Conforme as aulas vão voltando e as férias acabando, é normal que alguns pais tenham a percepção de que os filhos apresentem um desempenho escolar abaixo do esperado, atribuindo a isso uma falta de atenção ou de disciplina. Entretanto, o problema pode não ser o comportamento da criança, mas sim possíveis problemas na visão não identificados, que podem atrapalhar bastante a vida escolar. Problemas na visão podem surgir bem cedo, mas nem sempre as crianças vão identificar que isso está prejudicando.
Para o médico oftalmologista David Kirsch esperar que a própria criança indique que não está enxergando bem é um erro. “Não podemos esperar que a criança reclame que está tendo dificuldade para enxergar. Primeiro, porque ela não sabe que o jeito dela enxergar é diferente dos outros, ela acha que aquilo que ela enxerga é o normal. E, às vezes, temos crianças com problema em um olho, não nos dois, algo muito difícil de se perceber. Tudo isso torna mais que necessária a realização de exames de rotina”, afirmou.
Outro ponto que pode prejudicar a visão dos pequenos é o estímulo incompleto das vias ópticas, que permanecem em formação nos primeiros anos de vida. O médico do Vilar aponta que, sem a realização de exames preventivos, é extremamente difícil perceber algum problema nessa formação antes que ele seja irreversível. “Nosso olho não nasce completamente formado. Ele vai se desenvolvendo até os cinco ou seis anos de idade, com a formação das vias ópticas. Caso alguma coisa atrapalhe a imagem de chegar nos dois olhos, o cérebro não vai receber esse estímulo corretamente e não vai evoluir as vias ópticas”, explica o especialista.
Além disso, o médico também observa que “a essa alteração damos o nome de ‘ambliopia’, que só conseguimos tratar até, no máximo, os sete anos de idade. Depois disso, o que se formou é para o resto da vida e o que não se formou também”, alertou David Kirsch.
Epidemia de miopia
Um dos principais problemas na visão que afetam as crianças é a miopia, que é a dificuldade em se enxergar objetos distantes. Segundo o Dr. David Kirsch, a exposição a telas em demasiado e redução nas atividades ao ar livre podem levar ao desenvolvimento do distúrbio visual. “A miopia é a doença oftalmológica mais comum no mundo todo. Até 2050, se acredita que metade da população vai ser míope, e, dessa metade, 10% vai apresentar alta miopia, que são miopias acima de 5 graus, o que aumenta o risco de doenças muito graves, como descolamento de retina, maculopatia miópica, catarata e glaucoma”, detalha o oftalmologista.
Ele acrescenta que esse distúrbio na visão tem crescido muito no mundo todo, fruto de hábitos como o uso excessivo de eletrônicos e poucas atividades ao ar livre. O Dr. David Kirsch recomenda, contudo, que as escolas aumentem as atividades ao ar livre, estimulando os alunos tanto no ambiente escolar quanto em casa, evitando assim o uso de eletrônicos, como tablets e celulares, em sala de aula.
David ainda defendeu a realização de consultas e exames periódicos, tanto para crianças como para os adultos, seguindo a recomendação da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBPO). “Por isso é importante um diagnóstico precoce em crianças e não ficar esperando reclamação da criança. A SBPO preconiza uma primeira consulta entre seis meses e um ano de idade e depois com retornos anuais para avaliação de rotina”, pontuou.