O procurador federal Georgino Melo e Silva escreveu um artigo para homenagear o jurista Celso Barros Coelho, que faleceu, aos 101 anos, na última segunda-feira (10), em Teresina. Confira abaixo:
PROFESSOR CELSO BARROS COELHO
No mundo em que vivemos, onde o que vemos é uma infinita fração do que existe, volta à Casa do Pai um dos homens que, com sua visão de estadista, jurista e professor, ajudou a forjar a grandeza do glorioso Piauí, o notável brasileiro Celso Barros Coelho. Ele era um homem de elevado espírito público, tinha orgulho de suas raízes maranhenses e era apaixonado pelo Piauí. Dotado de sólida formação humanística e de incomparável erudição, o Professor Celso Barros era um otimista da melhor cepa, jamais admitia falar de pessimismo, e seu mote era o desenvolvimento do Brasil. O seu talento de jurista e de admirável polígrafo iluminou o Congresso Nacional, onde se destacou pela força de seu verbo e como um dos coautores do Código Civil.
Celso Barros Coelho era um ser virtuoso e de alma generosa. Ele tinha o dom da persistência num mundo de desistências; coerência na era dos ziguezagues; lealdade num tempo de velhas e novas alianças; convicções profundas reagindo à futilidade dos ventos erráticos de cada conjuntura. Desse solo ético brotou a reconhecida capacidade intelectual e política deste brasileiro que viveu mais de um século.
Quando tive o privilégio de residir em Teresina , nos idos de 1989, fui apresentado ao Dr. Celso. A sua convivência era uma lição de vida. Sabendo de minhas origens portuguesas e maranhenses, foi logo recitando um poema de Camões e uma redondilha de Gonçalves Dias, como cultor da Língua Portuguesa. Ele gostava e era apreciador da grande literatura; sabia de cor poemas de Da Costa e Silva, Augusto dos Anjos; costumava citar trechos dos Sermões do Padre Antônio Vieira.
Foi um grande privilégio conviver com o Professor Celso, pois ele seguiu a trajetória e a linhagem de uma elite culta que conjugou o progresso com os interesses nacionais. Era um homem de fino trato, culto, elegante, dotado de prodigiosa memória. Tinha o domínio da palavra e o ritmo envolvente da narrativa. A morte do dr. Celso Barros subtraiu do Piauí um homem que soube cumprir o seu mister com arte e muito talento. Trazia dentro de si uma aura peculiar e um magnetismo que contagiava a todos. Sua história é de integridade, dignidade, amor ao próximo e defesa intransigente dos valores mais altos do Piauí. Não morre com ele somente o polígrafo e o político, mas um pedaço da cidade, um pedaço do Pìauí, uma substância dinâmica da vida do Estado.