Após ser espancado, jovem tem medo de sair de casa

Duas semanas após ingressar em outra escola, ele continua temeroso de sair às ruas

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O medo já não paralisa como antes, mas o adolescente de 15 anos que trocou de colégio para escapar das agressões teme caminhar sozinho pelas ruas de Ijuí, no noroeste do Rio Grande do Sul. Ele quase não sai de casa, consome as horas jogando videogame, aprendendo a usar o computador ou assistindo à TV.

O estudante é mais uma das vítimas do bullying. Ao ingressar na Escola Técnica Estadual 25 de Julho, em Ijuí, sonhava conquistar uma profissão. Depois de ser espancado ? e ver a surra gravada em vídeo ?, decidiu abandonar o colégio.

Duas semanas após ingressar em outra escola, ele continua temeroso de sair às ruas. Quando se anima, limita-se a pequenas voltas no bairro onde mora ou vai escoltado na motocicleta da mãe, uma doméstica de 32 anos.

O adolescente revela ter escutado rumores de violência já nas primeiras semanas na Escola 25 de Julho. Conta que ?desviava o olhar? do grupo que estaria afrontando os estudantes e silenciava sobre o assunto em casa.

"Tinha medo que a minha mãe falasse com o diretor. Depois eles poderiam vir para cima de mim", diz.

Comparecia às aulas angustiado. As notas do boletim despencaram. No início do segundo semestre, passou a ser intimidado sem motivo. Relata que alguns alunos, com a ajuda de parceiros de fora, costumavam atacar na saída da escola. Batiam, roubavam objetos e ainda gravavam vídeos, depois exibidos por celulares.

"Chamavam de playboyzinho, fraco. Diziam que não era para olhar para trás. Fui ficando com mais medo."

Em 9 de outubro, as apreensões se confirmaram. Às 17h30, na saída da escola, foi abordado por oito rapazes. Sofreu pontapés, socos, até uma voadora, mas teve sorte: apenas um arranhão embaixo de olho.

A mãe foi à escola conversar com o diretor, Raimar Kuhn. Ao informar-se com outros estudantes, alarmou-se. "Uma turma fica do lado de fora, na frente do colégio, sem fazer nada, só esperando os alunos saírem."

A partir de então, a mãe e o pai, um metalúrgico de 34 anos, resolveram que o filho, de 1,77 m e 58 kg, deixaria a escola. A certeza se robusteceu no dia 20, quando uma mensagem de vídeo, enviada para o celular do adolescente, mostrava as agressões. Foi aí que a mãe tirou férias de 30 dias para se dedicar ao garoto.

A mãe diz que não consegue mais dormir tranquila. Leva e busca o filho de moto na nova escola. "Nossa vida virou do avesso." O adolescente se acalmou, mas diz que não pretende ser visto em locais públicos de Ijuí por algum tempo.

Fora do horário de aula

O diretor da Escola Técnica Estadual 25 de Julho, Raimar Kuhn, afirma que o episódio foi fora do horário de aula. "Somos uma escola reconhecida pelos cursos técnicos que temos, com cerca de 2,3 mil alunos. Não sabemos o que aconteceu no caso da agressão a esse garoto. Foi fora do horário de aula."

Segundo ele, há um grupo de garotos que fica na frente da escola e, quando a direção do colégio desconfia de algo, a Brigada Militar é acionada. "No total, temos 25 câmeras de vigilância no colégio, e não há registro de confusões. Os alunos, inclusive, são orientados a nos procurar sempre que se sentirem ameaçados dentro do ambiente escolar. Mas, por enquanto, não nos chegaram relatos disso", afirmou.

A Brigada Militar afima que não foi informada sobre o caso. "Temos uma patrulha escolar que percorre as escolas, para evitar problemas na entrada e saída de alunos. Nesse caso do menino, não fomos informados de nada. Se tivéssemos sido avisados, tomaríamos providências", disse o major Tomás Jacson Trindade Lopes, comandante da Brigada Militar em Ijuí.

A delegada Eliana Parahyba Lopes informou que um procedimento criminal foi instaurado. "Vamos falar com a mãe e o menino, tentar identificar as pessoas na filmagem. Se houver o número de quem enviou o vídeo, pediremos quebra do sigilo telefônico."

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