O Delegado Odilo Sena, titular do 6º Distrito Policial de Teresina, falou ao Jornal da Tarde, na TV Jornal, que o caso de Janaína dos Santos Ferreira, mantida por 10 anos em cárcere privado pela empresária e fisioterapeuta Francisca Danielly Mesquita Medeiros, já teve duas investigações que não foram levadas à frente. Ele relata ainda que a cena triste e lamentável, foi “esquecida” e que uma parte da culpa são das próprias instituições do Poder Público.
Janaina foi mantida em situações análogas à escravidao, cárcere privada e maus-tratos por 10 anos, segundo explicou o delegado Odilo Sena. Ele ainda citou que a mulher vivia desde os 12 anos de idade nessa situação de calamidade. A acusada, empresária e fisioterapeuta Francisca Danielly foi presa na tarde de terça-feira (23), no bairro Ilhotas, na zona Sul de Teresina.
“Ontem no final da tarde finalizamos o apurado do caso que envolve as ações e omissões da empresária. Foi uma cena lamentável, triste, a gente estava vivendo com isso há pelo menos 2 ou 3 semanas. Tivemos muito cuidado, cautela, ela é uma pessoa conhecida, tem uma empresa, todo um conhecimento das pessoas, da sociedade, é conhecida e tinha livre acesso a gabinete de políticos. A família dela tem uma estrutura política, jurídica, de proteção, de superioridade quando comparada àquelas pessoas que moram na região”, explica o delegado.
Durante as investigações foi descoberto que Janaína não podia ter relações de amizades nem muito menos conjugal. Caso desobedecesse a ordem da empresária, era agredida, repreendida e gerava uma grande confusão. Janaina só poderia ter relações de cuidado com os próprios filhos de Francisca Danielly.
“Ela não recebia nenhum tipo de salário, nenhum tipo de benefício, nada para falar a verdade, nem mesmo um absorvente recebia. Ela (Janaína) não poderia sair de maneira nenhuma, não poderia ter nenhum tipo de amizade, relacionamento amoroso, apenas com os filhos da empresária Francisca Danielly, tirando isso era impossível, e quanto tinha era muita surra, confusão e problemas”, explica o delegado, que narra a situação.
Questionado sobre os procedimentos das investigações e de relatos de testemunhas, Odilo Sena menciona ainda uma ex-vizinha da empresária, que preferiu ir embora, cansada de ouvir e ver tamanha agressão sofrida pela vítima diariamente. Dona Graça, como é conhecida, relatou à polícia que um dia Janaina foi fazer um cuscuz, porém saiu salgado, o que resultou em brutais espancamentos contra Janaina.
“Dona Graça foi uma das pessoas que mais testemunhou a situação precária que ela viveu, inclusive ela saiu daquele lugar, justamente porque não aguentava mais as sessões ouvindo e assistindo. Francisca Danielly agredia fisicamente Janaina. Ela (Dona Graça) conta que (Janaína) foi fazer um cuscuz às 5h e estava salgado. Francisca Danielly pegou esse cuscuz e jogou na Janaina, que se encolheu no canto, e foi alvo de muita agressividade. Às 5h da manhã (Janaína) estava clamando ‘madrinha, por favor não me bate’, os vizinhos ouviram a gritaria e pediram para parar”, relata o delegado, insatisfeito com tamanha incredulidade.
Nas investigações, vários depoimentos coincidem. Francisca Danielly carrega consigo a imagem do pai, o qual foi abandonado e maltratado por ela, segundo conta o delegado. Questionado sobre os anos de escravidão, Odilo Sena não consegue compreender a demora do Poder Publico na situação.
Segundo ele, os órgãos responsáveis, Ministério Público, Polícia e o Ministério do Trabalho estavam cientes do crime. Durante esses 10 anos, houve duas denúncias do caso, sendo ambas abandonadas. O que poderia ter sido resolvido nesse tempo, foi realizado em duas semanas, explica o delegado.
“Existe um descrédito muito grande por parte das instituições, a gente como membro, devemos estar espertos nesse tipo de coisa, nós trabalhamos para o povo. 10 anos essa menina está aqui. No inquérito isso foi relatado por alguma das testemunhas, as pessoas sabiam e até denunciavam. 5 anos depois houve também esse mesmo início de investigação, a Polícia Civil fez e nada aconteceu. Ano passado a mesma coisa e não deu em nada. A menina foi coagida, e ninguém percebeu. Foi uma série de situações que se deixou passar e aconteceu o que aconteceu. Já tinha chegado para as instituições, porém não atuaram da parte correta”, completa o delegado Odilo Sena.