Advogado propõe que suspeito preso aceite delação premiada

Defesa está tentando revogar a prisão de Fábio Raposo

Suspeito foi indiciado por coautoria de dois crimes e está preso | Reprodução
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A defesa de Fábio Raposo, suspeito de ter passado para outro manifestante o rojão que feriu o cinegrafista da TV Bandeirantes durante um protesto, disse neste domingo (9), na 17º DP (São Cristóvão), na Zona Norte do Rio, que estava tentando revogar a prisão do suspeito. O advogado Jonas Tadeu Nunes falou ainda que estavam conversando com o manifestantante para convencê-lo da possibilidade de aceitar a delação premiada. Fábio Raposo foi preso na manhã deste domingo no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste. O tatuador foi localizado na casa dos pais.

?Eu ainda não tenho conhecimento pleno do inquérito. Estou conversando com o Fábio e a gente está tentando uma solução para revogar esta custódia que foi deferida a pedido do delegado. É uma questão ainda de sigilo. Eu gostaria de conversar primeiro com a autoridade policial para chegarmos a uma conclusão", afirmou o advogado.

"Primeiro, eu quero concluir este trabalho com o delegado. Nós estamos trancados, conversando com o Fábio para convencê-lo ao instituto da delação premiada. Está um pouco relutante, mas vamos chegar a isso?, acrescentou Jonas Tadeu Nunes.

O advogado falou ainda que, apesar de tentar convencer o suspeito a aceitar a delação premiada, ainda não podia confirmar que Raposo conhece o homem que teria acendido o rojão no protesto.

Além de tatuador, Fábio Raposo disse que estuda contabilidade, mas não estava frequentando nenhum curso.

Prisão

Preso na manhã deste domingo (9), Fábio Raposo Barbosa, de 22 anos, admitiu ter repassado um artefato para outro manifestante pouco antes de o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, de 49 anos, ser atingido durante protesto.

Depois da prisão, o suspeito foi levado para a 17º DP (São Cristóvão). Ele chegou ao local por volta das 9h55 na companhia do delegado.

O cinegrafista Santiago Andrade foi ferido em ato contra o aumento das passagens de ônibus, quinta-feira (6), perto da Central do Brasil. Atingido na cabeça, ele teve afundamento de crânio e segue internado em coma, em estado grave.

No sábado (8), Fábio foi indiciado pela polícia como coautor dos crimes de explosão e tentativa de homicídio qualificado. Um segundo homem, suspeito de jogar o artefato, ainda estava sendo procurado pela polícia na manhã deste domingo.

"Nosso principal objetivo é identificar o elemento que efetivamente deflagrou o artefato que atingiu o Santiago. Nas imagens, ele [Fábio Raposo] repassa o petardo para aquele que deflagrou. O fotógrafo do jornal O Globo que presenciou [o momento] vai poder dizer se o Fábio tentou acender ou não", disse o delegado Maurício Luciano, durante coletiva no sábado. Ele afirmou, ainda, acreditar que o depoimento dado pelo tatuador na madrugada deste sábado é "inverossímil".

"Ele estava extremamente nervoso, gaguejando. Ele diz que não conhece o outro e as imagens mostram que eles tinham uma certa intimidade. Tudo que ele falou não se coaduna com as imagens", completou o delegado.

Investigação

A Polícia Civil está analisando as imagens do Comando Militar do Leste, da CET- Rio, da Supervia, da BBC, da TV Brasil e as do próprio Santiago para tentar identificar o rapaz.

José Pedro Costa, diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital, também esteve na coletiva de sábado. "A gente acredita que ele [Fábio Raposo] é partícipe. Quando ele entrega o artefato, ele sabe que vai ser deflagrado, por isso ele está sendo tratado como coautor", explicou o delegado titular.

Detido outras vezes

Fábio Raposo já esteve detido duas vezes, sempre por algo ligado às manifestações, segundo a polícia. Uma delas foi registrada na 5 ª DP (Mem de Sá) no dia 7 de outubro de 2013. Na ocasião, o tatuador foi fichado pelos crimes de dano ao patrimônio público e associação criminosa.

Em uma outra ocorrência, registrada no dia 22 de novembro de 2013 na 14ª DP (Leblon), Raposo foi autuado pelo crime de ameaça.

Ligação com black blocs

Segundo o delegado, não é possível dizer ainda que os suspeitos são black blocs. ?Eles não estavam com uma vestimenta característica dos black blocs. Ambos estavam de camiseta cinza. A gente está vendo nas imagens se eles já estavam caminhando juntos antes de provocarem esse crime.?

O delegado contou, ainda, que Raposo diz não ter relação com nenhum grupo ideológico. ?A gente não pode taxá-lo de black bloc. A gente vai fazer uma investigação em redes sociais ouvindo pessoas para ver se ele realmente integra essa organização.?

O delegado pedirá também auxílio da DRCI para saber se há a possibilidade de investigar trocas de mensagens de Raposo através do Facebook e então chegar ao autor da deflagração do explosivo que atingiu o cinegrafista.

"Meu nome é Fábio. Eu estava ontem [quinta-feira] na manifestação contra o aumento das passagens. Sim, era eu. As fotos que foram apresentadas nas mídias era eu, sim. Eu era o [homem] de camisa, bermuda e tênis, com as tatuagens, era eu, sim. Era eu passando o artefato para o outro indivíduo, mas o artefato não era meu, eu quero deixar isso bem claro. O artefato não era meu", afirmou o suspeito, que tem a panturrilha tatuada.

"Logo que eu cheguei, houve um corre-corre. Fui até lá para ver o que tinha acontecido. Estava tendo um confronto entre manifestantes e alguns policiais militares. Daí, jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo próximo a mim. Eu coloquei a minha máscara de gás, que é mais para minha proteção mesmo, porque machuca o peito e arde o rosto, e foi isso. Eu cheguei, fui até lá, vi que estava tendo um confronto entre a polícia e os manifestantes. Nesse corre-corre, vi que um rapaz correndo deixou uma bomba cair. Uma bomba, não sei o que é, um negócio preto assim. Daí, eu peguei e fiquei com ela na mão. Esse outro cara veio e falou para mim: "Passa aí para mim, que eu vou e jogo. Eu vou e jogo". Eu peguei e passei para ele. Foi só isso mesmo", disse Raposo.

Ele ressalta que participa de manifestações forma pacífica. "Eu em momento algum vou para as manifestações para quebrar as coisas e bater em policial, jogar pedra, não sei. É isso. Não fui eu, eu não tive a intenção de machucar nenhum repórter", afirmou.

O manifestante afirmou ter ficado assustado com a repercussão do caso e disse que foi pressionado a admitir a participação. "Só estou vindo aqui mesmo porque estou assustado demais. A minha foto foi divulgada até em mídias internacionais. Já recebi ligações de pessoas desconhecidas, não sei se são grupos ou o que são, pedindo para eu assumir o caso e falar que fui eu, tentando me obrigar. É isso. Não fui eu mesmo. Eu quero o bem do repórter que está em coma, a família dele, tudo. Não sei o que falar, mas é isso. Melhoras, cara", disse o rapaz.

Raposo garantiu que não conhece o homem que pegou o artefato e o viu somente na manifestação. "Ele era um cara alto, chamava bastante atenção. Ele estava com uma camisa na cara, preta. Ele chamava bastante atenção, mas não tenho ideia de quem seja. Eu fui sozinho na manifestação", revelou.

"Foi um acaso mesmo, de ver o negócio no chão, pegar para tentar devolver, achando que era algum pertence de alguém, mas infelizmente era uma bomba e ele acendeu de uma forma que foi em cima do repórter", contou o rapaz, dizendo acreditar que o manifestante que acendeu o rojão não teve intenção de ferir o cinegrafista. "Acredito que ele não tenha feito por mal. Acredito que foi um acaso de ele estar filmando, os cinegrafistas ficam no meio do fogo cruzado."

O suspeito afirmou que sabe que o estado do cinegrafista é grave. "Eu estou torcendo para ele sair dessa, foi algo surreal, que não deve acontecer nunca, não pode acontecer mais. Os repórteres devem se respeitados. Eles têm o direito de estar ali, como os manifestantes também têm. Acho que ele vai sair dessa, torço para ele sair dessa", destacou.

Sobre o manifestante que acendeu o rojão, Raposo disse achar que ele vai arcar com as consequências "de ter ido lá, de ter acendido e ter pego em um repórter inocente que não tem nada a ver com esse clima, com essa tensão, entre polícia e manifestante".

Imagens gravadas

Imagens feitas pela TV Brasil mostram, à direita do vídeo, a dupla de manifestantes caminhando. Os dois têm um pano amarrado no rosto. O rapaz da direita veste calça jeans e uma camisa cinza bastante suada. À esquerda dele, está um manifestante mais baixo, também com camiseta cinza, mas de bermuda preta. Ele tem uma tatuagem grande na panturrilha esquerda. Na sequência do vídeo, o rapaz de bermuda parece passar algo para o outro, mas não é possível identificar o quê. Os dois então se misturam a um grupo maior.

Ao fundo da imagem, aparece o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, vestindo uma camiseta vermelha e com a câmera no ombro. Enquanto isso, no canto direito, está o homem de camiseta cinza suada e calça jeans. A gravação termina logo depois, no momento em que o rapaz parece se abaixar.

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