entrosamento completo e o exercício de um futebol amplamente de grupo, o que pode tornar os jogos mais amarrados e desinteressantes.

Por esse ponto de vista, é possível dizer que os amantes atuais do futebol preferem os jogos de clubes do que as seleções. Porém, os números mostram outros caminhos. Ainda em 2024, os jogos nacionais têm altos índices de audiência e de repercussão, significando que o público assiste, comenta e aposta.

Embora é comum que os jogos da Seleção seja um ‘plano de fundo’ nas casas, não querendo dizer que quem está com a TV ligada realmente está se importando com o resultado, as pessoas ainda parecem parar para assistir aos jogos de seleções de uma maneira ou de outra.

Então, o que esperar do futuro?

Em primeiro lugar, é preciso que afastemos a ideia de que o futebol mobiliza o país como um todo. Na verdade, são fatias do público nacional que realmente vivem e acompanham o esporte. Pelo tamanho populacional do Brasil, essas parcelas significam um alto volume de pessoas.

De toda maneira, quem gosta ao menos minimamente do futebol continuará com cada vez mais ofertas de torneios para assistir, sejam eles de seleções ou sejam de clubes. Por mais que o brasileiro esteja mais distante emocionalmente do Brasil como time, continua assistindo as partidas, e continuará.



As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.

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