Elas têm multitarefas no dia a dia, podem executar várias tarefas ao mesmo tempo mas, acima de tudo, conseguiram provar que a capacidade para gerir pequenos e até grandes negócios vai muito além do que muitos homens são capazes de fazer. Seja formal ou na informalidade, as mulheres empreendedoras estão dominando vários segmentos, rompendo barreiras e superando desafios até então impostos por uma sociedade machista.
Competência, elas têm de sobra, pois sabem ouvir, pensar, discernir sobre o que é mais viável, e tomar a decisão certa porque não lhes faltam sensibilidade. Diante das adversidades que surgem de forma imprevisível, essas mulheres empoderadas assumiram o papel de comandar empreendimentos que vão desde a venda bombons no ambiente de trabalho para aumentar a renda mensal, comercializar calçados e roupas, até mesmo assumir as rédeas de uma autoescola após a morte do marido, bem como administrar imobiliária e uma rede no segmento veterinário.
ALTOS E BAIXOS
Na montanha russa da vida, não existe tempo ruim para essas mulheres superpoderosas, afinal, dificuldades existem para serem superadas. Que o diga Mara Cristina, que convive com uma jornada dupla, já que trabalha formalmente no setor de contabilidade de uma empresa privada, mas nas horas vagas pega sua bolsa térmica para vender bombons a uma clientela fidedigna.
Ela fez uma mini sociedade com a amiga e dona de casa, Sandra Maria Moura Nunes, de 67 anos, que produz os bombons de forma manual e com as vendas garante seu sustento, já que paga alguns boletos no fim do mês. As duas decidiram empreender de uma forma que ambas possam sair ganhando. “As vendas de bombons são um ganho extra para ela e para mim”, diz Mara, acrescentando trabalha com bombons dos sabores de coco, ameixa, castanha, coco, limão, “mas os que têm mais saída são de ninho com Nutela e ninho com chocolate”, frisa.
Cada bombom custa R$ 3,00 e dependendo das vendas do dia, Mara conta que chega a faturar de R$ 0,50 a R$ 1,00 em cima de cada unidade vendida. Por semana, ela chega a vender cerca de cem bombons, mas revela que já houve semana que vendeu dois centos de bombons.
INVESTIMENTO TEM RETORNO
Sandra Maria conta que já fazia os bombons antes da pandemia de Covid-19, mas resolveu intensificar logo depois. “O que ganho já dá para tirar um dinheiro bom, inclusive pago meus cartões, conta de luz e outras coisas”, diz.
No entanto, ela diversificou seu lado empreendedora e hoje em dia trabalha na confecção de bijuterias como colares e pulseiras, panos de prato e ainda é revendedora de perfumes. “Mas eu ganho mais dinheiro com a venda dos bombons”, revela Sandra que teve incentivo da família para continuar empreendendo, até porque não gosta de ficar parada e seu serviço funciona como terapia ocupacional.
Empresária garante emprego para 109 funcionários em autoescolas
Mas se a palavra ‘superação’ tiver um significado tão ao pé da letra, ela pode ser atribuída a história de vida da empresária Valéria Guzman, que hoje garante emprego para 109 funcionários, sendo 61 homens e 48 mulheres, em suas sete unidades de autoescola localizadas no Parque Piauí, zona Sul; Dirceu, zona Sudeste; duas unidades no Centro; Jóquei, zona Leste; Matinha e Água Mineral, ambas na zona Norte. Mas nem tudo são flores na vida dessa empreendedora de pulso firme.
Em seu relato, Valéria lembra que não teve apoio de ninguém no começo. “Na verdade, quando eu comecei foi com meu esposo, a gente só tinha duas autoescolas e aí ele chegou a morrer. E quando ele partiu, na verdade, a maioria das pessoas não acreditou em mim, nem meus parentes. Disseram que eu não ia conseguir”, lembra ela, comentando justamente pelo fato de ser mulher, “até pessoas que são do Judiciário, que poderiam estar acreditando na força feminina, disseram para mim que eu não ia conseguir, porque algumas mulheres chegaram a não conseguir em Teresina nesse ramo”, reforça.
Enquanto recordava dos dias difíceis, Valéria não escondeu a emoção e seus olhos lacrimejaram. “Então, quando tudo isso aconteceu, eu foquei, trabalhei, nunca me vitimizei, e fui para os números e ouvir algumas pessoas também que tinham conhecimento e coloquei em prática. E algumas frases me marcaram bastante, por exemplo, algumas pessoas falaram para mim assim: o que seu marido fazia, que era bom, continue. O que você achava que não era bom, que não prestava, retire. E fui para um foco muito forte chamado ‘organização’. E aí eu organizava. Coloquei financeiro, coloquei gerente, coloquei pessoas que poderiam realmente me auxiliar e fui para os números, porque os números são uma regra exata”, pondera a empreendedora.
SEM APOIO DE NINGUÉM
Em sua trajetória para vencer na vida profissional e provar que todos aqueles que não acreditaram no seu potencial estavam errados, Valéria Guzman arregaçou as mangas e foi à luta, literalmente, pois sabia que, apesar dos percalços, sempre foi otimista e acreditava que iria vencer. E um dos maiores obstáculos que enfrentou, foram os débitos e as contas que ficaram após o falecimento do seu marido.
Foi quando chegaram os oficiais de justiça penhorando os bens de sua autoescola, até porque haviam muitos débitos junto à Receita Federal. “Tinha muitas ações trabalhistas que eu tive que ir negociando. Então, às vezes, tinha ônibus que ia para leilão e eu passava perto do ônibus e dizia: em nome de Jesus, tudo que eu estou perdendo, Deus vai me restituir 21 vezes e assim foi”, profetizou a empreendedora que hoje tem uma frota formada por 56 carros de passeio, 21 motos e 2 micro-ônibus.
MULHERES GUERREIRAS
Quanto à posição das mulheres em muitos negócios, Valéria justificou que as mulheres estão atuando em todas as frentes de trabalho, seja vendendo cachorro-quente, batatinha frita, hambúrguer e até roupas, porque elas realmente não têm vergonha de trabalhar. Inclusive chegou a afirmar que a maioria são mães solos e assumiram essa responsabilidade por terem filhos e precisarem levar alimento para mesa todos os dias.
Outra característica mencionada por Valéria para essas mulheres maravilhosas e empoderadas é que elas têm algo que é chamado ‘coragem’. “Eu sempre digo para minha equipe que quem tem vergonha, perde. Portanto, tem que acreditar que vai dar certo. E se não der certo, se levanta e tente novamente”, aconselha.
Sobre o lado de mulher empreendedora - já que lidera uma equipe formada por homens e mulheres – Valéria foi taxativa ao afirmar que conquistou tudo graças ao respeito que impõe junto aos seus funcionários. Foi com muito trabalho, mostrando os pontos que deveriam seguir, e que cada serviço era importante, tanto para homens quanto mulheres, que ela foi se destacando no mercado de autoescola. “Hoje, a minha equipe de gestores, de gerentes, a maioria são mulheres, porque eu acredito que cada uma tem a competência de estar à frente”.
Médica veterinária encontra suporte no Sebrae para empreender
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET), estima-se que existam 167,6 milhões de pets no Brasil, incluindo 67,8 milhões de cães e 33,6 milhões de gatos. Com esses números, o segmento pet tem grande potencial para continuar operando e evoluindo, pois conta com um público fiel e em constante crescimento.
Existem mais de 285 mil empresas voltadas para os pets no Brasil, tornando-o o terceiro maior mercado pet do mundo. Enquanto outros setores sofreram quedas durante a pandemia, as empresas de cuidados com animais domésticos mantiveram um crescimento constante. Isso se deve ao fato de muitas pessoas adotarem ou comprarem pets para ter companhia durante o período de isolamento.
Há dez anos no ramo de empreendedorismo, Indira Régia, empresária de sucesso no ramo de veterinária, relata que após a formatura no curso de medicina veterinária, trabalhou no setor comercial desse ramo, tendo oportunidade de participar de muitos treinamentos de vendas, treinamentos direcionados à área de empreendedorismo e decidiu fazer residência em clínica médica.
ABRAÇOU OPORTUNIDADE
E assim que terminou a residência, “eu tinha algumas opções, mas entre as opções que apareceram, foi entrar como sócia de uma clínica veterinária, mas hoje nós somos hospital”, frisa Indira, argumentando que escolher empreender foi uma oportunidade que abraçou, embora não tivesse planejado isso na época. “Então, por muito tempo, eu e as minhas sócias, na verdade, nós não conseguimos introduzir esse nome empreendedora na nossa vida, porque além de empreendedora (há 11 anos), atuo como médica veterinária há 12 anos”, justifica.
Indira Régia revela que Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) foi um grande aliado nessa empreitada de montar uma sociedade, até porque tiveram a necessidade de aprender a empreender, pois, segundo ela, empreender não é simplesmente abrir um negócio. “E nós começamos a fazer vários cursos e consultorias junto ao Sebrae, que para gente é um item essencial de um empreendedor. E estar junto ao Sebrae desde a decisão de abrir uma empresa a nível organizacional, todos os cursos iniciais, assim, que um empreendedor precisa, o Sebrae abraça”, desabafa.
Ela ressalta que seu maior desafio – que é algo contínuo - na verdade, é entender o que é empreender. “Então, esse foi o meu trabalho. Foi um desafio inicial que, na verdade, é um desafio que vem sendo ao longo de todos os anos, porque a partir do momento que você oferece um bom serviço, a sua empresa cresce e com o crescimento, a necessidade de maior nível de organização vem também com esse crescimento”, avalia a empresária.
Sobre os obstáculos para empreender e manter uma empresa aberta, Indira disse que são vários, “desde o pagamento dos impostos, que são altíssimos, manter o salário de colaboradores em dia; como atrair clientes e manter clientes são obstáculos que percorrem diariamente, na verdade, e que a gente enfrenta diariamente”, observa Indira, até por serem empreendedoras e mulheres. “Porque a gente tem concorrentes, nós temos que inovar, e um dos obstáculos também é inovação, é atualização”.
VÁRIAS ATIVIDADES
Além de ter pulso firme para gerir um hospital veterinário, Indira tem uma jornada múltipla a enfrentar no dia a dia, “porque, além de mulher, eu sou médica veterinária, eu sou empreendedora e eu sou mãe”, enfatiza, mencionando que existe uma cobrança maior da sociedade pelo fato de ser mulher e ter que abdicar mais do que os homens. Ela informa que passou por todas as fases, pois quando era solteira e não tinha filhos, o tempo era cem por cento dedicado a sua profissão e seu trabalho.
Mas ao longo desses dez anos, a empreendedora reconhece que teve um crescimento pessoal profissional, mas admite a existência de preconceitos nas entrelinhas. Indira conta que por ter que participar de reuniões até muito tarde, por exemplo, algumas pessoas podem não entender que ali é o seu trabalho de empresária, que precisa daquela reunião e não poder estar presente em outro setor da sua vida. “E para mulher, além do peso pessoal, mental, por estar ausente da sua família, escutar algumas coisas nas entrelinhas, isso é preconceito”, argumenta.
Reconhecendo tudo que uma mulher enfrenta para conquistar seu espaço na sociedade, no mundo empresarial e no dia a dia, ela pontua: “Eu acho que eu tenho os mesmos direitos dos homens e sou tratada como eles são tratados, mas não, não é verdade, é bem diferente”, explica Indira, lembrando que chegou a perceber mais esse tipo de situação depois que formou uma família, porque para mulher parece que é diferente, tendo que deixar de fazer algo mais do que os homens, justamente pelo fato de ser mulher.
Mulheres respondem por 125 mil empresas constituídas no Piauí
De acordo com a Junta Comercial do Estado do Piauí (Jucepi), 125.529 empresas piauienses são constituídas apenas por mulheres, representando 47,20% do total de 265.897 empresas ativas no estado. Esta conquista das mulheres empreendedoras é notável, considerando que esses dados são de 2023 e os números dos primeiros meses de 2024 ainda não foram atualizados pela Jucepi.
O Piauí possui 53.077 microempreendedoras individuais (MEI) registradas no Portal do Empreendedor e 72.452 empresas constituídas exclusivamente na Junta Comercial.
Considerando as empresas ativas com pelo menos uma mulher como sócia, o número sobe para 82.156 empresas registradas. Estima-se que esses números sejam maiores, pois não incluem empresas de pessoas jurídicas abertas em cartórios.
"Hoje temos muitas mulheres empreendedoras em vários segmentos, seja na beleza, comércio, prestações de serviços ou na indústria, e elas estão se destacando cada vez mais em espaços que antes eram dominados por homens", destacou a presidente da Jucepi, Alzenir Porto.
Segundo esclarece Alzenir, o empreendedorismo feminino muitas vezes surge por necessidade. “São mulheres que, buscando sustentar a família e complementar a renda, descobrem-se empreendedoras. Nós, mulheres, temos a capacidade de lidar com várias funções ao mesmo tempo. Somos mães, filhas, empresárias, funcionárias, esposas, chefes de família, e desempenhamos esses papéis com excelência”, ressaltou.
Pioneira na implantação de minimercados investe em tecnologia
Outro segmento do mercado que está em amplo crescimento e tem tirado muita gente do aperto nos condomínios, é o negócio de minimercados. Uma das pioneiras nesse ramo em Teresina, Débora Oliveira, fez questão de afirmar que a grande inspiração neste tipo de empreendimento “é a vontade de estar presente nos momentos que acontecem ao meu redor”, resume.
A implantação de minimercados em condomínios residenciais trouxe a conveniência de adquirir produtos básicos sem sair de casa. Esse conceito inovador foi introduzido na capital piauiense, operando por meio de um sistema de autoatendimento.
Nele, o cliente seleciona o produto, registra no leitor, realiza o pagamento e leva para casa, tudo com mais praticidade. A combinação de tecnologia avançada e planejamento estratégico permitiu a expansão desses minimercados para diversos condomínios em Teresina e Timon.
Sem medo de apostar no novo, Débora relatou como tudo começou: “O modelo de negócio eu vi em São Paulo, o tipo de negócio onde eu atuo hoje é o de minimercados autônomos que funcionam dentro dos condomínios. E a gente teve a ideia de procurar como que as franquias naquela época, em 2021, se comportavam, o que elas ofertavam para os franqueados e para os clientes. Mas a gente entendeu que o que as empresas ofertavam naquela época não era tão diferencial, assim, e que pelo nosso conhecimento, durante vários anos de trabalho, a gente conseguiria ofertar algo igual ou melhor, e com a nossa cara, com os nossos princípios”, explica.
A empresária Débora Oliveira criou sua própria marca no setor durante a pandemia, em 2021, e já conta com mais de 70 minimercados em pleno funcionamento. Para montar a rede de minimercados, o investimento inicial foi de aproximadamente R$ 50.000, destinado à implantação do sistema, incluindo a licença e a liberação da tecnologia existente no mercado.
Para instalar as lojas, os síndicos dos condomínios devem avaliar a proposta dos empresários, apresentar os detalhes aos moradores, discutir os custos e as formas de pagamento e, então, tomar a decisão sobre a implantação através de uma votação.
“Hoje nós somos uma empresa de médio porte. Nós temos uma referência muito forte aqui na nossa cidade, dentro do nosso ramo, no nosso estado. A concorrência acaba obrigando, no bom sentido, a gente estar sempre se atualizando e sempre pensando no formato de como melhorar o meu atendimento, como melhorar o meu produto, como melhorar o meu negócio, e isso é muito importante, se manter atualizada no mercado, nas mudanças e o que eu uso para isso é acompanhar os meus concorrentes de perto”, esclarece Débora, argumentando que sempre acompanha diariamente, as novidades do Instagram, site, e acompanha as notícias. “Ou seja, ver o que está passando naquele negócio, que tipo de novidade eles estão lançando. Já tem que entender como que a tecnologia vai ajudar. E além disso também, uma das maiores fortalezas do meu negócio é o meu cliente.”
E, segundo a empreendedora, os clientes são fundamentais no sucesso do seu empreendimento, já que eles dão sugestões maravilhosas, e isso é surpreendente para poder melhorar o negócio com dicas importantes.
SEM CREDIBILIZADE POR PARTE DOS CLIENTES
Mas para chegar até o seu objetivo, muitos desafios foram vencidos e tentativas insistentes, sendo que o maior deles foi a falta de credibilidade para com uma empresa teresinense. “É bem frustrante, mas ao mesmo tempo é compreensível. A gente concorre até hoje com empresas nacionais aqui em Teresina, mas na época, no início, a gente teve muito ‘não’. Então foram três meses, quase quatro meses de tentativas e mostrar propostas para os condomínios, para os clientes”, recorda ela, observando que, no momento da votação, os clientes moradores escolhiam uma empresa nacional, uma empresa maior para continuar, ou melhor, para iniciar o serviço. “E isso nos frustrou muito no começo, foi muito desafiador a gente continuar tentando e acreditando no formato que a gente queria propor. A gente às vezes percebeu que o cliente tinha algum preconceito, porque a gente era uma empresa daqui e ainda não tinha nenhum cliente. Então foram quatro meses aí de muito, muito, muito difícil continuar. Assim, a persistência é um negócio é bem íntimo.”
Voltando ao passado não tão distante, Débora não consegue apagar da sua mente que precisou se fortalecer de outras formas para respirar fundo, voltar lá e tentar de novo, mesmo tendo recebido tantos ‘nãos’. Mas isso foi muito importante para que hoje se tornasse uma das maiores marcas de Teresina nesse ramo, justamente porque realmente acreditou muito neste tipo de empreendimento.
Casada e tendo o marido como sócio nos minimercados, Débora optou por não ter filhos no momento, contando com uma equipe de colaboradores que são fundamentais para o bom funcionamento de seu empreendimento. “Então, é uma opção minha, porque eu de fato gosto da minha vida como ela está, mas eu tenho dois sobrinhos que são a razão do meu existir. Eu acho que o amor que eu sinto por eles se aproxima muito do amor de mãe, porque de fato é um negócio que eu não consigo viver sem diariamente. Então com eles eu consigo apertar um botãozinho de resete que geralmente eu não sei onde fica. E eles são a minha força, então eu passeio com eles, eu vou na casa da minha irmã, eu fico o dia com eles, vou duas, três, quatro vezes na semana, porque isso me dá uma força e me dá um porquê”, avalia emocionada.
Mulheres buscam empreender por necessidade, diz analista do Sebrae
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) vem sendo um grande aliado para quem busca montar seu próprio negócio. O órgão conta com vários consultores que estão aptos a tirar todas as dúvidas sobre como empreender e alcançar o sucesso no ramo de empreendedorismo.
Lívia Melo é analista do Sebrae Piauí e esclarece que o perfil das mulheres que procuram o Sebrae são necessariamente aquelas que buscam empreender por necessidade e o perfil das que buscam por oportunidade. “São mulheres relativamente jovens, da faixa etária de até 40 anos no máximo, de 18 a 40 anos, e que realmente buscam ou aumentar o sustento da família - complementar a renda - ou mesmo sustentar a família. São chefes de família, ou então aquelas que querem uma oportunidade, vislumbram uma oportunidade no mercado e desejam montar uma franquia, desejam colocar nichos diferentes no mercado e buscam ampliar já um negócio já estabelecido”, frisa.
A principal dúvida delas, conforme Lívia, é na área financeira, principalmente, porque muitos não fizeram o planejamento quando foram empreender, e quando chega na parte financeira para tomar uma decisão de buscar um crédito ou mesmo ampliar, mudar de MEI (Microempreendedor Individual) para ME (Microempresa), elas não sabem realmente como decidir, como vislumbrar essa estratégia de ampliação do empreendimento e principalmente nessa área financeira buscam auxílio do Sebrae.
A analista explica que os setores mais procurados pelas mulheres empreendedoras são a área de alimentação, gastronomia, moda e o segmento da beleza. Lívia argumenta que “o diferencial das mulheres que buscam espaço no mercado de trabalho é o conhecimento, a busca pela capacitação. Elas são inovadoras, são resilientes, persistentes e estão cada vez mais buscando conhecimento, informação e fazendo networking (rede de relacionamentos ou rede de contato)”, pontua.
Em relação à existência de burocracia para abrir o próprio negócio, a analista deu sua opinião: “Depende do ponto de vista de quem e do que a pessoa considera burocracia na hora de empreender. Porque hoje, até mesmo a formalização está muito ágil. Se você vai abrir um MEI, é rápido. A Junta Comercial também já está agilizando muitos processos. Então, para quem vai empreender em relação à burocracia, depende muito de qual área, do que ele vai realmente fazer para ele considerar uma burocracia”, avalia.
Para tentar mudar esse aspecto cultural de que o mercado é machista em relação a empreendedores femininos, “nós temos trabalhado muito através do projeto Sebrae Delas, iniciativas para empreendedores femininos, para fortificar, solidificar e consolidar essa atuação da mulher como empreendedora. Eu acho que está cada vez mais natural, e a sociedade está cada vez mais assistindo a esses empreendimentos de mulheres”, justifica a analista do Sebrae.
Na opinião dela, isso está sendo diluído aos poucos, principalmente quando a mulher começa a gerar emprego e a sustentar a família. “Acho que essa questão de machismo vai ficando muito para trás, muito a quem existem coisas mais relevantes e prioritárias. É claro que essa temática a gente vai ter que trabalhar, porque isso é uma questão cultural, a gente já nasceu, nós mulheres já nascemos com essa questão cultural de que a mulher tem que ficar nos lares, então é claro que isso não vai se dissolver de uma hora para outra, mas precisa ser trabalhada e ser muito bem entendida por todos”, conclui Lívia.
Empreendedora ajuda clientes a realizarem o sonho da casa própria
A empreendedora Juliana Rodrigues decidiu investir no segmento imobiliário, cuja empresa tem o desafio de negociar a compra e venda de imóveis. Ela conta que a inspiração por trás desse negócio surgiu há 23 anos atrás e foi justamente trabalhar com o sonho da casa própria. Por isso iniciou esse projeto junto com o marido que já era do ramo imobiliário.
“Aí nós começamos a nossa empresa, que é do setor imobiliário, e começamos a sonhar juntos e iniciar um negócio que assim como a nossa vida, poder transformar a vida de outras pessoas a realizarem seus sonhos de ter a sua casa própria e ajudar, também, a encontrar o melhor local para moradia deles no aluguel”, lembra Juliana.
COMEÇO DESAFIADOR
E como tudo no início é mais complicado, o maior desafio que enfrentaram enquanto empresários é algo que enfrentam até hoje e se chama mão de obra qualificada. “Hoje, o nosso mercado tem muita opção e muita gente ofertando mão de obra, porém, não é qualificada e esse é um desafio que a gente enfrenta desde encontrar mão de obra qualificada para poder empregar e preparar para as atividades que a gente precisa desenvolver dentro da nossa empresa”, diz.
Sobre equilibrar a vida pessoal com a carreira de empreendedora, Juliana esclarece que é fácil e, ao mesmo tempo, difícil. “No início, quando nós começamos, minhas filhas não tinham nascido, depois nasceram e tinha a questão de cuidar de casa, ser mãe e ainda ser empreendedora. Mas como eu tenho um empreendedorismo na veia e sinto prazer, é algo que eu amo fazer, sempre amei. Por isso, quando a gente faz o que a gente ama, dizem que a gente não trabalha nem um só dia; só que a gente trabalha, só que a gente trabalha com muito mais prazer e as coisas se tornam menos difíceis, Então, como eu amo empreender, para mim foi menos difícil por conta disso”.
IBGE: 65% das mulheres ocupadas no PI ganham até 1 salário mínimo
Um levantamento sobre o empreendedorismo feminino no Piauí com dados do 4º trimestre de 2023 revela o perfil das mulheres empreendedoras e sua evolução, com bases nas informações disponibilizadas nos micros dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os números mostram que 90,6 milhões de mulheres com 14 anos ou mais respondem pela força de trabalho feminina. No Brasil, 39,9% das mulheres ocupadas ganhavam até um salário mínimo, sendo 65,5% no Piauí.
No que diz respeito ao rendimento médio mensal, as mulheres recebiam R$ 2.562, enquanto os homens recebiam R$ 3.233; já as mulheres negras ganhavam R$ 1.957, enquanto os homens negros recebiam R$ 2.467.
VENCIMENTO POR CARGO
E quando o tema é mulheres em cargos de direção /gerência, a pesquisa mostra que elas recebiam um salário de R$ 6.672 e ganhavam 27% menos, R$ 9.183.
Sobre os direitos e proteção social, a taxa de informalidade corresponde a 37,5%, sendo 41,9% negras e 32,6% não negras. E sem contribuição previdenciária totalizam 36,2%, sendo 41,0% negras e 30,8% não negras.
Mãe abre loja de roupas e filha divulga calçados de forma online
E como diz o ditado: Família que trabalha unida, permanece sempre unida. Pelo menos é assim com as empreendedoras Meryany Silva Cardoso e Maria Eduarda Cardoso Pires. Mãe e filha moram no Centro da cidade de Timon (MA), e estão no ramo de vestuário e calçados - há quatro e um ano de mercado - respectivamente, colhendo os frutos de muito trabalho e perseverança.
Com um ponto comercial localizado na cidade maranhense, Meryany revela que passou quatro anos lutando para conquistar e hoje é seu maior orgulho, mas se inspirou no seu pai para inaugurar a loja. “Ele sempre cuidou do próprio negócio e foi uma inspiração para mim”, resume, afirmando que o maior desafio no ramo foi ser reconhecida para ter clientes, além de “migrar para o atendimento on-line foi difícil, pois requer vencer desafios, como a conquista de clientes”.
Casada e mãe de duas filhas, Meryany diz sorridente que ainda não conseguiu equilibrar a vida pessoal com a carreira de empreendedora e quanto aos obstáculos e adversidades do mundo dos negócios, ela foi bem decidida: “Colocar tudo nas mãos de Deus”.
Como trabalha com roupas em sua loja, setor esse que tem constante evolução diante de tendências e coleções, a empreendedora explica que “procuro sempre mudar de acordo com que se pede no momento”. Ela falou nunca desistiu de alcançar seus objetivos e apesar da dificuldade que enfrentou no começo, assegura que tem vaga para todo mundo no mercado de trabalho. “Dê tempo ao tempo que tudo dará certo no final. Tenha sempre força de vontade e não desisti”.
Pouco a pouco, Meryany conseguiu construir uma rede de contatos e parcerias no mundo dos negócios de forma bem modesta, mas como muita dedicação e paciência, resultando em uma mudança significativa no ramo de empreendedorismo, “podendo levar meu produto para qualquer lugar do mundo, estando em qualquer lugar. Por exemplo, a minha forma de trabalho alavanca sempre que faço parcerias pelo WhatsApp, já que faço a maior parte das minhas vendas pelo aplicativo”, comemora.
Tendo apoio da família para seguir trilhando nesse segmento de vestuário, ela fez questão de revelar os principais valores que refletem no seu empreendimento. “Meus valores maiores são minha família, pois tudo que faço são pra eles e por eles, principalmente paras minhas filhas”, simplifica.
Por sua vez Maria Cardoso revela que a inspiração por trás do seu negócio foi a própria mãe. “Ela começou a trabalhar com vendas muito cedo, aproveitando a experiência de meu avô, que tinha uma fábrica de calçados e uma loja bem localizada em Timon. Passava os finais de semana ajudando minha mãe e minhas tias nas vendas. Com o tempo meu avô precisou fechou a loja e logo depois minha mãe abriu no Shopping da Cidade de Teresina. Quando o shopping da cidade fechou devido à pandemia, minha mãe migrou para o ramo de roupas. Com alguns modelos de sandálias parados em casa, decidi começar a vender em agosto de 2023, junto com meu namorado, e estamos com a loja até hoje. Nossa loja vende papetes, sandálias e rasteiras”, explica.
Um dos maiores desafios para Maria foi manter a consistência nas postagens, “já que somos uma loja online e precisamos manter nosso compromisso com o Instagram, que é nosso principal ponto de vendas”.
E haja disposição, afinal, chega a ser um desafio conciliar sua vida pessoal com a carreira empreendedora, pois além da loja, ela estuda jornalismo na Universidade Estadual do Piauí e faz estágio na TV Meio pela manhã como produtora. Ainda preciso sempre encontrar tempo para cuidar da loja, postar os produtos e responder aos clientes.
Maria conta que seu namorado é também seu sócio na loja de calçados, e é ele que a ajuda nas estratégias do mundo dos negócios. “Procuro conversar com ele e resolver os problemas juntos. Trabalhamos em equipe para encontrar soluções eficazes”, esclarece a empreendedora que dá a dica para quem deseja iniciar seu próprio negócio: “Eu diria para correr atrás dos seus sonhos! O empreendedorismo não é fácil, mas é gratificante ver seu negócio prosperar. Seja paciente consigo mesma e não se cobre demais”, finaliza.
‘No Padrão Delas’ aborda liderança e alma feminina nos negócios
Com uma proposta inovadora, ‘No Padrão Delas’ é um programa da Boa FM, na frequência 94.1, apresentada pela empresária Jordana Guerra e que busca promover debates sobre empreendedorismo e liderança feminina. Ela argumenta que o empreendedorismo nasceu para a alma feminina porque a mulher tem características únicas, ou seja, “tem necessidades de estar com aquele cuidado, com aquele zelo, com aquele amor, criando uma cultura, criando um conhecimento do que é aquele negócio para a sociedade”, avalia.
Durante o programa, os ouvintes têm a oportunidade de conhecer os bastidores de trajetórias bem-sucedidas, explorando os desafios e conquistas de mulheres que comandam seus próprios negócios. O programa é ao vivo, todas as segundas-feiras, a partir das 20h, incentivando a participação do público, o que permitirá a Jordana Guerra receber feedback em tempo real e se manter atenta aos temas de maior interesse da audiência.
Com 17 anos de experiência no empreendedorismo, Jordana reúne em um só lugar a atuação das mulheres nos negócios e as principais tendências do setor. "Toda segunda-feira, vamos abordar o empreendedorismo feminino para todos os gêneros, pois queremos ampliar vozes e proporcionar mais espaço para as mulheres. Vamos debater questões centrais relacionadas à presença feminina no mundo dos negócios e fornecer dicas para aqueles que desejam dar os primeiros passos no empreendedorismo", afirmou Jordana.
Ela reforça a importância do programa, pois “estimula, incentiva, as pessoas acabam se identificando, principalmente as mulheres que imaginam que têm necessidades, muitas vezes únicas, e quando elas escutam as histórias de outras mulheres, elas conseguem perceber que têm muita coisa em comum, que a minha dificuldade é muito parecida com a dificuldade de outra mulher, que é muito parecida com a de outra, e que nem por isso é um impedimento para se iniciar o índice”, observa a apresentadora.