A Polícia Civil da Bahia está em crise. Dos 417 municípios baianos 135 estão sem delegado, ou seja, em uma de cada quatro cidades não há delegado. Tem lugares no interior do estado em que o delegado só aparece uma vez por semana, e às 18h o expediente está encerrado. Todo mundo vai para casa. Em Encruzilhada, uma agente é suspeita de namorar um preso e usar a cela para fazer visita íntima.
Em alguns municípios, as ruas estão desertas e moradores estão assustados. Itatim, na Chapada Diamantina, de 15 mil habitantes, está dominada pela violência imposta por assaltantes de cargas e traficantes de drogas. ?Na minha família mataram três e os criminosos estão soltos. Ninguém fez nada?, afirma a dona-de-casa Roquelina Ferreira.
O delegado só aparece uma vez por semana. O único policial que responde pela delegacia conta sobre o expediente. ?A gente sai ao meio-dia e retorna às 14h. São duas horas para o almoço. À noite fica até às 18h?, afirma o agente Martinho Cassemiro.
Há delegacias sem a menor estrutura. Em Irajuba não tem nem identificação na fachada. É uma casa cheia de infiltrações, onde os móveis são duas carteiras escolares. Antônio Reny Damasceno foi contratado para entregar intimações, mas exerce outras funções. Ele disse que não é policial, não entende nada de polícia e diz que faz investigações.
Em várias cidades as viaturas não saem do lugar, não fazem diligências se a prefeitura não fornece o combustível, dizem os policiais. É tanta precariedade que falta segurança até nas carceragens. Uma fica a menos de dois metros da rua, e a porta está sempre aberta para quem quiser ver como as celas são frágeis.
Dos 417 municípios baianos, 135 estão sem delegado. E a ausência deles estaria motivando outras ocorrências tão graves quanto à falta de segurança. Há casos em que a intimidade nas relações entre policiais e bandidos anda ultrapassando todos os limites, como a suspeita de que uma agente da polícia civil namorou um preso dentro da cela. Aconteceu na delegacia de Encruzilhada, sudoeste da Bahia.
Visita íntima
Cleber Bispo responde por homicídio qualificado, mas das quatro celas que abrigam os outros 32 presos, uma era só para ele. Segundo ele, ?presente? da agente Rita Vieira da Silva. ?Nosso relacionamento de amizade é mesmo forte, tanto com a família quanto comigo. E é uma pessoa maravilhosa?, diz Rita.
Uma amizade que o carcereiro Elenilton Rocha confirmou. ?A cela era aberta 24 horas. A única pessoa que tinha visita íntima era ele?, afirma Rocha.
Um inquérito administrativo foi aberto para apurar as denúncias contra Rita. As investigações vão revelar também se Cleber é o pai do filho caçula dela, que nasceu há um ano. Ao ser perguntada sobre quem é o pai da criança ela preferiu não responder. ?Meu filho é meu filho?, afirmou diz.
Cléber, condenado a 12 anos de prisão, perdeu todas as regalias depois da nomeação de um delegado, que duas vezes na semana dá plantão na delegacia de Encruzilhada.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP/BA), César Nunes, reconhece as deficiências, mas diz que o governo estadual tem planos para amenizar o problema. ?A Secretaria de Segurança Pública vem recompondo os efetivos policiais. Policiais não se formam da noite para o dia. Um concurso mais longo é um concurso que requer várias etapas. E os números que nós temos hoje já mostram que esse trabalho está trazendo um efeito positivo, porque já temos uma diminuição significativa nos índices de violência em todo o estado?, diz.