O escritor Salvador de Castro, fundador da Associação Saoraimundense de Deficientes Físicos (ASADEF), morreu na noite desta terça-feira (25), em São Raimundo Nonato, aos 44 anos. Ele era portador de Ataxia de Friedreirich, doença neurodegenerativa que afeta os movimentos do corpo.
Salvador publicou cinco livros e era conhecido como grande defensor das pessoas com deficiência no Piauí. Em São Raimundo Nonato e no território da Serra da Capivara, ele participou ativamente da construção de políticas públicas para PcD, além de elaborar e liderar ações de inclusão social no ambiente acadêmico.
A prefeita de São Raimundo Nonato, Carmelita Castro, lamentou a morte do escritor. "Foi um grande exemplo e deixa o legado de lutas e conquistas pela inclusão da pessoa com deficiência em São Raimundo Nonato, no Território Serra da Capivara e estado do Piauí", disse.
Em suas redes sociais, a deputada federal Rejane Dias (PT) homenageou Salvador de Castro e o descreveu como um grande professor da fé e superação. "Hoje me deparei com a triste notícia da partida de Salvador de Castro, escritor piauiense de São Raimundo Nonato e um grande professor de fé e superação. Salvador foi um ser humano incrível. Apesar de portador de uma síndrome neurodegenerativa rara, Salvador fugia de estereótipos e transformou sua deficiência em causa - fundando a Associação São Raimundense de Deficientes - e em arte, tendo escrito diversas obras voltadas para a inclusão, aceitação e desmistificação de deficiências", diz na publicação.
Salvador era cadeirante há mais de 20 anos e lutava diariamente contra uma ampla diversidade de sintomas, como perda de visão, audição, fala e movimentos dos membros superiores e inferiores. No ano passado, o Meionorte.com produziu uma matéria revelando a vontade do escritor em expressar sua insatisfação com a dificuldade no acesso ao tratamento de doenças neurodegenerativas. Na entrevista, a mãe de Salvador, a professora Maria Joana de Castro, falou com a reportagem sobre a trajetória do filho.
Quando concluiu o ensino médio, aos 19 anos, o escritor imediatamente recorreu ao vestibular para ingressar no ensino superior. Na vida de Salvador de Castro, a educação foi mola propulsora para alcançar seus objetivos. O jovem decidiu cursar Letras/Português na Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e contribuiu, após se debruçar no estudo sobre os direitos das pessoas com deficiência, no cumprimento de ações de permanência de PcD no ambiente acadêmico.
“Ele sempre organizou manifestações, conseguia rampas nas ruas de São Raimundo, depois de sofrer com infecção urinária, foi atrás dos banheiros adequados. Sempre lutou por melhorias”, disse Maria Joana.
Quando ainda era universitário, Salvador lançou seu primeiro livro intitulado “A vida é uma constante luta” (2001). Com as vendas da sua obra literária, ele comprou uma cadeira de rodas motorizada, o que proporcionou a ele mais liberdade e autonomia. Após a primeira publicação, Salvador também lançou “Amor Infrator” (2004), “Contraste Perfeito” (2007), “Adaptação - a força do amor” (2013) e “Tudo para todos - um abraço de inclusão” (2018). Suas obras literárias falam sobre amor e também denunciam o preconceito e exclusão na vida da pessoa com deficiência.
A doença neurodegenerativa impedia Salvador de Castro de realizar uma das suas maiores paixões, a escrita. Mesmo com um computador adaptado, era impossível digitar com quase todos os dedos paralisados.
Na época, Salvador e a mãe enfatizaram, contudo, a necessidade de maiores investimentos e atenção da sociedade para a situação dos portadores de “ataxia de Friedreich”, que veem poucas esperanças para o tratamento da doença: “é muito difícil para uma mãe ver seu filho gritando socorro. Todos os dias ele pede para que a gente consiga e vá atrás de respostas, para pedir ajuda. Salvador é uma pessoa muito solidária, ele está pensando nas outras pessoas que serão diagnosticadas com a doença”, disse a professora.